Professoras Desesperadas

Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar.


Professores são a última resistência às novas tecnologias nas escolas

A presença das novas tecnologias nas escolas portuguesas é uma realidade inquestionável. Um computador por cada 13 alunos do ensino básico e secundário, e acesso generalizado à Internet por banda larga, garante o Ministério da Educação. O problema, concordam professores e pedagogos, está na utilização que lhes é dada: pelos alunos, que muitas vezes se limitam a copiar conteúdos de forma acrítica, mas também pelos professores, uma classe envelhecida e ainda com muitas resistências à inovação tecnológica.
É por isso que aplicar a Internet como ferramenta de trabalho na escola exige "ousadia, criatividade, insistência, novidade, mas, principalmente, muita paciência". Foi o que mobilizou Jacinta Paiva, professora de Biologia da Escola Secundária Dr. João Lopes de Morais, em Mortágua, a constituir o "Projecto Emailice" (e-mail na comunidade educativa). O trabalho decorreu durante os anos lectivos 2004/2005 e 2005/2006 e envolveu três turmas do 3.º ciclo de uma escola de Coimbra. O objectivo: usar o e-mail como plataforma de comunicação regular entre alunos, professores e pais.
Os resultados foram exemplares. Pais e professores não conseguiram adaptar-se com o mesmo à-vontade que os alunos. "Nem tudo correu como pensávamos", reconhece Jacinta Paiva ao concluir que a relação escola-professores-pais "revelou-se difícil e algo reactiva à inovação". Já entre os alunos, a experiência concretizou-se com "entusiasmo e eficácia". Uma das turmas envolvidas vai mesmo continuar o projecto no ano lectivo que agora começa.
O problema dos alunos está no uso da Internet. Os chats, o messenger e os jogos são os ambientes em que mais se sentem à vontade. Mas perante a elaboração de uma pesquisa para um trabalho curricular "não têm critério para seleccionar", constata Teresa Caetano, professora de Português e Inglês na escola de Ferreira do Alentejo. "Têm acesso a toda a informação, mas não a sabem digerir", acrescenta a docente. "Não são críticos em relação às matérias que encontram", para além de não terem "qualquer noção sobre a propriedade intelectual da informação." Com frequência, "estas más buscas resultam em trabalhos muito extensos, copiados e repetidos".
A questão está em saber como se combatem os maus hábitos. Para Clarinda Chambel, professora de Português na Escola Secundária Lima de Freitas, Setúbal, acompanhar o processo de investigação na Internet é fundamental, "dando indicações bibliográficas e de sites a consultar". Quando desconfia de um copy-paste, devolve os trabalhos.
Todos recordam o tempo de estudantes em que se usava as enciclopédias como ferramenta de "cópia". Hoje, os alunos "têm a papinha toda feita", afirma a professora, porque a Internet permite chegar a toda a informação com uma só busca. O problema, "se calhar, não é da Internet, mas da forma como se ensina a elaborar os trabalhos," acrescenta. Opinião corroborada por José Manuel Canavarro, psicólogo e pedagogo, considerando que "estas ferramentas criam uma facilidade de acesso à informação que pode levar à cópia e ao plágio". Porém, ressalva, "não se deve dizer 'não usem', mas sim, 'usem-na devidamente'".
Apesar dos números da tutela, a falta de equipamento informático nas escolas continua a fazer parte das queixas dos professores. Como Telma Rendo, docente de Inglês da Escola Básica Paula Vicente. "Não temos um computador em cada sala" e por isso "ficamos limitados, porque a falta de recursos inibe a utilização dos meios", observa. E o "desfasamento entre os conhecimentos dos alunos e dos professores também não ajuda", reconhece.
Mas "os professores, que têm que ter algumas certezas, não têm que ser detentores de saber absoluto", acrescenta Jacinta Paiva, a responsável do Emailice. Até porque "gostaria de ver os meus alunos como parceiros" e não como concorrentes.
O projecto Trás-os-Montes Digital-SCETAD, patrocinado pelo Ministério da Ciência e da Tecnologia, está em marcha desde 2000 e pretende promover a familiarização da comunidade escolar do 1.º ciclo com as novas tecnologias. Precisamente o nível de ensino com uma classe profissional mais envelhecida.
Através deste projecto, foram distribuídos equipamentos, software e formação. Seis anos depois, "vencida a parte tecnológica, resta o mais difícil, que é aprender a usá-la como ferramenta educativa", resumem Manuel Cabral e Gina Santos, responsáveis por esta acção.
Curioso, para estes investigadores, foi constatar que "quanto mais isolados estão [alunos e professores] maior é a aceitação" e a utilização. Porque "o isolamento leva à necessidade de comunicar", observa Gina Santos. "Nas escolas mais pequenas e isoladas, a Internet ajuda a quebrar barreiras de espaço e tempo."

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