Professoras Desesperadas

Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar.


No ano lectivo que agora começa, há 3, 7 milhões de euros para gastar em acções de formação contínua de professores do ensino básico e secundário na área das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC). Uma verba garantida por fundos comunitários através do Programa de Desenvolvimento Educativo para Portugal (Prodep III).
Contas feitas, desde o início do terceiro Quadro Comunitário de Apoio, em 2000, o Prodep III já permitiu realizar 8552 acções de formação em TIC, às quais acrescem outras 3394 acções com módulos dedicados às novas tecnologias. Para 2006/2007 estão previstas mais 1121 turmas de professores. Um esforço de investimento contra a info-exclusão dos docentes que, garante quem está no terreno, "ainda tem de continuar por alguns anos."
"Porque falamos de uma classe profissional muito envelhecida e ainda com grandes resistências", explica Jorge Nascimento, porta-voz da rede de Centros de Formação da Associação de Escolas (CFAE), estruturas que asseguram a esmagadora maioria da formação contínua dada a professores em Portugal.
E a realidade é muito díspar, caracteriza: "temos professores que usam quadros interactivos nas suas aulas e ainda temos outros que tremem só de tocar num teclado."
A luta é antiga e os resultados demoram. "Há anos que desenvolvemos um trabalho fundamental na recuperação de professores, sobretudo do 1º ciclo," explica Jorge Nascimento. E "não foi há muito tempo que ainda encontrávamos salas de aula com os computadores tal e qual como foram desempacotados, com um pano em cima para não se estragarem. Falamos de professores com décadas de carreira que simplesmente não sabiam o que fazer àquele material".
Desde o início de 2005, toda a formação em TIC é certificada pela Equipa de Missão Computadores, Redes e Internet na Escola (CRIE). E para este ano, explica João Correia de Freitas, responsável pela Equipa de Missão, foi pensado um conjunto de acções mais abrangente que inclui a vertente das "TIC no ensino na aprendizagem das disciplinas".
Proposta que vai de encontro aos anseios da professora Jacinta Paiva, do projecto Emailice (ver texto principal), quando reclama que "as formações deveriam ser mais dirigidas à docência da disciplina que os professores leccionam". Porque, até agora, "a formação esteve muito generalista e global, o que ajuda pouco".
"É uma mudança que vai ocorrer devagar, mas vamos lá chegar" vaticina. O ideal era dividir a tarefa em três passos: "formação de professora, acções adequadas à aplicação na disciplina e a existência de coordenadores nas escolas que possam ajudar nas dúvidas mais técnicas."
As escolas vão ter que se repensar e perceber o que realmente precisam, "o que pressupõe uma forma de estar no ensino que não estamos habituados", conclui a docente.
Já o representante dos CFAE reclama que, "neste momento, um dos problemas da formação de professores é precisamente a total dependência dos fundos comunitários e do Prodep. Estamos em tempo de mudança de quadro comunitário e ainda ninguém sabe que fundos haverá para prosseguir este trabalho".
No entanto, o Ministério da Educação já dotou as direcções regionais com call-centers para orientar as escolas e preparam cursos de formação para professores que queiram melhorar os seus conhecimentos, uma vez que estas acções vivem "em regime de voluntariado", explica João Correia de Freitas.
Em cada escola será também criada a figura do coordenador com responsabilidade de analisar e propor iniciativas que visem a melhor integração e utilização das TIC e fazer a gestão dos equipamentos. Regra geral, deve ser um funcionário da própria escola. Cabe-lhe promover o uso transversal das TIC, envolvendo as diferentes áreas curriculares, e encaminhar professores e alunos para acções de formação. Para o ajudar neste trabalho, poderá organizar uma equipa de professores, pessoal auxiliar e até alunos com aptidões para a matéria, que irão servir de monitores dos colegas.

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