Professoras Desesperadas

Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar.



A antecipada pressão do futuro, profissional e salarial, tende a eliminar etapas na cabeça dos candidatos ao Ensino Superior. Mesmo nos que possuem elevadas médias de acesso - sobretudo nos que as possuem. Será o caso de um grupo de um universo de 88 alunos do 11.º ano, que ontem iniciou o curso de Verão na Escola de Saúde, no âmbito da Universidade Júnior, promovida pela Academia do Porto. Todos têm uma média superior a 17 valores; todos querem "uma profissão com saída". E, actualmente, a Medicina parece ser a única capaz de lhes responder à ambição.
"Têm um discurso muito racional; muito pouco romântico, o que é assustador em miúdos de 17 anos", surpreende-se Raquel Seruca, investigadora no Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP) e coordenadora científica do projecto. "Estão demasiadamente preocupados com a carreira, com a sua vertente economicista e muito pouco disponíveis para se fascinarem". Este excesso de zelo tem uma desvantagem imediata, avisa Filipe Santos Silva, o outro coordenador "A originalidade realiza-se a partir do rompimento do equilíbrio. Se ele não é rompido, a criatividade esvai-se. E a ciência tem muito a ver com a singularidade do olhar. O que faz a diferença não são as máquinas, iguais em quase todo o mundo; é o factor humano. É gostar-se realmente do que se faz".
O maior desafio do curso será, por isso, mais do que ensinar "o rigor da ciência e o método científico", tentar incutir-lhes "o prazer de se fascinarem, de descobrirem coisas novas". A estratégia começou logo no primeiro almoço colectivo. Um piquenique no jardim da Cordoaria, na Baixa da cidade, com uma ementa previamente definida por um nutricionista. "Não havia bolos. Havia iogurtes, fruta e pão. Expliquei-lhes que estavam a comer ciência", recorda Raquel Seruca, pouco segura de que os alunos tenham deglutido a mensagem. Aliás, torna Filipe Santos Silva, "um dos problemas que se verifica cada vez mais nos miúdos é a incapacidade de reagirem a uma provocação. Estão demasiado formatados", insiste. De qualquer forma, o encontro gastronómico serviu o objectivo simbólico "Devolver pessoas ao centro da cidade". O grupo de alunos agradece, mas está mais concentrado no leque de alternativas que a área da saúde possa oferecer-lhes. Até porque muitos deles reconhecem a falta de vocação para a Medicina clássica, "para ver sangue e atender pacientes". Aliás, esse será outro dos objectivos do curso: "Mostrar- -lhes que há, dentro da Medicina, muitas opções para lá da própria Medicina; que a saúde é produzida por várias disciplinas, desde a Pintura à Comunicação e à Engenharia". Esta terá sido, de resto, a lição que ontem mais os influenciou, como demonstra Nuno Mafra, de Aveiro, 17 anos: "Não gosto de Medicina, mas quero trabalhar na área da saúde. Inscrevi-me no curso, entre outras coisas, para ficar esclarecido em relação ao sítio onde poderei estar daqui a um ano". Aparentemente, já leva soluções. Poderá optar pela investigação, por Farmácia, por Bioquímica ou por Microbiologia. O primeiro dia iluminou também Teresa Correia, aluna de 18,5 valores de média. "Tive imensas dúvidas no Secundário em relação à hipótese de seguir Medicina", confessa. Apesar disso, inscreveu-se num instituto de espanhol para o caso de precisar matricular-se numa universidade do país vizinho. Ontem, percebeu que a investigação, "que sempre deixara em aberto", a entusiasma. "Uma opção que não passava de uma hipótese remota pode, afinal, ser a minha primeira opção. Adorei o que vi aqui".

"Gosto mesmo é de Matemática"
Tatiana Clemêncio
16 anos, Aveiro
Se o mercado de trabalho não interferisse nas escolhas a fazer antes de entrar na universidade, Tatiana, 18,5 de média, não tinha dúvidas. "Escolhia Matemática. É o que eu gosto mesmo de fazer", afirma, seguríssima. Gostava de ser professora, mas isso, garante, "seria desemprego certo". Por isso, tentará aplicar as equações, que tantas dores de cabeça diz darem aos colegas, à Medicina. "Inscrevi-me neste curso de saúde para perceber se gosto. Os meus pais dizem que, devido à média que tenho, poderia optar por Medicina, e depois de estar aqui já percebi que a Matemática tem um papel importante na genética e na investigação". A Matemática não só não fica esquecida como - salvaguarda - pode "sempre cumprir uma segunda licenciatura".

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