Professoras Desesperadas

Incerteza é a palavra de ordem. A menos de uma semana do arranque do ano lectivo, nem o Ministério da Educação nem a Associação Nacional de Municípios (ANMP) divulgaram ainda quantas escolas do 1.º ciclo vão fechar, das 1460 que foram sinalizadas para esse efeito. Há pais que ainda nem sabem em que estabelecimento vão estudar os filhos. Mas as dúvidas não se ficam por aí: refeições, transporte, qualidade das escolas de acolhimento, muito está ainda por esclarecer.
"A ministra está a jogar o jogo do silêncio", acusa o presidente da Federação Regional de Lisboa das Associações de Pais (Ferlap), António Castela. "A informação que tentámos recolher foi-nos sempre sonegada. O director-regional de Educação de Lisboa disse-nos que a ministra não queria dar essa informação", acrescenta. Resultado: "Muitos pais não sabem onde vão deixar os filhos no primeiro dia de aulas."
Numa reunião com Maria de Lurdes Rodrigues a 21 de Agosto, Emília Bigote, da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), garante ter ouvido a ministra dizer que "o despacho com a lista final de escolas a encerrar estaria para sair". Até hoje nada. "A preocupação é nacional, muitos pais não sabem o que vai acontecer com os seus filhos", diz.
Francisco Almeida, do Sindicato dos Professores da Região Centro (SPRC), admite que "cerca de uma centena" das 1460 escolas sinalizadas -por terem menos de 20 alunos, maus resultados ou falta de condições - vão acabar por manter as portas abertas pelo menos mais um ano. Nalguns casos, "porque os munícipes rejeitaram a medida"; noutros, porque não foi possível encontrar uma alternativa entre as 800 "escolas de acolhimento", muitas delas ainda à espera das prometidas obras.
Porém, para o sindicalista, o verdadeiro motivo de preocupação são muitas escolas onde o fecho está garantido, mas as alternativas nem por isso. "Não há neste momento refeições para a maioria das crianças deslocadas", acusa. Além disso, acrescenta, "as autarquias do Norte e Centro não têm transportes escolares, têm transportes públicos", pelo que "as deslocações destes alunos, alguns com seis anos de idade, vão ser feitas em transportes que não oferecem as mínimas condições de conforto".
Dúvidas e acusações que ficam para já sem resposta. Apesar dos insistentes esforços do DN, não foi possível até à data obter informações junto da Associação Nacional de Municípios. Quanto ao ministério, remete a lista de encerramentos e um ponto de situação para "15 ou 16 de Setembro.

Alunos... a mais
O DN contactou duas autarquias nortenhas, e deparou-se com algumas notícias animadoras, mas também situações no mínimo invulgares.
No concelho de Aguiar da Beira (distrito da Guarda), a falta de alunos motivou o encerramento de 14 escolas. Das sete que sobraram, muitos "deslocados" foram inscritos na EB1 da vila...que acabou por exceder a sua lotação de 100 estudantes.
"Houve uma escola que encerrou em que estava previsto os alunos irem para outra aldeia, mas insistiram em vir para a vila", explicou ao DN o presidente da Câmara de Aguiar da Beira, Augusto Fernando Andrade."Mas não é grave", completou. "A escola está no limite, mas vai funcionar sem problemas."
"A sensibilidade das populações" foi também uma questão sensível em Castro Daire (Viseu), onde fecharam nada menos de 27 estabelecimentos. Sobretudo porque nem sempre foi fácil justificar a mudança: "Capacidade, as escolas que vão acolher têm", considerou o vice-presidente da Câmara, António Oliveira Giroto. "Algumas não têm é ainda a qualidade que nós queremos que tenham. Foi uma pressão muito grande do ministério: pensada à noite e executada de manhã", considerou.
Por outro lado, ambas as autarquias garantiram as refeições dos alunos, e resolveram o problema das deslocações sem recorrer aos seus transportes públicos municipais. Em Castro Daire, a solução foi contratar uma empresa privada, por cerca de 250 mil euros anuais.