"Não sabemos como será o transporte nem se temos de lhes mandar almoço"
0 Comments Published by . on terça-feira, setembro 05, 2006 at 8:16 da tarde.Ninguém fala de estojos, mochilas, lápis e borrachas. No regresso às aulas, paira a incerteza para pais e meninos da aldeia de Carragosela. Ali, a escola do 1.º ciclo, situada a dez quilómetros da cidade de Viseu, tem sala de brinquedos, casas de banho (uma para professores, outras para meninos e meninas e, ainda, uma para deficientes), cozinha, duas enormes salas de aula, parque infantil e um enorme espaço para recreio. Mas de nada serve ser tão moderna. Os oito alunos serão, ao que tudo indica, transferidos para outra, muito mais antiga, em Cavernães. No entanto, até agora, ainda ninguém sabe ao certo o que se irá passar.
Por causa das incertezas sobre a escola de acolhimento, a revolta é total. Helena da Costa, de 40 anos, doméstica, é a face da indignação: "Tenho uma filha com nove anos que vai para o quarto ano, nem sei como será o transporte ou se é preciso mandar almoço." Maria de Fátima Cunha, de 45 anos, doméstica, está na mesma angústia. No próximo ano lectivo, afiançam estas mães, "até havia mais meninos para entrar para aqui
".
As filhas de ambas, ainda ontem de manhã, brincavam com outros colegas e amigos no parque infantil situado no terreno adjacente à escola. "Adorávamos esta escola. Se nós cá andássemos isto não tinha tanta erva", alegam as amigas Celeste e Margarida. Curiosamente, na mesma aldeia, o jardim da Casa Mortuária, uma construção sumptuosa e recente, está miraculosamente bem cuidado. Ironias. Na porta da escola, está um edital com a lista de manuais escolares escolhidos para o ano lectivo que se avizinha. Escolhas, para a Língua Portuguesa, Matemática e Estudo do Meio, feitas pelo agrupamento escolar de Mundão. Para já, as amiguinhas ainda brincam no recreio que, ao que parece, já não lhes pertence.
"O Ministério da Educação não pode decidir administrativamente, sem conhecer a realidade de cada escola. O caso de Carragosela é um desses exemplos", critica Francisco Almeida, coordenador do Sindicato dos Professores da Região Centro, que alega que, só no distrito de Viseu serão "mais de 150 escolas a fechar". Em seu entender, é inexplicável o facto de, "a poucos dias do início das aulas, os pais não saberem qual será o futuro escolar dos seus filhos". O sindicalista ataca, perguntando: "Nada foi planeado antes do encerramento das escolas. O reordenamento escolar era necessário mas não desta forma. Como serão os transportes? E as refeições? E os tempos livres?" O DN tentou obter informações junto da Câmara Municipal de Viseu, mas não foi possível recolher qualquer dado junto do pelouro da Educação.
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