Creches privadas mais caras que universidades
0 Comments Published by . on terça-feira, setembro 05, 2006 at 8:13 da tarde.Só no concelho de Lisboa, há mais jardins-de-infância privados (93) do que nos três distritos do Alentejo (85). A maior parte das creches abriu portas ontem. Deixar um bebé num infantário privado pode custar mais de 300 euros, um valor superior às propinas das universidades privadas.
É um rombo no orçamento dos pais que têm de colocar os mais pequenos numa creche durante o horário de trabalho. Os jardins-de-infância (JI) particulares já abriram portas e esta será uma semana essencialmente para adaptação dos bebés e crianças aos novos espaços, colegas, educadores e funcionários. No final do mês, chega a factura – e a mensalidade numa creche particular pode ascender aos 350 euros, mais do as propinas numa universidade privada – os valores mínimos rondam os 230 euros.
No ano passado, frequentavam os jardins-de-infância 177 749 crianças, 91 256 das quais em estabelecimentos privados. As creches davam trabalho a 10 884 educadores e 20 028 funcionários não docentes. Há ainda as escolas do 1.º Ciclo com jardim-de-infância, que tinham 192 235 alunos, e as Escolas Básicas Integradas com JI, com 16 230 crianças. A taxa de cobertura pública de crianças de cinco anos no Pré-escolar é superior a 90 por cento – o Governo pretende atingir os 100 por cento já neste ano lectivo. Apesar de haver mais jardins-de-infância do Estado, há mais crianças nas instituições privadas.
O Programa de Enriquecimento Curricular do 1.º Ciclo prevê que nos jardins-de-infância os agrupamentos de escolas planifiquem actividades de animação e apoio às famílias.
O prolongamento dos horários nas escolas primárias, com a oferta obrigatória de actividades extracurriculares, pode colocar em causa a sobrevivência de vários ATL, mas também das creches particulares. “Se uma família tiver na mesma localidade um infantário de graça e outro a pagar, é claro que opta pelo de graça, sem olhar à qualidade”, refere António Ponces de Carvalho, presidente da Associação de Jardins-Escola João de Deus e do Comité Português da Organização Mundial de Educação Pré-Escolar.
Para evitar a morte, os privados “devem apostar na qualidade”. A Associação João de Deus, fundada em 1882, é a maior rede de Ensino Pré-escolar privada, com 43 centros, oito mil alunos e 1100 funcionários. “A diferença está na educação que se dá, na disciplina, regras e saberes. A escola tem de prestar um apoio social aos pais e deve ser um sítio de aprendizagem do aluno e não um local de trabalho do professor”, frisa o responsável. Sendo uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), a mensalidade paga pelos pais varia de acordo com os rendimentos – pode ir dos 16,80 até aos 270 euros. “O Estado deveria devolver à família, no IRS, o valor que pagam, porque estão a pagar a educação duas vezes”, diz. Mas o custo elevado não significa pouca procura – no centro de Alvalade, exemplifica Ponces de Carvalho, houve 452 bebés candidatos a onze vagas. O Governo já anunciou a criação de 31 mil vagas nas creches privadas e nas IPSS, até 2009.
Mesmo nos pequenos “estabelecimentos de bairro”, como é o caso do Jardim-de-Infância O Pimpolho, em Lisboa, a preocupação com a qualidade é uma constante. Manuela Aires, coordenadora do espaço, sublinha que o “é importante os pais escolherem pensando no equilíbrio que a escola dá à criança”. “É um erro escolher apenas pelo preço da mensalidade ou pelo número de horas que o local fica aberto”, diz.
Os problemas relacionados com as listas de espera são um fenómeno que “existe na periferia, mas que já não se faz sentir tanto na cidade”, argumenta a coordenadora. Quando é tempo de pesar as contas, “muitos pais optam por ter uma empregada e só põem o filho num infantário um pouco mais mais tarde”.
No Pimpolho, o preço da inscrição cifra-se em 180 euros. A mensalidade situa-se nos 315, com refeições e horário completo, das 08h00 às 19h00. “Na creche temos crianças inscritas que ainda não nasceram”, relata, tudo porque os pais “temem perder a vaga se deixarem passar muito tempo”.
AMAS SÓ ATÉ AOS TRÊS ANOS
Em Portugal há 1265 amas licenciadas pela Segurança Social. Cada profissional aufere um vencimento líquido de 454,34 euros. Uma ama profissional só pode ter a seu cargo quatro crianças, com o máximo de três anos de idade. Os organismos do Estado não sabem quantas amas existem fora da Segurança Social ou das Misericórdias.
PRIVADOS VS PÚBLICO
3118: Jardins-de-infância na rede pública abertos no ano lectivo de 2005/06, segundo o Gabinete de Informação e Avaliação do Sistema Educativo (GIASE) do Ministério da Educação. Além dos jardins-de-infância, havia 1261 escolas do 1.º Ciclo com jardim-de-infância (JI) e 36 Escolas Básicas Integradas com JI.
86493: Crianças frequentavam os jardins-de-infância do Estado. Nas EB1/JI havia 156 634 alunos e nas EBI/JI, 16 230.
1627: Jardins-de-infância privados abertos em 2005/06. Segundo os números do GIASE, havia ainda 270 EB1/JI no sector privado.
91256: Crianças frequentaram no ano lectivo passado as creches privadas. Nas EB1/JI havia 35 601 alunos
56,1: Crianças por estabelecimento é a média nas creches privadas. Nos jardins-de-infância do Estado a média é de 27,7 alunos/escola.
15: Crianças por educador de infância nos estabelecimentos públicos. A média sobe nos privados, para 17,9 crianças por cada educador.
93: Jardins-de-infância particulares no concelho de Lisboa, que tinham 4999 bebés e crianças. No distrito de Portalegre só estavam nos privados 1116 crianças e o distrito com menos creches privadas é Beja, com 19 estabelecimentos
383: Jardins-de-infância particulares no distrito de Lisboa (há 247 públicos). O outro distrito onde há mais privados que públicos é Setúbal: 153/51.
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