Professoras Desesperadas

Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar.


Calvário diário de 4 professoras desesperadas

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Sobem ao cume e descem às faldas das serras da Nave e Montemuro, duas vezes por dia, de manhã e à tarde. Percorrem estradas tenebrosas, traiçoeiras, quase sempre cobertas de gelo grande parte do ano. E passam por dezenas de aldeias rentes à estrada, com o perigo à espreita ao virar de cada curva. Tudo numa condução feita no limite. Às vezes acima dele. Porque há horários a cumprir.
É o calvário diário de quatro professoras do 1º Ciclo do Ensino Básico colocadas em escolas a 150 quilómetros de casa, longe da família e perto de ambientes desconhecidos, impostos por medida e processo "imorais" do Ministério da Educação (ME).
De nada valeram àquelas docentes, e a outras dezenas de professores "veteranos" de vários concelhos do norte do distrito de Viseu, os protestos e os recursos hierárquicos contestando as colocações "injustas".
Admitidas na primeira fase do concurso (18 de Agosto), apanharam as piores escolas. Menos de uma semana depois, disponibilizadas as vagas dos professores destacados e requisitados, quem ficou com esses cobiçados lugares foram os docentes mais novos. "Uma verdadeira injustiça", protestam. A angústia de terem ido parar a terras tão longínquas de casa, só é ultrapassada pelos antidepressivos que ingerem e pelas consultas no psicólogo e no psiquiatra, desde o dia em que souberam do "desterro".
"Tomo três tipos de antidepressivos por dia. Só assim consigo suportar o ritmo e o stresse diários", assume Margarida Ferreira, professora há quase duas décadas, sempre em escolas não muito longe de casa, mas relegada, por três anos, para o extremo do concelho de Cinfães. Num ano lectivo, garante, faz mais de 40 mil quilómetros.
"O que mais me dói, é sair de manhã sem poder trocar uma única palavra com os meus filhos que, àquela hora, ainda dormem profundamente", desabafa Isabel Canelas, outra docente, também com 20 anos de profissão.
Uma inquietação que vive todos os dias, é o receio que sente quando vai na estrada. "Um dia ficámos presos na neve, no alto da serra de Montemuro. Até contentores do lixo havia espalhados pelo meio da via", recorda Isabel. No Inverno, fazem viagens noite cerrada. Só quando a hora muda, na Primavera, começam a encontrar a luz do dia. "É insuportável", desabafa.

Não se calou e avançou para os tribunais
Ana Cristina Contins, de S. João de Lourosa, concelho de Viseu, foi colocada por três anos em Paranho de Arca, uma aldeia no cimo da serra do Caramulo, Oliveira de Frades, a mais de 50 quilómetros de casa. "Foi um concelho que nem pus no meu boletim de concurso", recorda a docente. Indignada, porque na segunda fase de colocações viu professores mais novos ficarem com escolas que podiam ser suas, protestou em recurso hierárquico para o Ministério da Educação. Como não obteve nenhuma resposta, avançou furiosa para os tribunais. Sentiu-se injustiçada. "Tenho dois filhos para criar e passo o dia inteiro em viagens e na escola", lembra a professora, com 12 anos de docência. Diz que já lhe bastaram os primeiros tempos de carreira em que esteve colocada longe de casa.

Chora todos os dias por estar longe de casa
Já está há oito meses na escola da Lavra, freguesia de Espadanedo, Cinfães. Mas não se conforma. Chora de raiva todos os dias, por ter ficado tão longe de casa, tão longe da família. Maria da Anunciação Pinheiro é professora do 1º ciclo há 19 anos e reside em Lamego. "Estou farta, farta de andar a caminhar para aqui. E quando penso que ainda vou cá ficar mais dois anos, então é que me vou abaixo", desabafa, com as lágrimas nos olhos. Diz que o único aliciante que sente são as colegas e os alunos da turma que tem a seu cargo. "São crianças muito meigas, encantadoras. Quando estou na sala de aulas com elas, esqueço as mágoas todas. Depois, tenho também as colegas, com quem me dou muito bem e que me dão muita força, muito alento para não desanimar.", enfatiza.

Vida nómada não permite ter filhos
Está casada há nove anos e não arrisca ter filhos por causa da vida nómada que leva. Luisa Balsemão mora em Tarouca e foi colocada em Castelo de Paiva. Mas não tem turma. Dá apoio em várias escolas, substitui professores nas faltas. "Sou pau para toda a colher", diz a docente, que faz a viagem sozinha, de mais de 100 quilómetros, porque não arranjou ninguém que tivesse ido para aqueles lados. A distância, a ansiedade de chegar a horas e a solidão que carrega nas viagens, já lhe provocaram uma depressão. Admite, por isso, que se vê também obrigada a tomar antidepressivos. "É uma vida sem estabilidade emocional, profissional e financeira". Luisa garante que gasta por mês cerca de 400 euros de gasolina. "Fora o desgaste do carro e as despesas com a manutenção".

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