Professoras Desesperadas

Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar.


Ministra sentiu-se ofendida pela expressão "canalha"

A chefe de gabinete do Ministério da Educação enviou uma carta à direcção da Federação Nacional de Professores (Fenprof) a pedir explicações sobre declarações de Mário Nogueira, dirigente do Sindicato de Professores da Região Centro, que usou a palavra “canalha” para descrever uma das propostas de alteração à carreira docente.
O comentário, conta Mário Nogueira ao CM, teve lugar numa reunião de corpos gerentes do sindicato, em Viseu. “Estava-se a falar de uma proposta de revisão do estatuto, segundo a qual uma professora que fosse mãe iria perder tempo de serviço e seria prejudicada na avaliação do desempenho”, diz. Apesar de classificar o momento como “um episódio fugaz e passageiro”, Mário Nogueira admite que criticou “de uma forma dura um Governo que tem medidas que prejudicam uma mulher que pretenda ser mãe”.
“Não chamei canalha à ministra”, garante o sindicalista, que acrescenta: “Se se pesquisar canalha no dicionário, a palavra significa infame. Era uma proposta canalha, uma atitude infame.”
Mário Nogueira não se arrepende da tomada de posição que assumiu. “Aquilo que digo e reitero é que quem propõe medidas que vão contra o direito de uma mulher à maternidade está a apresentar uma proposta infame”, resume.
A carta do Ministério deixou a Fenprof num estado de “revolta e indignação”, conta o sindicalista. “Foi dada uma resposta para pôr no lugar quem teve a iniciativa de a mandar”, refere Mário Nogueira. Mais grave, diz, “é o adjunto da ministra chamar mentecaptos aos sindicalistas ou o secretário de Estado da Educação abrir o vidro do carro e ameaçar uma professora em protesto, em Viseu”.

GREVE PARALISOU
As relações entre o Ministério da Educação e os professores estão cada vez mais acesas, num momento em que o País assiste a uma das maiores greves nacionais no sector. Segundo dados dos sindicatos, cerca de 85% dos professores aderiram ontem à greve. Um número que deixou 90% dos alunos quase sem aulas e que levou ao encerramento de entre duas a três mil escolas. O Ministério da Educação é mais contido nas contas, apontando para uma adesão de 39%.
No Liceu Pedro Nunes, em Lisboa, o ambiente era agitado no primeiro de dois dias de protesto. Tudo porque numa escola onde a greve tem habitualmente poucos adeptos, grande parte dos professores optou por não dar aulas e aderir à paralisação. À porta, os alunos comentam as ausências: “Os professores não mudaram, os motivos do protesto é que são mais fortes.” A greve continua hoje.

SEM SENTIDO
As escolas pararam, mas à saída da Comissão de Educação, na Assembleia da República, Maria de Lurdes Rodrigues foi peremptória: “O Ministério já apresentou três propostas, os sindicatos apenas uma. Para mim, uma greve a meio de um processo negocial não tem sentido.”

APONTAMENTOS
PALAVRA PROIBIDA
A ministra foi à comissão parlamentar de Educação explicar aos deputados a avaliação feita a 24 escolas. E a sua intervenção resumiu-se a isso mesmo: a palavra greve foi proibida.

CUSTOS
A única novidade dada ontem pela ministra foi o montante que custou a avaliação. O processo custou 72 mil euros ao Governo, três mil por cada escola.

CONSENSO
Amanhã, Ministério da Educação e Sindicatos reúnem-se pela última vez para chegar a acordo sobre a revisão da carreira docente. Caso não haja consenso, o Governo tem margem de manobra para aprovar a proposta que melhor entender.

ROTEIRO DA GREVE NO PAÍS
NORTE
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
- Segundo o Governo, no Norte do País, a adesão à greve situou-se nos 32%, com 13 519 faltosos. Encerraram 959 das 3884 escolas.

SINDICATOS
- Os dados apresentados pelos sindicatos do sector fazem subir o número de professores em falta para os 85%.

CENTRO
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
- Depois de Lisboa (52%), foi na região Centro que se registou a segunda maior percentagem de adesão à greve.

SINDICATOS
- Os professores contabilizaram uma média próxima dos 90%. Houve escolas com 100% de adesão (Coimbra) e escolas sem greve (Leiria).

ALENTEJO
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
- A tutela garante que a paralisação foi seguida por 33% dos professores do Alentejo e que 28% das escolas fecharam.

SINDICATOS
- Oitenta por cento dos professores que leccionam em Portalegre, Beja e Évora aderiram. Em Évora não houve aulas no 1.º e 2.º Ciclo.

ALGARVE
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
- Foi no Algarve que se registou a adesão mais baixa: 28%. Acusada de mentir, a tutela diz que os dados são transmitidos pelas escolas.

SINDICATOS
- Também no Algarve as contas sindicais são superiores. As escolas dos 2.º e 3.º Ciclos foram as que registaram valores mais elevados.

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