Manifestação de Professores teve a força de 20 mil vozes
1 Comments Published by . on sábado, outubro 07, 2006 at 6:42 da manhã.Vinte mil professores e educadores de todo o País aprovaram ontem, em Lisboa, a marcação de uma greve para os dias 17 e 18, se o Ministério da Educação (ME) não der “provas inequívocas de estar disposto a negociar e não recuar nas suas imposições”.
O anúncio foi feito no Rossio pelo secretário-geral da Fenprof, Paulo Sucena, no final da maior manifestação de professores desde o 25 de Abril, em protesto contra a revisão do estatuto da carreira docente. O secretário-geral da FNE, Dias da Silva, acusou o Governo de ser “um frigorífico, porque congela tudo”. “Os professores estão empenhados em que os resultados escolares melhorem, é preciso é estarem motivados”. O dirigente destacou os primeiros sinais de “nervosismo” do ME, ao decidir marcar uma reunião extraordinária no dia 12. “Só por isso esta marcha já valeu a pena”, frisou.
Entre as habituais palavras de ordem e os pedidos de demissão da ministra, alguns cartazes sobressaíam: “Feios, porcos e diabólicos, a apologia do cinismo”, “Sócrates ditador havias de ser professor” ou “A ministra a mandar é pior que Salazar”.
Algumas dezenas de carrinhos de bebé também se destacavam no desfile. “Não é o feriado nem o sol que nos impedem de demonstrar o nosso descontentamento”. Enquanto dava o biberão à filha de cinco meses, Luís Lopes ia empurrando o carrinho de bebé avenida abaixo. É professor do quadro no Forte da Casa, mas reconhece ter receio pelo futuro. “Há dias em que custa dormir.” A mulher, Elisabete, tem contrato até Janeiro, na Secundária de Sacavém. “Com o fim das listas para contratação, não sei o que vai ser de mim. Adiam-se planos de vida, é complicado.” De palito no canto da boca, Alexandre Raposo empunhava uma das cinco mil bandeiras coloridas. Veio de Odemira para apoiar a filha. “Isto está mal, já esteve a dar aulas e este ano está em casa. Não percebo por que é que isto acontece”, lamenta.
Quem gostava de ver a ministra Maria de Lurdes Rodrigues a dar aulas é Maria Aurélio Freitas, da Escola Soares dos Reis (Porto). “Receberia a senhora ministra com todo o prazer e adoraria vê-la a dar aulas”, disse. Quem tirou vantagem da marcha foi Silvina Rodrigues. A dois euros a dúzia de castanhas, a vendedora e o marido lá foram acompanhando com o carrinho azul a descida da avenida. Ao início, o negócio não estava bom. “Devia era vender gelados”, dizia a meio da marcha. Mas, nos Restauradores, o discurso mudou. “Melhorou, está mais fresco.”
O pré-aviso de greve é entregue hoje no ME. As 14 estruturas sindicais reúnem-se hoje e segunda-feira para redigirem uma “proposta concreta” de revisão do estatuto da carreira. “O Ministério tem todas as possibilidades de evitar a greve, na reunião de dia 12”, referiu Mário Nogueira, da Fenprof, que reconhece o problema do envelhecimento da classe. “Muitos já podiam ter saído, mas aumentaram a idade da reforma e os mais novos não conseguem entrar. Não temos medo da avaliação, só não queremos é as quotas.”
PROFESSORA AGREDIDA À ESTALADA
Uma professora foi ofendida e agredida à estalada e ao murro por uma encarregada de educação, em Lamego, que não concordou com as censuras feitas ao comportamento da filha durante uma reunião.
A agressão, divulgada ontem pelo Sindicato dos Professores da Região Centro (SPRC), aconteceu na quarta-feira, pelas 19h30, durante uma sessão de atendimento aos pais da Escola EB 1.
A professora, de 40 anos, natural de Bragança, foi agredida em frente a uma das suas filhas, de outras crianças e de uma auxiliar educativa. Teve de receber tratamento hospitalar e “está muito abalada psicologicamente, sem coragem para sair de casa com receio de represálias”, referiu João Pedro Melo, do SPRC-Lamego. A encarregada de educação agiu com violência depois de a docente lhe ter dito que “o comportamento da aluna piorava a cada dia e desestabilizava a sala de aulas”.
MOMENTOS
- “Mentirosa”, “ditadora”, “demónio” – foram algumas das palavras utilizadas pelos manifestantes para classificar a actuação da ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues. Num dos cartazes lia-se: “Xora dona menistera: a sua avaliação = exoneração”.
- Vieram de Tomar para mostrar que o estatuto da carreira poderá transformar-se num “regime penal”. “Ficarei no mesmo escalão, condenado a não progredir”, disse João Nogueira, professor de Inglês na Secundária de Santa Maria do Olival. Este docente aceita ser avaliado pelos pais – mas rejeita que isso resulte de uma imposição.
- “Ser mãe ou estar doente implica não progredir na carreira. Um professor, que até podia ter nota Excelente, se for operado e ficar 15 dias de baixa vai ter Regular e perder tempo de serviço”, diz o sindicalista Mário Nogueira. O regime de faltas é uma divergência entre sindicatos e Ministério.
Eu estive lá com a mulher a filha. Viemos com os pés duridos mas contentes.
João Norte
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