Professoras Desesperadas

Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar.


Pais de crianças apoiadas pelas CERCI vão apresentar petição no Parlamento

Os pais das crianças com deficiências comprovadas, em situação de risco biológico ou social que recebem apoio das Cerci - cooperativas de solidariedade social - vão entregar uma petição na Assembleia da República contra a anunciada restrição desses projectos a meninos até aos três anos. Em causa está a intenção do Ministério da Educação de cessar o financiamento a programas de intervenção precoce que vão até aos seis anos, por considerar que essa faixa etária já tem resposta na rede de pré-escolar que entretanto se desenvolveu.
Uma equipa mista constituída por pais e técnicos de intervenção precoce - que, como o nome indica, se destina a identificar o mais cedo possível crianças com deficiência, em situação de risco biológico (portadores de HIV ou filhos de pais toxicodependentes, por exemplo) ou social - está determinada dar estatuto público ao debate sobre a restrição aos subsídios.
Além da petição que vão apresentar ao Parlamento, "há cartas a enviar ao Presidente da República, à primeira-dama, ao provedor de Justiça e a Maria José Nogueira Pinto", como ficou decidido numa reunião de pais e técnicos, na terça-feira à noite. A missiva endereçada a Cavaco Silva justifica-se com o ênfase dado à questão da inclusão no discurso do 25 de Abril; Maria Cavaco Silva alinha pelo mesmo raciocínio e o empenho de Maria José Nogueira Pinto nestas causas sustenta o recurso à vereadora da Câmara Municipal de Lisboa.
Pais, técnicos e responsáveis da Cerci acusam o Governo de "deixar de fora milhares de crianças cujos problemas não são diagnosticados até aos três anos ou necessitam de uma intervenção específica durante mais tempo". Na petição, a que o DN teve acesso, destacam o facto de a intervenção precoce se centrar "na família" e ter uma natureza "preventiva", sendo realizada "por equipas multidisciplinares nos diferentes contextos de vida". Os projectos são "tendencialmente gratuitos ou de baixo custo ". E questionam-se sobre quem ficará junto das famílias "se a intervenção for feita exclusivamente pelos apoios dos agrupamentos de escola, cuja metodologia é centrada no contexto educativo".
A forma como as alterações foram apresentadas pelo Ministério da Educação também é contestada. As famílias alegam que se trata de um despacho interno assinado pelo secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, e questionam o seu "carácter legislativo e os contornos constitucionais muito duvidosos". Como a intervenção precoce é regulada por três ministérios - o da Educação, Saúde e Trabalho e Solidariedade Social -, o técnico Joaquim Gronte relembra que as alterações chocam com o compromisso assumido pela secretária de Estado adjunta e da Reabilitação, Idália Moniz, da última tutela. "Foi dada a garantia, em Janeiro, de que a legislação não seria alterada antes do final da avaliação dos recursos existentes, que está a ser feita por um grupo de trabalho nomeado para o efeito.
O Ministério da Educação, através do assessor de imprensa Ramos André, garante que o superior interesse das crianças com mais de três anos está acautelado através do apoio que têm na rede de pré-escolar, que inclui educadores, psicólogos e terapeutas. Se a tutela diz que as instituições têm medo de perder os subsídios, estas respondem que o Governo continua, "apenas e tão só", obcecado pelo défice.

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