Professoras Desesperadas

Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar.


Seis milhões de jovens europeus só completam Ensino Básico

Os países da Europa Central e de Leste distinguem-se pela reduzida taxa de abandono escolar precoce e pelas elevadíssimas taxas de conclusão do ensino secundário. Os Estados-membros do Norte são imbatíveis nos índices de participação em acções de formação por parte da população adulta. Mas são a Irlanda e a Finlândia os únicos a figurar entre os três melhores desempenhos tanto nos indicadores relacionados com a escola básica como com o ensino pós-obrigatório.
Mesmo assim, "as boas práticas no campo da educação e formação não estão confinadas a um conjunto pequeno de países da União Europeia (UE) - quase metade dos Estados-membros apresentam um dos três melhores desempenhos em pelo menos um dos cinco indicadores de referência", conclui a Comissão Europeia, no seu último relatório sobre os progressos alcançados no cumprimento dos objectivos da Estratégia de Lisboa nesta área.
E até Portugal, que se distingue em vários indicadores pela distância que separa o país dos compromissos assumidos a nível europeu, surge neste quadro. Consegue-o graças à elevada percentagem de raparigas entre os diplomados em Matemática, Ciências e Tecnologia, que o aproxima da meta da paridade entre sexos neste indicador.
No entanto, a quatro anos do prazo definido para fazer dos sistemas educativos e de formação da Europa "uma referência mundial de qualidade até 2010", os progressos na UE são "insuficientes" e vários objectivos estão em risco de não serem cumpridos, diz a Comissão, no relatório divulgado na passada semana e que se centra na evolução registada nos cinco grandes indicadores (benchmarks), definidos entre todos os Estados-membros em 2002.
No que respeita a uma maior participação da população europeia adulta em acções de formação ao longo da vida e à redução do número de jovens que abandonam precocemente a escola (no máximo com o ensino básico) o progresso é tido como "moderado" e insuficiente. E "poucas ou nenhumas melhorias houve" na percentagem de jovens europeus que concluem o 12.º ano e no número de estudantes de 15 anos que detêm baixas competências de literacia em leitura.
"Se não forem feitos esforços mais significativos nas áreas do abandono escolar, conclusão do secundário e competências-chave, uma elevada proporção das novas gerações enfrentará a exclusão social, com grandes custos para os indivíduos, para a economia e para a sociedade", alerta a Comissão.
O aumento em 15 por cento do número de licenciados em Matemática, Ciências e Tecnologias, pelo contrário, é um objectivo já atingido em 2003.

Filhos de imigrantes entre os que desistem da escola mais precocemente
Os dados são de 2005 e revelam que na UE seis milhões de jovens entre os 18 e os 24 anos tinham no máximo o ensino básico e não estavam a estudar ou em formação. Para atingir a meta definida para 2010, seria necessário que pelo menos mais dois milhões destes jovens tivessem continuado no sistema educativo. A situação em Portugal é grave, não só pela elevada taxa de abandono escolar precoce (38,6 por cento, apenas superada por Malta), mas também porque entre os que deixaram de estudar, e ao contrário da média europeia, a maioria nem sequer concluiu o ensino obrigatório. Baixar a taxa de abandono precoce na UE para 10 por cento vai depender sobretudo da evolução num conjunto reduzido de países, que, "apesar da melhoria nos anos recentes, continuam muito longe do indicador europeu", nota a Comissão. Outro aspecto preocupante prende-se com o facto de a probabilidade de os alunos de outras nacionalidades abandonarem a escola ser duas vezes mais alta que a registada entre os estudantes naturais dos respectivos países.

Portugal com o maior crescimento da taxa de conclusão do secundário
Para se conseguir ter 85 por cento de indivíduos de 22 anos a estudar até ao 12.º ano seria preciso que mais dois milhões de jovens concluíssem o secundário. Entre 2000 e 2005, a taxa cresceu a um ritmo de 0,2 pontos percentuais ao ano e teria de ser acelerada para 1,5. Portugal é um dos países que têm registado uma melhoria significativa: entre 2000 e 2005 passou de uma taxa de conclusão entre a população com 20-24 anos de 42,8 por cento para 48,4. Foi o maior aumento relativo dentro da UE: mais 13 por cento. No entanto, os últimos números do Eurostat revelam que, pela primeira vez em cinco anos, houve uma ligeira diminuição da taxa de conclusão do secundário entre 2004 para 2005 (de 49 por cento para 48,4 por cento). E que o país continua a ter o penúltimo pior desempenho da UE, apenas ultrapassado por Malta.

Literacia em leitura não melhorou entre 2000 e 2003
Cerca de um em cada cinco alunos de 15 anos é actualmente um mau leitor e atinge apenas o nível mínimo de proficiência, definido pelo estudo internacional PISA (Programme for International Student Assessment). A média não melhorou em relação a 2000 e há por isso um longo caminho a percorrer. O próximo estudo realiza-se em 2006 e será preciso que haja menos 200 mil jovens a mostrar dificuldades nas tarefas mais básicas da literacia em leitura. Em Portugal, os resultados dos alunos melhoraram um pouco, mas foram a Polónia e a Letónia que se distinguiram pela evolução demonstrada. Os responsáveis dos dois países justificaram as melhorias pelo impacte de reformas introduzidas no sistema educativo em 2000.

Muitos diplomados em Ciências e Tecnologia, poucos investigadores
Se a tendência de crescimento se mantiver, em 2010 cerca de um milhão de jovens entre os 20 e os 29 anos serão licenciados em Matemática, Ciências e Tecnologia (MCT). Ou seja, o compromisso de aumentar em 15 por cento o número de diplomados nestas áreas, em relação aos valores de 2000, já foi atingido em 2003. Neste momento a Europa forma mais jovens em MCT (755 mil) do que os EUA (431 mil) ou o Japão (230 mil). Só que a UE não capitaliza todo este potencial, nota a Comissão, já que o número de investigadores é inferior em relação a estes dois países. O aumento destes diplomados tem sido feito sobretudo à custa das áreas da Informática e Engenharias. Matemática e Estatística registaram um crescimento pouco expressivo (6,7 por cento) e diminuiu a proporção de licenciados em Física (menos 2,7 por cento). A paridade entre sexos também está longe de ser atingida.

Formação ao longo da vida deixa de fora quem mais precisa
O progresso tem sido lento e quem mais precisaria de participar em acções de formação continua a ficar de fora. De acordo com os números apresentados no relatório da Comissão, os trabalhadores com mais habilitações académicas têm sete vezes mais probabilidade de beneficiar de acções de formação do que aqueles que têm um nível de instrução baixa. Além disso, por grupos etários, constata-se que a taxa de participação diminui a partir dos 34 anos. Portugal, Grécia, Eslováquia e Hungria têm percentagens inferiores a cinco por cento.

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