Professoras Desesperadas

Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar.


Ministra da Educação abre guerra aos professores

A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, culpou os professores pelo insucesso escolar e acusou a classe de apenas se preocupar em dar aulas e não com o sucesso educativo dos alunos. As declarações da ministra, proferidas no primeiro encontro do Debate Nacional de Educação, na Maia, enfureceram os docentes, que consideram as acusações “afrontosas e insultuosas”.
A governante referiu que só há reuniões nas escolas “porque os normativos legais o mandam” e afirmou que “os horários privilegiam os alunos melhores e filhos dos funcionários”.
António Teodoro, director do Observatório de Políticas de Educação e de Contextos Educativos da Universidade Lusófona, considera as declarações “profundamente infelizes”, acentuando uma linha de actuação “que responsabiliza os docentes por todos os problemas da Educação”. Segundo o investigador, no último ano houve escolas que abandonaram projectos que tinham em curso. “Os professores mais empenhados foram entrando na rotina com as medidas do Ministério, sentem-se atingidos e responsabilizados. A ministra devia separar o trigo do joio.”
Numa altura em que se iniciaram as negociações entre a tutela e os sindicatos para a as alterações ao Estatuto da Carreira Docente, as declarações da ministra caíram como uma bomba na classe. O secretário-geral da FNE, João Dias da Silva, é peremptório: “Se todos os professores são incompetentes e irresponsáveis, então a ministra tem de accionar processos disciplinares a todos.”
A proposta do Ministério defende alterações significativas. As notas dos exames e a avaliação de pais e encarregados de educação contam para a avaliação de desempenho do docente, condição essencial para este progredir na carreira. “Não está dito que os pais dêem opinião sobre a biblioteca, as salas de aula, os programas, as cantinas. Deviam avaliar o todo e não apenas o professor”, considera António Teodoro.
O Sindicato dos Professores do Norte critica a prova nacional de avaliação para aceder à carreira. “Dificultar drasticamente o acesso à profissão é uma medida anti-educação”, considera.
A Federação Nacional do Ensino e Investigação propõe a realização de exames nacionais em todos os ciclos de ensino, pois é a “única forma válida, justa e equitativa para avaliar todos os responsáveis do processo educativo”. A maior estrutura do sector, Fenprof, pondera convocar greves e manifestações durante o período de negociações.

ANÚNCIO DE LISTAS POR ENGANO
Foi publicado ontem em Diário da República um Despacho da Direcção-Geral dos Recursos Humanos da Educação (DGRHE) que avisa para a publicitação das listas definitivas do concurso de professores. Segundo o Despacho n.º 11/662, as listas estariam disponíveis no ‘site’ da DGRHE desde ontem. No entanto, no ‘site’ da Direcção- -Geral surgiu uma nota a corrigir a publicação. “Por erro foi publicado o aviso de publicitação das listas definitivas dos candidatos ordenados, colocados, não colocados, dos que pediram desistência e dos candidatos excluídos.
O referido aviso será rectificado através da sua publicação integral em Diário da República em data a divulgar oportunamente, devendo ser considerado para todos os efeitos”, lê-se na nota. A divulgação das listas de colocação de professores estava prevista até hoje. João Dias da Silva, da FNE, considera “incrível” o erro. “Ainda têm a coragem de dizer que os irresponsáveis são os professores”.
Paulo Sucena, da Fenprof, considera “lamentável que a ministra chame incompetentes aos professores quando o Ministério da Educação está permanentemente a dar exemplos da sua incompetência”. O gabinete de imprensa do ME explicou que se tratou de um “lapso” e que as listas serão publicadas nos próximos dias.

TROCA DE PALAVRAS
"AVERSÃO AO SABER FAZER" (M. LURDES RODRIGUES, MINISTRA DA EDUCAÇÃO)
“Os melhores professores ficam com os melhores alunos e os docentes com pior estatuto na casa levam com as turmas mais difíceis. As escolas têm aversão ao saber fazer, desvalorizando as áreas mais técnicas e laboratoriais. Não é uma cultura em que os principais desafios sejam os resultados.”

"ALGO QUE PREOCUPA" (MARIA JOSÉ VISEU, CONFAP)
“A ser verdade, é algo que nos preocupa. Todos temos quota de responsabilidade. Fomos deixando que as coisas fossem acontecendo. Mas devíamos estar a discutir outras coisas, o Estatuto da Carreira Docente é para ser discutido pelos sindicatos e tutela e não pelos pais.”

"O PAÍS JÁ NÃO COMPREENDE" (PAULO SUCENA, FENPROF)
“Há ali algo de subjacente, psicológico, de persecutório em relação aos professores. O País já não compreende como é que se quer prestigiar a escola e a profissão quando se passa a vida a atacar os professores. Há casos pontuais de problemas, mas não é nada generalizado.”

"É CONVERSA DE CAFÉ" (JOÃO DIAS DA SILVA, FNE)
“É impensável que uma responsável política faça uma intervenção pública com um discurso de conversa de café ao fim de um jantar com os amigos. Esqueceu-se do lugar onde estava, teve uma grande falta de contexto. Generalizou a atitude da alguns professores e isso é mau.”

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