Professoras Desesperadas

Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar.


Existem mesmo turmas onde se juntam os melhores alunos

Estará o turno da manhã reservado aos melhores alunos e filhos de funcionários e professores, como disse anteontem a ministra da Educação? Estarão as melhores turmas entregues aos melhores docentes? As opiniões dividem-se. Alguns professores reconhecem que no passado havia "turmas especiais" para os filhos dos funcionários da escola, mas dizem que isso já não acontece. Alguns conselhos executivos asseguram que isso não se passa na sua instituição, embora admitam que possa acontecer noutras. Mas também se encontram professores que, em off, juram existir ainda hoje muitas turmas construídas a partir do "factor C". C de cunha.
Ana (nome fictício de uma professora da região de Setúbal) dá aulas a duas turmas: o 7.º B e o 7.º G. A primeira, do turno da manhã, "é a dos filhos dos professores, dos funcionários, amigos de colegas". A segunda, no horário da tarde, "é a que tem mais problemas a nível disciplinar e de taxa de sucesso".
Ana já trabalhou na equipa que definia os horários e não tem dúvidas: "juntavam-se os melhores alunos nas turmas da manhã, retiravam-se os maus elementos". Resultado: os repetentes acabavam por ficar nas turmas da tarde. Mas não só, acusa: "O próprio conselho de turma é escolhido em função de simpatias." Não afirma que o cenário seja idêntico em todas as escolas, mas acredita que exista em muitas delas. "Eu própria quero matricular o meu filho na manhã [noutra instituição] porque sei que é aí que estão os alunos com menos problemas e com faixas etárias mais baixas...", confessa.
Mas Ana não é a única. Uma outra docente, do 3.º ciclo, a leccionar em Lisboa, diz que "normalmente os filhos dos professores da escola têm tendência a ficar de manhã". Porque o rendimento dos alunos nesse turno é melhor e "porque estão aí as melhores turmas": "há uma selecção dos melhores alunos na parte da manhã", admite. "Mas não é taxativo."
Mas, para outros, esse cenário "é coisa do passado". Uma professora do ensino básico em Castelo Branco conta que "antigamente era comum juntar nas primeiras turmas os melhores alunos e os filhos dos docentes". Mas agora não. Actualmente dá aulas a sete turmas e garante que são todas "mistas". No entanto "quando se distribuem as turmas, os professores mais velhos podem escolher, os mais novos ficam com as sobras".
Uma visão semelhante tem outra professora da região centro, que também pede anonimato. Diz que "há uns 12 anos" isso acontecia e os professores mais novos ficavam com as turmas da tarde. Agora não, até porque o turno é único. Quanto aos filhos dos funcionários serem agrupados nas mesmas turmas, a docente diz que "isso depende das pessoas" e que ela nunca o fez.
Já um outro professor, de uma escola do Barreiro, desvaloriza o facto de os professores tentarem pôr os filhos nas melhores turmas: "Isto não tem nada de extraordinário. É a realidade. Se eu trabalhasse no sistema bancário iria para o banco que me ofereceria melhores condições", afirma, garantindo, porém, que na sua instituição "não há turmas de elite" e que se tenta distribuir os piores alunos pelas várias turmas.
Teresa Rendo, professora de inglês na EB23 Paula Vicente, em Lisboa, diz que a reserva dos melhores alunos para a manhã nunca aconteceu na sua escola, agora com turno único. "Mas uma coisa é verdade: os professores normalmente escolhem o seu horário por uma hierarquia profissional." Quanto ao que se passa noutras instituições, a docente afirma não poder dizer "que nunca tenha havido um professor que, através de uma cunha ou sorriso, tenha conseguido a turma que quer." Mas recusa peremptoriamente as generalizações feitas pela ministra: "Se as escolas ainda funcionam é porque há um bom punhado de profissionais que as mantêm em funcionamento."
Os conselhos executivos ouvidos pelo DN em Lisboa e no Alentejo asseguram que na sua escola "não há turmas especiais" e que "os critérios usados são os definidos por lei e pelo conselho pedagógico", tentando-se "dar continuidade na distribuição das turmas", para que os alunos sejam acompanhados. Mas admitem que não seja assim em todo o lado.

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