Professoras Desesperadas

Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar.


Pais recusam novas escolas de acolhimento

Os pais não desarmam. Confrontados com a imposição de enviar os filhos para escolas a alguns quilómetros de casa, disseram um rotundo não. Ontem, dia de arranque de ano lectivo, em vários pontos do País, as crianças não apareceram nas escolas de acolhimento. Hoje a situação deverá repetir-se, com os alunos a comparecer em frente à antiga escola, agora fechada e vazia. Os encarregados de educação não percebem a razão que obriga os filhos a percorrer quilómetros quando nos locais onde residem existem instalações que durante anos serviram a população.
No lugar de Calvos, na freguesia de Rossas, concelho de Vieira do Minho, os pais recusaram que os filhos fossem transportados para a escola da aldeia vizinha de Paredes. Afirmam que nunca foram informados oficialmente pelas autoridades responsáveis e, hoje de manhã, pelas 08.15, mais uma vez os 16 alunos desta EB1 estarão à porta da sua velha escola e de mochila às costas, à espera que a professora regresse. "Até podiam tomar esta decisão, mas sempre ouvindo a opinião dos pais", diz Lurdes Fernandes, que ontem, com mais algumas mães, resolveu limpar a escola e desbravar o mato que entretanto cresceu no recreio. A sala estava, no entanto, vazia. Na passada quarta-feira, técnicos da câmara levaram todos os equipamentos, inclusive as secretárias e as cadeiras. Em Calvos, a comunicação de que a escola ia encerrar foi feita pelo pároco local na missa de domingo. "Ficamos surpreendidos porque tínhamos a garantia que a escola iria sofrer obras e que iriam construir um pavilhão e uma cantina. Somos gente, não nos podem tratar assim", afirmam os pais.
Mais a sul o mesmo acontece. Na missa celebrada na Igreja de Cavernães é anunciada a data do regresso às aulas, mas os oito alunos da Escola do 1º ciclo de Carragosela (Viseu) continuam sem saber quando começam a usar as mochilas e os novos cadernos escolares. "Não sabemos quando começam as aulas, já me disseram que o senhor padre nomeou na missa que as aulas começam esta sexta-feira, mas nem da Câmara de Viseu nem da junta de freguesia nos deram qualquer informação", revela ao DN, Helena da Costa, mãe da Margarida.
Os pais estão impacientes com a indefinição e com a falta de diálogo. Em causa está o eventual encerramento da escola de Carragosela, com a consequente transferência das crianças para o estabelecimento de ensino de Cavernães. O impasse naquela aldeia, situada a dez quilómetros de Viseu, mantém-se, até porque os pais destes oito alunos nem sequer sabem em que condições estará a escola de acolhimento para os receber. E continuam sem perceber como é possível retirar os alunos de uma escola moderna e apetrechada com as melhores condições de ensino para outra mais velha e degradada.
Estes são apenas exemplos. Este ano lectivo, uma em cada cinco escolas do 1.º ciclo - as antigas primárias - não abrem portas. Estima-se que serão 1460 das 7350 que funcionaram até 2005. Mas só no final desta semana será conhecida a lista final. Os encerramentos foram determinados depois de as autarquias terem sinalizado os estabelecimentos com poucos alunos, níveis elevados de insucesso escolar ou más condições físicas.

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