Professoras Desesperadas

Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar.


Ano lectivo 2006/07: Aulas a conta-gotas

Os professores foram amigos dos alunos e as actividades lectivas não passaram de uma miragem em grande parte das escolas. De acordo com os dados fornecidos pelo Ministério da Educação, só 15 por cento das escolas começaram as aulas no dia de abertura do ano lectivo. Dos 12 mil estabelecimentos, terão sido menos de dois mil os que receberam alunos. Uma situação que merece críticas da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), que considera “anormal” e injustificável o baixo número de escolas a funcionar.
Na região Norte abriram 1039 das 3935 escolas (26 por cento). No Centro terão aberto 600 escolas – segundo a Direcção Regional, que só contabilizou os agrupamentos (grupos de escolas): abriram portas 37 dos 253. Lisboa foi a campeã do absentismo: abriram 64 escolas, menos de quatro por cento do total. No concelho de Lisboa, 19 dos 20 agrupamentos contactados pelo CM disseram que só abrem para as apresentações a partir de quinta-feira – o outro não indicou qual o dia. A sul, abriram dez por cento das escolas do Alentejo (130) e apenas um quarto dos estabelecimentos algarvios – 86 – receberam alunos. Até sexta-feira, todas as escolas deverão estar abertas.
Fernando Gomes, dirigente da Confap, diz que é “anormal e lamentável” que tão poucos professores comecem as actividades lectivas na abertura do ano. “A grande maioria só recebe alunos no fim da semana e só abre na segunda-feira. Não há motivo palpável para isso”, considera, acusando os professores de “protelarem até ao limite o início das aulas.
Começam por voltar às escolas apenas no dia 4 ou 5 de Setembro”. Fernando Gomes alerta para o facto de “milhares de crianças ficarem sozinhas em casa nestes dias”. Sugere que, no próximo ano, apenas se dê dois dias às escolas para abrirem.
Para os sindicatos, o arranque das aulas a conta-gotas não é alarmante. Paulo Sucena, da Fenprof, diz que a escolha do último dia do prazo estipulado por lei se deve a “questões relacionadas com a colocação dos professores e com a organização do ano lectivo”. Mário Nogueira, do Sindicato da Região Centro, diz que a maioria dos docentes começou o trabalho dia 4, altura em que se iniciaram as reuniões de grupo.
Quem foi à escola e bateu com o nariz na porta foram os cerca de 30 alunos do 1.º Ciclo de Gemieira, Ponte de Lima. Acompanhados pelos pais, reclamaram contra o fecho do estabelecimento. “É uma grande injustiça e não tem qualquer cabimento que encerrem uma escola que foi completamente renovada há dois anos, tem excelentes condições, desde cantina, computadores, aquecimento central e até televisores”, reclamou Maria José Pires, da associação de pais. “A nossa revolta é ainda maior porque fomos traídos e enganados pela Câmara, que há poucos meses nos garantiu que a escola não fechava”, vincou.

OBRAS DEIXAM CRIANÇAS NA RUA
Em protesto pela demora na conclusão das obras de melhoramento do jardim-de-infância da Boa Vista, Leiria, os pais não deixaram as crianças entrar ontem e deslocaram-se com elas à Câmara Municipal, para expressar o seu desagrado. Há um ano e meio, as crianças foram alojadas nas salas da catequese, para permitir a realização de obras no jardim-de-infância – que deveriam ficar concluídas em três ou quatro meses.
Como ainda não há um prazo para o fim das obras, os pais aproveitaram a abertura do ano lectivo para denunciar a situação e exigir uma solução. A presidente da Câmara, Isabel Damasceno, prometeu uma resposta até ao final da semana. Enquanto aguardam, os pais vão deixar os filhos nas instalações provisórias do jardim-de-infância.

ESCOLAS DO PORTO AINDA A MEIO GÁS
A Secundária do Cerco do Porto foi uma das 1039 escolas da região Norte que ontem abriram as portas aos alunos. Não a todos, é certo... Mas os cerca de 100 estudantes que frequentam os cursos de educação e formação (cursos profissionais), dado o maior volume de horas lectivas, começaram ontem as aulas.
“O ensino regular começa dia 15 porque precisamos de tempo para organizar os horários e as turmas”, contou ao CM Artur Rocha, vice-presidente do Conselho Executivo. Já a escola Dr. Vieira de Carvalho, na Maia, começa hoje as aulas, porque “sentiu estar tudo preparado, apesar de o tempo ser sempre pouco”, afirmou Jorge Mesquita, presidente do Conselho Executivo. Fernando Mack, da Federação Regional da Associação de Pais do Porto, concorda com a autonomia dada aos agrupamentos para decidir quando começar as aulas, mas lembra que a abertura tardia das escolas é um transtorno para os pais.

POR AGORA SÓ HORÁRIOS
As aulas na Escola Secundária Poeta António Aleixo, em Portimão, começam sexta-feira, no dia seguinte à recepção dos alunos. Mas, ontem, foi grande o corrupio na maior secundária do Algarve, com 1550 alunos. Todos queriam ver as listas de turma e os horários. “Tenho aulas de manhã à noite”, lamentava um aluno. A elaboração dos horários, conjugando currículos antigos (Decreto-Lei 286/89) e recentes (Decreto-Lei 74/04), foi uma dificuldade apontada por Luís Correia. “Temos cerca de 100 disciplinas”, disse o presidente do Conselho Executivo.
As aulas nas quatro escolas do 1.º Ciclo do Agrupamento Terras do Mar, o maior na zona de Portimão, também só começam sexta-feira. Durante a semana, os professores vão reunir com pais e continuar a preparar o enquadramento das novas actividades de enriquecimento curricular. No primeiro dia do novo ano lectivo, só abriram 25% das escolas no Algarve. “Tudo decorre na normalidade”, comentou o director regional de Educação Libório Correia.

MATEMÁTICA PARA 200 MIL
Cerca de mil escolas dos 2.º e 3.º Ciclos apresentaram projectos para melhorar os resultados em Matemática. A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, reuniu ontem à porta fechada com professores no Pavilhão do Conhecimento para apresentar o balanço do Plano de Acção para a Matemática. No total, cerca de 200 mil alunos vão ser abrangidos por projectos que custarão nove milhões de euros.
A ministra referiu que 150 projectos estão já em condições de avançar. A aquisição de equipamento informático e de material didáctico ou ‘software’ específico foi o mais requisitado pelas escolas. Maria de Lurdes Rodrigues anunciou ainda a intenção de alargar ao Secundário o projecto de melhoria de resultados e criar um plano semelhante para Física e Química.

COMEÇAR AOS POUCOS
- 1039 escolas abriram ontem na região Norte, o que representa 26 por cento dos 3935 estabelecimentos de ensino.
- 37 agrupamentos de escolas dos 2.º e 3.º Ciclos e Secundário da região Centro que abriram (15%). Não há dados do 1.º Ciclo.
- 86 escolas no Algarve iniciaram as actividades lectivas no primeiro dia, um quarto do total das 347 escolas públicas.
- 64 escolas começaram as aulas na região de Lisboa e Vale do Tejo, o que corresponde a 3,8 por cento de um total de 2320 escolas.
- 85 por cento das escolas da região de Lisboa e Vale do Tejo têm apresentações quinta e sexta--feira. Aulas mesmo, só no dia 18.
- 2307 escolas da região Norte abrem nos dias 14 e 15, o que representa 58 por cento do total.

BRINCADEIRAS FORA DO RECREIO
Os alunos aproveitaram para brincar à porta da escola. A ministra da Educação assinala o início oficial do ano lectivo visitando hoje três escolas do concelho de Faro

MANUAIS RETIDOS NOS AÇORES
Milhares de livros escolares estão retidos em Ponta Delgada devido a um diferendo entre um transitário e uma empresa de transportes marítimos.

FREIXO COM AULAS
Apesar da tempestade que se abateu, sábado, sobre Freixo de Espada à Cinta, o arranque das aulas decorreu dentro da normalidade, sem nenhum impedimento.

MORREU TERESA AMBRÓSIO
Teresa Ambrósio, ex-presidente do Conselho Nacional de Educação, morreu ontem. Guilherme Oliveira Martins definiu-a como “uma referência do pensamento educativo”.

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