Sindicalistas da educação custam 8 milhões por ano
0 Comments Published by . on segunda-feira, junho 12, 2006 at 12:30 da tarde.Os sindicatos de professores vão ter menos docentes a exercer a actividade sindical a tempo inteiro. Em 2005, o Ministério da Educação diminuiu o número de professores dispensados para os sindicatos (de 1327 passaram a ser 450). Este ano quer baixar ainda mais. “O Ministério tem uma proposta para reduzir ainda mais e avança com 250. Não rejeitamos este número, mas acho que deve ficar pelos 300”, explica João Dias da Silva, secretário-geral da Federação Nacional dos Sindicatos da Educação (FNE).
Os 450 professores que estão destacados nos sindicatos – 180 na Federação Nacional de Professores (Fenprof), 120 na FNE, 40 no Sindicato Nacional e Democrático de Professores (Sindep), 20 no Sindicato Nacional dos Profissionais da Educação (Sinape) e dez em cada um dos independentes – representam uma despesa anual superior a oito milhões de euros. No ano lectivo passado, estavam destacados 1327 docentes. Destes, 1089 estavam a tempo inteiro, sem dar aulas, que custavam por ano 20 milhões de euros, segundo estimativas do Governo.
PULVERIZAÇÃO SINDICAL
São mais de 25 os sindicatos representantivos dos professores, a maior parte dos quais federados na Fenprof (CGTP) e na FNE (UGT). “Há uma pulverização grande dos sindicatos, que por vezes se reflecte nas posições muito divergentes”, considera João Dias da Silva. O dirigente defende que a distribuição das vagas dos professores dispensados deveria respeitar “os trabalhos e estudos realizados, a participação social e em conselhos consultivos”.
Carlos Chagas, secretário-geral do Sindep, diz que “é justo que se dê” ajuda aos sindicatos. “O Estado gasta muito menos agora, pois os sindicatos acordaram que os professores dispensados deveriam ficar a tempo inteiro, acumulando os créditos de quatro professores dirigentes e que poderiam faltar quatro dias por mês com justificação”. Os dirigentes que cedem os créditos “estão na escola a tempo inteiro, a produtividade é muito maior”.
PERFIS
PAULO SUCENA
Licenciado em Filosofia pela Univ. de Lisboa, é secretário-geral da Fenprof desde 1994 e presidiu ao SPGL 17 anos (não concorreu às eleições de 6 de Junho). Membro da Comissão Executiva e do Conselho Nacional da CGTP. Foi membro do comité central do PCP. Saiu para se juntar ao Movimento de Renovadores Comunistas.
JOÃO DIAS DA SILVA
52 anos, é licenciado em Filologia Românica. Professor de Português/ Francês, passou por duas escolas comerciais e industriais e por várias escolas secundárias. É presidente do Sindicato dos Professores da Zona Norte desde 1998 e secretário-geral da FNE. Preside à UGT.
CARLOS CHAGAS
59 anos, professor universitário, é secretário-geral do SINDEP e presidente da FENEI. Filiado no PSD, é membro do Conselho Nacional do partido e membro da comissão executiva da UGT.
NOTAS
FENPROF CONGREGA SETE
Sindicatos que constituem a Fenprof: SP Grande Lisboa, SP Madeira, SPR Açores, SPR Centro, SPZ Sul, SP Norte e SP Estrangeiro.
ONZE CONSTITUEM FNE
A FNE é constituída por onze sindicatos, entre os quais o Sindicato dos Delegados Escolares. Tem três sindicatos dos auxiliares de educação.
OUTROS SINDICATOS
Duas federações: FENEI/ SINDEP, FEPECI/ SINAPE; e seis sindicatos independentes: ASPL, SEPLEU, SIPE, SIPPEB, SNPL e SPLIU.
POLÉMICA: O PAPEL DOS PAIS
"O ALUNO JÁ FAZ O JULGAMENTO" (Lídia Jorge, professora do secundário aposentada, escritora)
Correio da Manhã – Os pais devem avaliar os professores?
Lídia Jorge – É uma utopia útil, mas não é praticável no nosso país.
– Porquê?
– A Educação tem um impacto tão grande e uma função tão grande, que é preciso fazer a distinção entre o que são as novas gerações e os pais. Os pais não têm competência para avaliar os professores, a não ser, talvez, apreciações de sentido moral. Mas o professor não pode ser avaliado dessa forma. Pode haver professores rígidos, mas eficazes do ponto de vista do ensinamento. Os sorrisos e a simpatia são coisas importantes, mas e a competência, eficácia pedagógica e científica? Muitas vezes não passa para os pais. O olhar mais duro é o dos alunos, o aluno já faz o julgamento do professor. O que tem de se criar é outro sentido da comunidade escolar e noção da comunidade académica. A participação é importante, deve-se criar um ambiente familiar na escola, para os pais irem à escola, mas não para julgar.
– Deve haver avaliação externa do trabalho dos professores?
– Acho que pode ser avaliado por elementos externos, mas com cotação mínima. Pode-se saber como é visto fora da escola, na comunidade, mas não pode interferir na progressão, pois podem-se gerar fenómenos de injustiça, de populismo, de facilitismo.
"AVALIAR O SISTEMA DE ENSINO" (Manuel J. Ramos, presididente da ACA-M, filhos na creche)
Correio da Manhã – Os pais devem avaliar os professores?
Manuel João Ramos – Os pais podem participar na avaliação, mas não serem os avaliadores. Não têm capacidade pedagógica.
– Porquê?
– É preciso que os pais participem mais activamente no processo educativo e se informem do trabalho dos filhos. O que acontece é que os pais delegam no professor a sua parte da educação, tornando as escolas em depósitos de crianças. Infelizmente, o sistema está assim montado. E os professores são uma classe corporativa, que muitas vezes se esquece que o principal interessado é o aluno e não o professor. Se os professores não estão dispostos a ouvir os pais, os pais também não sentem interesse em participar. Mas devem avaliar o sistema de ensino.
– Quais os critérios que podem ser avaliados pelos pais?
– Os pais podem identificar um problema na identificação do problema do filho. Tivémos de tirar um filho da escola porque a professora estava à beira da reforma e com problemas e gritava sempre com ele. Identificámos esse problema e decidimos mudá-lo. O que falta são mecanismos para resolver os problemas de forma eficaz.
– Deve haver avaliação externa do trabalho dos professores?
– Os professores não estão devidamente avaliados. As pessoas têm de estar sujeitas a avaliação externa e não apenas à da corporação. Em muitos casos não há reciclagem de professores.
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