A cultura da escola não promove a participação dos pais
0 Comments Published by . on segunda-feira, junho 12, 2006 at 12:28 da tarde.Os pais não participam na vida da escola e só acompanham o percurso académico dos filhos através dos trabalhos de casa. Segundo o mesmo estudo, apoiado pela Fundação Calouste Gulbenkiam, "a cultura das escolas não promove a participação dos pais" e verifica-se uma "escassez de programas" com esse objectivo.
De acordo com a investigadora Ana Isabel Pereira - responsável pelo estudo -, quando os TPC são completamente realizados em casa, os pais de crianças de estratos socioeconómicos mais baixos afirmaram ter "menor diponibilidade e ser menos competentes para esse auxílio". Por outro lado, não é certo que, mesmo em famílias de maior rendimento haja um apoio efectivo dos pais nos trabalhos de casa.
Pedro Silva aponta os resultados de um trabalho de investigação que orientou, segundo os quais "a maioria dos TPC são feitos em todo o lado menos em casa: explicadores, amas ou ATL". É que, ainda que os pais concordem que os TPC são importantes, "nem sempre estão de acordo com a sobrecarga que isso representa na família e acabam por, passo a expressão, passar a bola".
Este investigador da ESEL defende que "as actividades académicas devem ser feitas na escola". Concorda por isso com a intenção de Maria de Lurdes Rodrigues. "Mas sem fundamentalismos: em algumas circunstância pode ser útil o trabalho fora de aulas, em família ou com os vizinhos", explica. Pedro Silva garante ainda não ter dúvidas de que, tal como a ministra afirmou, "os TPC são uma forma de reprodução das desigualdades sociais".
Também Teresa Seabra pensa que "algumas famílias não têm condições de fazer o acompanhamento dos filhos a este nível". E se para estes casos - cuja expressão na sociedade portuguesa não está ainda apurada - a medida da ministra será importante, "para os outros não deverá influenciar".
Numa contabilidade global, "o sistema pode ficar a ganhar alguma coisa, mas o insucesso é um problema mais complexo que não se resolve apenas aqui". Quanto aos alunos com pais mais preparados para os ajudar, "poderá haver alguma perda nessa relação que se constrói sobre o que se passa na escola, mas essa relação não fica condenada porque não se restringe aos TPC".
A equipa de Ana Isabel Pereira salienta que "os pais são importantes na aprendizagem e no progresso escolar das crianças", sugerindo formas de envolver mais os progenitores. Mas esse envolvimento, esclarecem, pode também passar pelo espaço da própria escola ou por visitas da comunidade escolar a casa.
Quando andava na escola, Lígia Maria, 43 anos, gráfica, levava "recadinhos" dos professores para os pais por não ter feito os trabalhos de casa. Já na altura considerava que estas tarefas "não incutem o desejo de investigar e estudar". Mais tarde, mãe, escolheu para os dois filhos uma escola "com tradição de não mandar muitos trabalhos para casa".
Hoje, o filho mais novo, de dez anos, frequenta uma escola oficial em que os TPC são rotina. Lígia já tentou propor o fim desta obrigação numa reunião de pais, mas a iniciativa foi mal recebida. A ideia não venceu e a mãe optou por não demonstrar ao filho que é absolutamente contra os trabalhos de casa, considerando até que impedem as crianças de "usufruir do pouco tempo que têm ao fim do dia com os pais".
Para Alexandra, de 41 anos, técnica de farmácia, os TPC só têm vantagens: "Ajudam a ter métodos de estudo e permitem que os pais não se afastem da vida escolar dos filhos." Alexandra compreende que haja quem não consiga acompanhar o ritmo do ensino: "Eu própria já tenho algumas dificuldades com as contas de dividir." Mas Joaquim, o filho, de sete anos, é um bom aluno, que "gosta da escola e adora a professora, o que ajuda". Sem stress, ele confessa: "Umas vezes levo tudo certo e outras vezes levo certo e errado."
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