Professoras Desesperadas

Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar.


Sete mil à chuva exigem que a ministra vá dar aulas

O pedido surgiu do palanque como uma ordem: “Vamos esperar pelo regresso da comissão negociadora e daqui ninguém arreda pé”. Já passava das seis da tarde e a chuva, em forma de dilúvio, não foi suficiente para demover os mais de sete mil professores e educadores de infância que se concentravam em frente ao Ministério da Educação, em Lisboa.
Uma manifestação que mobilizou mais professores do que em Novembro e que levou os dirigentes sindicais a satirizar: “Vem provar que não aproveitámos para fazer ponte”.
Desde o Parque Eduardo VII até à Av. 5 de Outubro, a maioria envergando roupa preta, em sinal de luto, milhares de professores marcharam em silêncio. As trovoadas e a chuva não foram suficientes para desanimar. “Não houve chuva que arredasse estes milhares de professores que estão aqui para dizer que estão fartos do discurso da ministra e dos secretários de Estado que os humilham e ofendem todos os dias”, afirmou o secretário-geral da Fenprof, Paulo Sucena. Os manifestantes exigiram a demissão da ministra.
Na retina dos professores estavam ainda as declarações de Maria de Lurdes Rodrigues, que no final do Conselho de Ministros considerou haver “sindicatos capturados por partidos e que têm uma agenda que não é a Educação”, afirmando referir-se em concreto à Fenprof. “Desde a sua fundação que a Fenprof tem uma agenda política clara, que é construir uma escola pública de qualidade para todos os portugueses e construir uma profissão docente com dignidade. Esta é uma agenda política, não tem qualquer natureza partidária”, garantiu António Avelãs, presidente eleito do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa.
“Vai dar aulas, vai dar aulas”, foi um dos ‘slogans’ mais ouvidos em frente ao Ministério da Educação. Às 17h57, cumpriu-se um minuto de silêncio, “em luto pela educação”.
Pedro Berlenga, professor de Português/Francês na Secundária Eça de Queirós (Olivais), é professor há 11 anos e considera que os encarregados de educação “não têm competência” para avaliar o seu trabalho. No entanto, ressalva, “é preciso ver que pais é que poderiam avaliar, porque há muitos que não vão às reuniões nem se interessam pelo trabalho dos filhos”. José Matias, docente de Artes no 3.º Ciclo, aponta o dedo à plurianualidade das colocações. “É destruidor das famílias dos professores, é uma medida raivosa contra a vida do casal.” No seu caso, vai passar três anos a percorrer mais de 200 quilómetros diários – vive em Óbidos e dá aulas em Loures. “O objectivo é afastar as pessoas do ensino”, acusa.

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