Professoras Desesperadas

Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar.


Manifestação de professores entope avenidas em Lisboa

A partir das 15 horas de hoje, algumas das principais avenidas de Lisboa vão ficar entupidas devido à manifestação dos professores, decretada pela Federação Nacional de Professores (Fenprof).
No dia em que se cumpre a terceira greve de professores dos últimos doze meses, são esperados no Parque Eduardo VII cerca de cinco mil docentes. O percurso até ao Ministério da Educação (ME), na Av. 5 de Outubro, em Lisboa, passa pela Av. Fontes Pereira de Melo, Praça do Saldanha e Avenida da República, confirmou ao CM uma dirigente sindical – um percurso igual ao da manifestação de Novembro, que juntou seis mil professores e que demorou mais de duas horas a passar.
Desta vez, os professores vão envergar roupa preta, em sinal de luto e protesto contra a proposta de alteração do Estatuto da Carreira Docente. Na base da contestação, entre outras propostas, está a possibilidade de os pais avaliarem os professores e a imposição de quotas para a progressão na carreira.
O protesto, organizado pela Fenprof, que representa cerca de 70 mil docentes, recebeu o apoio de quatro sindicatos independentes. A FNE decidiu não aderir e a FENEI apelou aos associados para participarem na manifestação.
Ontem, a Fenprof ameaçou recorrer ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, caso o Governo insista na intenção de transferir para o quadro de supranumerários os docentes declarados incapazes de dar aulas. “É uma crueldade do Ministério, medida injusta e inaceitável, do ponto de vista social e humano”, afirmou Paulo Sucena, secretário-geral da Fenprof.
A greve de hoje, entre dois feriados em 14 concelhos do País, afecta todas as escolas e graus de ensino público, apenas não atingindo os alunos dos 9.º e 12.º anos (já sem aulas). Sexta-feira é o último dia de aulas para os alunos do 11.º ano.

PRESIDENTE DEFENDE MUDANÇA
Questionado sobre os recentes casos de violência nas escolas, o Presidente da República, Cavaco Silva, defendeu ontem que é preciso mudar a escola e o sistema de ensino e deixar a ministra (da Educação) actuar para melhorar a qualidade do sector. O Chefe de Estado falava numa audiência com seis alunos e professores de escolas do Montijo, integrados no projecto Escola da Cidadania.
Para justificar esta opinião, Cavaco Silva lembrou os “relatórios internacionais que revelam a ineficiência no sistema de ensino em Portugal”. Sublinhou ainda que “a qualificação dos recursos humanos é uma das batalhas mais importantes que temos de ganhar para nos aproximarmos dos níveis de desenvolvimento dos países da Europa.”

'NINGUÉM ME AVALIAVA' (Cristina Ferreira, apres. TV, ex-prof. Port./ História)
Correio da Manhã – Os pais devem avaliar os professores?
Cristina Ferreira – Acho que sim, desde que com uma percentagem mínima.

– Porquê?
– São os pais quem sabe o que cada professor faz ou não dentro da sala de aula. Um pai atento pode estar habilitado a dar opinião. Mas avaliar a capacidade de conhecimento das matérias, não me parece que possam fazê-lo. Também há pais negligentes, é um facto, mas os que estão presentes e que acompanham devem ter uma palavra a dizer.

– Quais os critérios que podem ser avaliados pelos pais?
– Muitas vezes os professores são os primeiros a fazer a despistagem de alguns problemas da família ou do aluno. Os pais podem avaliar em termos relacionais, como é que o professor se relaciona com os alunos. Se todos os pais têm a mesma queixa do mesmo professor, essa opinião deve contar, porque há alguma razão para que tal aconteça.

– Deve haver avaliação externa do trabalho dos professores?
– O que me fazia mais confusão quando dei aulas é que ninguém me avaliava. Eu não tinha estudado para ser professora, mas não tive ninguém a assistir às aulas. A avaliação é feita nos estágios dos que vêm das escolas de educação. Os outros, como eu, não eram avaliados.

'PAIS PODEM ACONSELHAR' (Toy, cantor, tem uma filha no 8º ano)
Correio da Manhã – Os pais devem avaliar os professores?
Toy – Acho que é um bocadinho de prepotência. Mas é sempre subjectivo.

– Porquê?
– Cada família tem a sua forma diferente de estar. Nem todas as pessoas têm formação para perceber como é que os professores devem educar, se o estão a fazer correctamente ou não. O que os pais podem fazer é aconselhar os professores, reunir de vez em quando com o director de turma para perceber qual é a melhor forma de educar o filho. Acho que assim é uma boa ideia.

– Quais os critérios que podem ser avaliados pelos pais?
– Acho que não se deve aplicar critérios. O que deve haver é conversa entre os pais e os directores de turma. Há pais que são mais pela repressão e outros mais liberais. O professor que tem dois alunos, que vêm de famílias diferentes, deve reunir com esses pais para chegar a um acordo sobre a melhor forma de educar, como é que a criança deve ser acompanhada. Por exemplo, se um filho não é reprimido em casa por fumar, não é conveniente que o seja na escola. Terá de haver uma forma de acordo entre pais e professores. A finalidade é que se encontre o melhor para os filhos, até porque estão a aprender a viver. Tem de haver equilíbrio, já que dividem o tempo entre a casa e a escola.

– Sente-se com capacidade para avaliar?
– Estou sempre em condições de avaliar quem lida directamente com os meus filhos. Mas não me estou a ver com capacidade de fazer qualquer tipo de repreensão aos professores.

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