Agressões opõem pais a professores
0 Comments Published by . on quarta-feira, junho 14, 2006 at 1:12 da manhã.
O ambiente nas escolas não anda calmo. Na sexta-feira, uma professora da escola do 1.º Ciclo n.º 77 de Lisboa (São Gonçalo, no bairro do Lumiar) foi agredida à bofetada por uma pessoa amiga de um aluno. Os pais acusam a docente de ter agredido o filho com uma chapada. Nesse mesmo dia, a 500 quilómetros de distância, duas famílias agrediram a soco e a pontapés um professor, que terá alegadamente assediado duas alunas, em Chaves.
No Bairro dos Sete Céus (Lumiar) o clima é de guerra entre os pais de vários alunos do 1.º Ciclo e a coordenadora da escola n.º 77. Ontem não houve aulas – os professores fecharam a escola devido à insegurança. Eduardo Jerónimo, de 12 anos, aluno do 4.º ano, está no centro da história: “Estava a comer umas laranjas com uns colegas e deixei cair um caroço. A professora disse para eu apanhar, houve um colega que lhe chamou nomes e ela deu-me uma chapada. Fartei-me de chorar”, recorda.
“Uma senhora que conhecemos, também cigana, ia a passar e viu o miúdo a chorar no recreio. Entrou e perguntou à professora porque é que lhe bateu. Depois deu-lhe uma chapada também”, conta Maria Pilar, a mãe. O miúdo confirma. “Foi bem dada, se fosse eu dava-lhe mais”, frisa Maria Pilar. “O Eduardo não chamou nomes a ninguém, é tudo mentira”, garante o pai, Francisco Jerónimo.
Os pais daquela escola acusam repetidamente os professores de baterem nos miúdos. “A minha filha já levou chapadas e foi empurrada contra uma parede e o meu sobrinho também já foi agredido”, conta Cláudia Caniça. “A professora é racista, mas aqui não moram só ciganos”, diz outra moradora.
Da escola, apenas a representante sindical foi autorizada a falar. Paula Adeganha, do Sindicato Democrático dos Professores da Grande Lisboa, refutou as acusações. “A professora desmente categoricamente essa agressão”. O director regional de Educação de Lisboa, José Leitão, disse não ter conhecimento de outras situações de violência física e verbal na escola, acrescentando que se houve algum problema, a própria escola resolveu-o.
SOCOS E PONTAPÉS
Também na sexta-feira, um professor da Escola Básica 2, 3 Dr. Francisco G. Carneiro, em Chaves, foi agredido por duas famílias, por alegado assédio sexual a duas jovens de 14 anos. Três pessoas – os pais de uma aluna e a mãe de outra – esperaram o professor ao fim da tarde no parque automóvel da escola e agrediram-no a soco e pontapé. O docente, que lecciona Português, recebeu tratamento hospitalar e deu conta da ocorrência à PSP.
Durante o inquérito referiu que lida com todos os alunos por igual. A PSP confirma a queixa e, segundo o comissário Almor Marinheiro, os três agressores já foram identificados.
VIOLÊNCIA ESCOLAR
1232 casos de violência escolar registados pelo Ministério da Educação no ano lectivo 2004/05 – mais 181 que no ano anterior.
1014 casos de violência envolvendo a integridade física dos alunos. Em 159 foi necessário tratamento hospitalar.
79 professores foram agredidos em 2004/05. Onze foram assistidos no hospital. Também foram agredidos 139 funcionários.
2142 crimes registados pela PSP, no Programa Escola Segura, em 2004/05, nas imediações das escolas.
1287 roubos e furtos nas imediações das escolas foram registados pela PSP, no Programa Escola Segura, em 2004/05.
530 agressões foram registadas nas imediações das escolas pela PSP. Ainda se registaram 211 crimes de vandalismo.
43 indivíduos foram detidos no ano passado pela PSP/ Escola Segura: 26 por tráfico, 11 por furto e oito por roubo.
CASOS RECENTES
As agressões de pais a professores têm vindo a aumentar nos últimos meses. Em Março, uma professora de uma escola de Barrocal (Castro Marim) foi agredida com duas bofetadas pelos pais de dois alunos a quem a docente deu boleia.
Os pais queixaram-se de tentativa de rapto. A professora apresentou queixa e o processo está no Ministério Público.
Em Abril, uma mãe, acusada de ter agredido a professora da filha em Repeses (Viseu) foi condenada ao pagamento de multa e indemnização por danos não patrimoniais, no valor de três mil euros. Uma funcionária de uma empresa de catering foi agredida pelo pai de um aluno da EB1 n.º 31 de Lisboa.
ERROS DAS ESCOLAS FIZERAM DESAPARECER VAGAS A CONCURSO
Um número indeterminado de vagas “seguramente superior a 1000”, desapareceu misteriosamente do concurso nacional de professores. A denúncia foi lançada pela Federação Nacional de Professores (Fenprof). A Direcção-Geral dos Recursos Humanos da Educação (DGRHE) garante que foram a concurso “todas as vagas comunicadas pelas escolas” e que terá havido estabelecimentos de ensino que preencheram erradamente um dos campos do formulário electrónico de validação das candidaturas. A tutela rejeita insinuações sobre as vagas “alegadamente desaparecidas”.
Em comunicado enviado à Imprensa, a Fenprof explica que o desaparecimento das vagas terá tido origem no processo que leva os professores a pedir transferência de quadro. “Tendo saído de um quadro para outro determinado número de docentes, apenas se recuperaram parte dos lugares deixados vagos. Os restantes desapareceram”, acusa a estrutura sindical. A Fenprof estima que só em Lisboa terão desaparecido 227 vagas para o 1.º Ciclo. Seguem-se o Porto, com 93, e o Alentejo, com 42 lugares. Ao nível da educação pré-escolar, por exemplo, ‘evaporaram-se’ mais 226 vagas em todo o País. A Fenprof afirma que “milhares de professores terão sido prejudicados”.
Considerando este um erro grosseiro do Ministério da Educação, a Fenprof diz que só há uma solução: “Repetir o processo de colocação de docentes, respeitando a legislação em vigor que obriga à recuperação de todas as vagas”.
A DGRHE informou ter recebido “recursos de candidatos que alegam ter havido vagas não constantes do concurso”. Nos casos em que as escolas erraram, a DGRHE “corrigirá as situações”, considerando que a “especulação pública em torno da fase de recurso apenas tenta criar a impressão de instabilidade do concurso”. Só amanhã os serviços terão informação sobre os recursos apresentados. Por coincidência, amanhã hágreve de professores.
“ENSINO É QUASE OBRA MISSIONÁRIA” (Valentina Torres, explicadora, ex-prof., cantora/apresentadora
Correio da Manhã – Os pais devem avaliar os professores?
Valentina Torres – Penso que não se deveria chegar a tal ponto, apesar de ser prática corrente nalguns países.
– Porquê?
– A avaliação deve ser coordenada por alguém com capacidade. Julgo que a medida não visa atacar os professores, mas sim levar os pais a participarem muito mais na escola e na comunidade escolar. Há muitos que não participam, não se informam. Não havia necessidade de chegar aqui se o ensino não se tivesse degradado tanto. Mas os professores que estão de consciência tranquila não têm nada a recear. Acho que antes de ser para agredir os professores, a ideia é responsabilizar os pais, principalmente os que não aparecem. É obrigar os pais a aproximarem-se dos filhos, o que é cada vez mais difícil, há cada vez menos tempo disponível.
– Deve haver avaliação externa do trabalho dos professores?
– Acho que sim. Há muitos pedagogos que não têm o mínimo jeito para ensinar, não conseguem transmitir a sua mensagem. Há muitos jovens no desemprego e que vão dar aulas quando nunca lhes passava pela cabeça sequer essa hipótese. Mas o ensino é quase uma obra missionária, é como ser médico. Dar aulas a vinte e tal alunos é obra.
“DEVE SER UM TRABALHO CONJUNTO” (Júlio Isidro, apresentador de TV, filhas na creche e 2.º ano)
Correio da Manhã – Os pais devem avaliar os professores?
Júlio Isidro – Concordo com a participação dos pais na avaliação dos professores.
– Quais os critérios que podem ser avaliados pelos pais?
– Os pais envolvidos com os professores poderão contribuir para melhorar a Educação. Mas há falhas de ambas as partes. Se há professores que deixam muito a desejar quanto ao sacerdócio ou missão, também há pais que não exercem em pleno. Concordo que deve ser muito mais um trabalho conjunto, de cooperação, do que o pressuposto de darem notas aos professores. Acho isso um bocado estranho. Se os pais se divorciam dos filhos, não me parece correcto que no fim do ano dêem nota ao professor. É um assunto muito delicado, tem de ser muito ponderado. Tenho consideração pelo professor, pela sua missão, mas também há muita gente que só vai assinar o livro de ponto e mais nada. Esses devem ser controlados. Não me parece mal que os pais dêem uma achega, desde que a sua avaliação seja apenas mais um contributo. Mas também têm de exercer o seu papel de pais para poderem ter capacidade e razão para participar.
– Sente-se com capacidade para avaliar?
– Acompanho a vida escolar da minha filha, mas não faço juízos de valor por dá cá aquela palha. Pelo que sei do trabalho do professor, pelo diálogo que tenho, os ‘feedbacks’ que são dados pela Mariana, tenho ideia bastante positiva da educação que lhe dá. Mas não remeto para o professor a educação da minha filha.
No Bairro dos Sete Céus (Lumiar) o clima é de guerra entre os pais de vários alunos do 1.º Ciclo e a coordenadora da escola n.º 77. Ontem não houve aulas – os professores fecharam a escola devido à insegurança. Eduardo Jerónimo, de 12 anos, aluno do 4.º ano, está no centro da história: “Estava a comer umas laranjas com uns colegas e deixei cair um caroço. A professora disse para eu apanhar, houve um colega que lhe chamou nomes e ela deu-me uma chapada. Fartei-me de chorar”, recorda.
“Uma senhora que conhecemos, também cigana, ia a passar e viu o miúdo a chorar no recreio. Entrou e perguntou à professora porque é que lhe bateu. Depois deu-lhe uma chapada também”, conta Maria Pilar, a mãe. O miúdo confirma. “Foi bem dada, se fosse eu dava-lhe mais”, frisa Maria Pilar. “O Eduardo não chamou nomes a ninguém, é tudo mentira”, garante o pai, Francisco Jerónimo.
Os pais daquela escola acusam repetidamente os professores de baterem nos miúdos. “A minha filha já levou chapadas e foi empurrada contra uma parede e o meu sobrinho também já foi agredido”, conta Cláudia Caniça. “A professora é racista, mas aqui não moram só ciganos”, diz outra moradora.
Da escola, apenas a representante sindical foi autorizada a falar. Paula Adeganha, do Sindicato Democrático dos Professores da Grande Lisboa, refutou as acusações. “A professora desmente categoricamente essa agressão”. O director regional de Educação de Lisboa, José Leitão, disse não ter conhecimento de outras situações de violência física e verbal na escola, acrescentando que se houve algum problema, a própria escola resolveu-o.
SOCOS E PONTAPÉS
Também na sexta-feira, um professor da Escola Básica 2, 3 Dr. Francisco G. Carneiro, em Chaves, foi agredido por duas famílias, por alegado assédio sexual a duas jovens de 14 anos. Três pessoas – os pais de uma aluna e a mãe de outra – esperaram o professor ao fim da tarde no parque automóvel da escola e agrediram-no a soco e pontapé. O docente, que lecciona Português, recebeu tratamento hospitalar e deu conta da ocorrência à PSP.
Durante o inquérito referiu que lida com todos os alunos por igual. A PSP confirma a queixa e, segundo o comissário Almor Marinheiro, os três agressores já foram identificados.
VIOLÊNCIA ESCOLAR
1232 casos de violência escolar registados pelo Ministério da Educação no ano lectivo 2004/05 – mais 181 que no ano anterior.
1014 casos de violência envolvendo a integridade física dos alunos. Em 159 foi necessário tratamento hospitalar.
79 professores foram agredidos em 2004/05. Onze foram assistidos no hospital. Também foram agredidos 139 funcionários.
2142 crimes registados pela PSP, no Programa Escola Segura, em 2004/05, nas imediações das escolas.
1287 roubos e furtos nas imediações das escolas foram registados pela PSP, no Programa Escola Segura, em 2004/05.
530 agressões foram registadas nas imediações das escolas pela PSP. Ainda se registaram 211 crimes de vandalismo.
43 indivíduos foram detidos no ano passado pela PSP/ Escola Segura: 26 por tráfico, 11 por furto e oito por roubo.
CASOS RECENTES
As agressões de pais a professores têm vindo a aumentar nos últimos meses. Em Março, uma professora de uma escola de Barrocal (Castro Marim) foi agredida com duas bofetadas pelos pais de dois alunos a quem a docente deu boleia.
Os pais queixaram-se de tentativa de rapto. A professora apresentou queixa e o processo está no Ministério Público.
Em Abril, uma mãe, acusada de ter agredido a professora da filha em Repeses (Viseu) foi condenada ao pagamento de multa e indemnização por danos não patrimoniais, no valor de três mil euros. Uma funcionária de uma empresa de catering foi agredida pelo pai de um aluno da EB1 n.º 31 de Lisboa.
ERROS DAS ESCOLAS FIZERAM DESAPARECER VAGAS A CONCURSO
Um número indeterminado de vagas “seguramente superior a 1000”, desapareceu misteriosamente do concurso nacional de professores. A denúncia foi lançada pela Federação Nacional de Professores (Fenprof). A Direcção-Geral dos Recursos Humanos da Educação (DGRHE) garante que foram a concurso “todas as vagas comunicadas pelas escolas” e que terá havido estabelecimentos de ensino que preencheram erradamente um dos campos do formulário electrónico de validação das candidaturas. A tutela rejeita insinuações sobre as vagas “alegadamente desaparecidas”.
Em comunicado enviado à Imprensa, a Fenprof explica que o desaparecimento das vagas terá tido origem no processo que leva os professores a pedir transferência de quadro. “Tendo saído de um quadro para outro determinado número de docentes, apenas se recuperaram parte dos lugares deixados vagos. Os restantes desapareceram”, acusa a estrutura sindical. A Fenprof estima que só em Lisboa terão desaparecido 227 vagas para o 1.º Ciclo. Seguem-se o Porto, com 93, e o Alentejo, com 42 lugares. Ao nível da educação pré-escolar, por exemplo, ‘evaporaram-se’ mais 226 vagas em todo o País. A Fenprof afirma que “milhares de professores terão sido prejudicados”.
Considerando este um erro grosseiro do Ministério da Educação, a Fenprof diz que só há uma solução: “Repetir o processo de colocação de docentes, respeitando a legislação em vigor que obriga à recuperação de todas as vagas”.
A DGRHE informou ter recebido “recursos de candidatos que alegam ter havido vagas não constantes do concurso”. Nos casos em que as escolas erraram, a DGRHE “corrigirá as situações”, considerando que a “especulação pública em torno da fase de recurso apenas tenta criar a impressão de instabilidade do concurso”. Só amanhã os serviços terão informação sobre os recursos apresentados. Por coincidência, amanhã hágreve de professores.
“ENSINO É QUASE OBRA MISSIONÁRIA” (Valentina Torres, explicadora, ex-prof., cantora/apresentadora
Correio da Manhã – Os pais devem avaliar os professores?
Valentina Torres – Penso que não se deveria chegar a tal ponto, apesar de ser prática corrente nalguns países.
– Porquê?
– A avaliação deve ser coordenada por alguém com capacidade. Julgo que a medida não visa atacar os professores, mas sim levar os pais a participarem muito mais na escola e na comunidade escolar. Há muitos que não participam, não se informam. Não havia necessidade de chegar aqui se o ensino não se tivesse degradado tanto. Mas os professores que estão de consciência tranquila não têm nada a recear. Acho que antes de ser para agredir os professores, a ideia é responsabilizar os pais, principalmente os que não aparecem. É obrigar os pais a aproximarem-se dos filhos, o que é cada vez mais difícil, há cada vez menos tempo disponível.
– Deve haver avaliação externa do trabalho dos professores?
– Acho que sim. Há muitos pedagogos que não têm o mínimo jeito para ensinar, não conseguem transmitir a sua mensagem. Há muitos jovens no desemprego e que vão dar aulas quando nunca lhes passava pela cabeça sequer essa hipótese. Mas o ensino é quase uma obra missionária, é como ser médico. Dar aulas a vinte e tal alunos é obra.
“DEVE SER UM TRABALHO CONJUNTO” (Júlio Isidro, apresentador de TV, filhas na creche e 2.º ano)
Correio da Manhã – Os pais devem avaliar os professores?
Júlio Isidro – Concordo com a participação dos pais na avaliação dos professores.
– Quais os critérios que podem ser avaliados pelos pais?
– Os pais envolvidos com os professores poderão contribuir para melhorar a Educação. Mas há falhas de ambas as partes. Se há professores que deixam muito a desejar quanto ao sacerdócio ou missão, também há pais que não exercem em pleno. Concordo que deve ser muito mais um trabalho conjunto, de cooperação, do que o pressuposto de darem notas aos professores. Acho isso um bocado estranho. Se os pais se divorciam dos filhos, não me parece correcto que no fim do ano dêem nota ao professor. É um assunto muito delicado, tem de ser muito ponderado. Tenho consideração pelo professor, pela sua missão, mas também há muita gente que só vai assinar o livro de ponto e mais nada. Esses devem ser controlados. Não me parece mal que os pais dêem uma achega, desde que a sua avaliação seja apenas mais um contributo. Mas também têm de exercer o seu papel de pais para poderem ter capacidade e razão para participar.
– Sente-se com capacidade para avaliar?
– Acompanho a vida escolar da minha filha, mas não faço juízos de valor por dá cá aquela palha. Pelo que sei do trabalho do professor, pelo diálogo que tenho, os ‘feedbacks’ que são dados pela Mariana, tenho ideia bastante positiva da educação que lhe dá. Mas não remeto para o professor a educação da minha filha.
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