Professoras Desesperadas

Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar.


Recrutar no local diminui indisciplina

O Ministério da Educação (ME) quer rever o modelo de recrutamento e colocação de professores, de modo a adequar as características do corpo docente às necessidades de cada escola.
Este é um dos instrumentos que a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, quer pôr em prática em casos específicos, para ajudar a combater a indisciplina nas escolas. “A escola tem de ser fiável”, disse a ministra ao Correio da Manhã.
A governante explicou que o ME está a “desenhar propostas de intervenção desenvolvidas e adaptadas a cada situação, para intervir caso a caso” nas escolas. Maria de Lurdes Rodrigues realçou o trabalho desenvolvido pelo Observatório para a Violência Escolar, o qual “melhorou muito o sistema de registo de ocorrências, que agora estão tipificadas e que permite identificar as escolas problemáticas”. Uma das escolas com problemas de indisciplina tem sido alvo de várias notícias nos últimos dias.
Sobre a greve de ontem, Maria de Lurdes Rodrigues lamentou que os sindicatos “aproveitem a insatisfação e o descontentamento dos professores para uma forma de conflito que é desajustado, uma oportunidade que é muito discutível”. A ministra mostrou-se “preocupada” com os efeitos que a paralisação possa ter no trabalho das escolas. “Gostava que os exames corressem bem, mas inventam-se fantasmas e criam-se ficções, problemas que não resolvem os problemas reais, que são os exames.”
Maria de Lurdes Rodrigues considerou ainda que os professores “estão numa época de muito trabalho, também estão em avaliação com os resultados dos alunos”.
Questionada sobre quais os pontos da proposta de revisão do Estatuto da Carreira Docente de que não abdicará em negociação, a ministra foi clara: a avaliação com componente externa, o reconhecimento do mérito e a estruturação da carreira. “É preciso alargar a participação dos pais, seja a avaliar os professores ou a escola. Tem de se tirar consequências da participação dos pais na escola. Não há nenhum fundamentalismo nisto”, defendeu.

PAIS PROTESTAM NA MUSGUEIRA
A manhã de ontem não foi fácil na escola do 1.º Ciclo n.º 77 de Lisboa (Musgueira). Pais e alunos encontraram os portões fechados e protestaram durante mais de meia hora pelo facto de não terem sido informados do encerramento.
Todos os professores e educadores de infância aderiram à greve. Por isso, esta semana, os 230 alunos só vão ter aulas um dia – amanhã. “Nesta escola, os professores são mais importantes do que os alunos, não se admite dizerem que abria hoje e obrigarem os pais a virem para nada”, criticou uma mãe.
Dentro da escola, os professores, acompanhados de dois seguranças do Ministério da Educação, observavam as movimentações dos pais no exterior. Três agentes da PSP também marcaram presença nas imediações da escola. Sandra Sofia tem dois filhos, nos 2.º e 4.º anos, e perdeu um dia de trabalho. “Pensei que iam ter aulas e afinal vou ter de ficar em casa, com o dia descontado no ordenado”, lamentou.
Dez professoras aceitaram conversar com os jornalistas, explicando que o encerramento da escola na segunda-feira foi decidido “devido a uma série de agressões, que chegaram a um limite” e criticam os pais de alguns alunos de “se queixarem por tudo e por nada”. As professoras refutam as acusações de vários pais e crianças de agressões a alunos. “Se batemos, por que é que não há qualquer queixa contra um professor?”, perguntam.

UM TERÇO NÃO DEU AULAS
A greve de ontem apresentou uma média de adesão nacional inferior a 30 por cento, segundo os dados do Ministério daEducação. Números que contrariam os que foram avançados pelos sindicatos.
Na região de Lisboa foram encerradas 349 escolas do Pré-escolar e 1.º Ciclo (18 por cento do total). No agrupamento de escolas Francisco de Arruda dois estabelecimentos fecharam as portas – EB1 de Santo Amaro e EB1 Alexandre Rodrigues Ferreira. Segundo Mário Godinho, do Conselho Executivo do agrupamento, “há menos professores que o habitual em greve, pois estão preocupados com as aulas e a avaliação dos alunos”.
No agrupamento dos Olivais duas escolas do 1.º Ciclo com jardim-de-infância não abriram e na EB2,3 dos Olivais só quatro dos 51 professores compareceram no período da tarde.
Em Benfica, 17 dos 59 professores da EB2,3 Pedro Santarém deram aulas durante a manhã. Na região Centro encerraram 331 das 2500 escolas e 4394 dos 16671 docentes faltaram às aulas.

OS NÚMEROS DA GREVE
Informação apresentada na seguinte ordem: Região - Ministério - Sindicatos - Escolas encerradas
Nacional - 30% - 70/80% - n.d.
Algarve - 19% - 70% - n.d.
Alentejo - 17% - 50% - n.d.
Centro - 21% - 80% - 331
Lisboa - 35% - 70% - 349
Norte - 15% - 55/80% - n.d.
Madeira - 30% - n.d. - n.d.
Açores – Não foram disponibilizados dados

'AVALIAÇÃO É SEMPRE POSITIVA' (Nuno Delgado, ex-prof. Educação Física, judoca)
Correio da Manhã – Os pais devem avaliar os professores?
Nuno Delgado – Os pais podem ter uma palavra a dizer, mas não devem ser os únicos a avaliar o desempenho.

– Porquê?
– Serão sempre subjectivos. Há certos pormenores que podem avaliar e outros não, como a nota dos filhos ou a capacidade de leccionar, por exemplo. Pode ser uma avaliação subjectiva. E muitas vezes não participam muito, não têm opinião formada. O ‘feedback’ que têm é dos filhos. É preciso serem mais activos na vida escolar.

– Quais os critérios que podem ser avaliados pelos pais?
– Podem avaliar o desempenho nas aulas. Os pais que têm conhecimento e oportunidade de falar nas reuniões com o director de turma e de ser informados do que se vai passando devem dar a sua opinião a determinado professor.

– Deve haver avaliação externa do trabalho dos professores?
– Acho que sim, faz sentido, desde que seja com peso e medida. Concordo com a realidade de os professores serem avaliados. A avaliação é sempre positiva para qualquer professor e acho que nenhum se deve opor. Mas é preciso ver quem é que vai avaliar e o quê, quais os aspectos envolvidos. Todas as informações podem ser úteis para a avaliação final do professor.

'É PRECISO MAIS DIÁLOGO' (Sofia Sá da Bandeira, actriz/escritora, filho no 11.º)
Correio da Manhã – Os pais devem avaliar os professores?
Sofia Sá da Bandeira – É um tema muito complicado. Acho que os pais deviam participar mais nas escolas.

– Porquê?
– Ser professor não é fácil e ser pai também não. É preciso mais diálogo entre professores e pais. Seria melhor uma postura diferente. Às vezes custa ir às reuniões com o director de turma e ouvir intervenções de pais que vão e começam a contar a vida dos filhos. Acho que tem de haver muito diálogo. Não deve ser um julgamento de qualquer culpabilidade, mas sim um diálogo possível, em vez de uma causa terrorista entre pais, alunos e professores. Acho que é um passo importante. Há pais que são manipulados pelos filhos e participam pouco na escola. Tem de haver mais interesse. Não pode ser só despejar os alunos e depois, quando há qualquer problema, irem reclamar à escola. Mas também é necessário verificar o trabalho dos professores. Se tiverem gosto pela profissião, deveriam querer crescer e aperfeiçoar-se. Isso deve partir da pessoa. É triste se tivermos de chegar a um ponto em que tem de haver uma avaliação vinda de fora da escola.

– Quais os critérios que podem ser avaliados pelos pais?
– A pedagogia é a coisa mais importante e há professores que não têm capacidade. É preciso saber qual é a formação dos pais, em termos humanos, cívicos, como pessoas.

– Sente-se com capacidade para avaliar?
– Não sei. Temos de nos questionar que formação é que temos para poder julgar.

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