REALIDADES-27: O inferno dos produtos das novelas
0 Comments Published by . on quinta-feira, junho 08, 2006 at 12:15 da manhã.O fenómeno de popularidade "Morangos com açúcar" já não é filho único no mercado. "Floribella", em exibição na SIC, foi ontem o segundo programa mais visto do dia. Muito em breve, a 19 de Junho, será lançado o primeiro produto comercial associado à marca "Floribella" um CD, para começar. Isto porque está previsto colocar à venda roupa de cama, um perfume, uma revista, além das saias e bijuteria. A passagem para o palco da banda também se equaciona, à semelhança de os D'Zrt.
Sofia Moura, coordenadora do gabinete de Licensing e Marchandising da SIC, conta que o pacote de merchandising já vinha atrelado à novela e que o licenciamento de marcas é um instrumento de marketing cada vez mais em voga, até porque consegue bons resultados junto do público infanto-juvenil. "As crianças com 12 anos já têm impulso de compra e daí que sejam elas o principal alvo", reconhece. O sociólogo Carlos Silva, embora não seja adepto da teoria que só vê más influências destes produtos junto dos mais novos, alerta para o seu poder de alienação e convite ao lado comercial.
"O que é preocupante nestas novelas não é o tratamento de certos temas - é importante que elas tratem os problemas do dia-a-dia, é através da exploração dos desejos, das motivações, da teia de cumplicidades, que prendem o espectador". Tornam-se motivo de preocupação "quando impõem a ditadura do seu horário na vida dos adolescentes, impedindo-os de ver outras coisas e realizar outras actividades". Enquanto entretenimento, Carlos Silva, até aplaude estas ficções. "São um problema se provocarem alienação, os alheiam do que é importante, quando são demasiado absorventes". E isso acontece quando? "Se limita o divertimento à novela, se a criança está só, não faz outras tarefas, dentro ou fora de casa". Sublinha que "levar os adolescentes para fora de casa é outro dos combates dos pais, já que muitos deles dividem o seu tempo de lazer entre a internet e a televisão".
No entender do sociólogo, o sucesso dos concertos de os D'Zrt deve-se a razões que extravasam a música. "Eles respondem bem a esses apelos porque gostam de saber que vão participar na notícia, vão ser activos no evento. O meu filho foi ver os D'Zrt e disse-me logo isso". Por outro lado, "as estações têm sabido alimentar e ampliar o fenómeno, com os estímulos colectivos".
Para quem estuda estas estratégias, Sofia Moura lança amanhã um livro dedicado ao tema, baseado na tese de mestrado na qual desenvolveu a questão do licenciamento de marcas e personagens, o êxito deste instrumento de marketing depende muito do "timing", do momento em que aparece ao consumidor, além de outros critérios, como a afinidade com o produto e a sua durabilidade. A data de comercialização dos produtos não é inocente. Explica que se está numa boa altura, porque já há uma boa maturação na relação com o produto. Mas a estratégia também envolve riscos "Convém que agrade aos pequenos e aos pais". Explica que os miúdos são muito fiéis mas que também podem ser cruéis: "Quando não gostam, não gostam". Associado ao programa "Ídolos" chegou a vender-se uma máquina de karaoke. Entre os licenciamentos de personalidade, Sofia Moura, da SIC, conta que Fernando Rocha assinou um contrato de exploração da imagem, tendo sido criado um boneco que foi colado em produtos como isqueiros.
Para responder à sedução comercial, o sociólogo Carlos Silva fala no desenvolvimento do espírito crítico junto dos mais novos. Não duvida que a adoração cega por ídolos, própria da adolescência, ganhou novos contornos nos tempos que correm. "Com os "Cinco" e os "Sete" não atingia esta dimensão. Não era tão absorvente como hoje; também não era tão estimulada".
"Floribella"
Terá missangas para cabelos, jóias mágicas, flores para fazer em casa, microfones, diário digital, roupa, acessórios e capa de edredons, CD que inclui faixa multimédia com a coreografia, perfume e cosméticos.
"Morangos com Açúcar"
Comercializam-se roupa de cama, livros, diários, agendas, revista poster, CDs, perfumes, relógios, chupa-chupas, gomas e rebuçados, material de papelaria, mochilas, tatuagens de pele.
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