Dois milhões de euros para Plano Nacional de Leitura
0 Comments Published by . on domingo, junho 04, 2006 at 2:55 da manhã.Elevar os níveis de literacia dos portugueses e colocar o País a par dos parceiros europeus são os objectivos principais do Plano Nacional de Leitura (PNL) ontem apresentado em Lisboa. Uma iniciativa criticada pelo Nobel da Literatura, José Saramago, que até integra a Comissão de Honra do projecto.
A iniciar já no próximo ano lectivo, no 1.º ciclo do Ensino Básico, e a concretizar em duas fases de cinco anos cada, o PNL envolve os ministérios da Cultura, da Educação e dos Assuntos Parlamentares (representado por Augusto Santos Silva) e representa um investimento inicial de dois milhões de euros. De entre as várias iniciativas para desenvolver os hábitos de leitura, destacam-se a criação de uma hora de leitura na sala de aula, actividades de expressão com livros, encontros com autores e concursos diversos.
Este é “um projecto à escala nacional onde ninguém fica de fora. Dirige-se a todas as idades e extravasa os contextos convencionais de leitura”, anunciou a ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima.
“Hoje, temos plena consciência que ler é também uma forma de poder”, referiu a responsável, para quem “a não leitura se tornou factor de exclusão”.
Na opinião da ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, o PNL pretende “rentabilizar os recursos de que já dispomos” e “ dinamizar as estruturas já existentes”, nomeadamente as Redes de Bibliotecas Públicas e Escolares.
“Queremos criar condições para desenvolver hábitos de leitura, lançar orientações programáticas e apetrechar as bibliotecas e salas de aulas com o número suficiente de livros para que as crianças possam ler”, disse.
Segundo a escritora e coordenadora do PNL, Isabel Alçada, o projecto criará “condições para que o potencial leitor se aproxime do livro”. Além de apelar a pais e encarregados de educação para estimularem hábitos de leitura, o PNL contará com o apoio de mediadores e voluntários, ou seja pessoas que gostem de ler.
As obras a ler nas salas de aula vão ser seleccionadas por especialistas, tendo em conta o nível de escolaridade e a capacidade de leitura dos alunos.
Para promover algumas das actividades do PNL, foi criada uma comissão de honra com uma centena de personalidades como Luís Figo, Jorge Sampaio, Miguel Sousa Tavares e Vasco Graça Moura.
SARAMAGO, UM CRÍTICO NA COMISSÃO DE HONRA
Apesar de ser um dos membros da comissão de honra do Plano Nacional da Leitura (PNL), uma situação que classificou de “fatalidade, como as bexigas”, José Saramago não poupou nas críticas ao Governo e à iniciativa ontem anunciada. Aqui ficam algumas das frases mais contundentes do Nobel da Literatura português:
- “Mal vão as coisas quando é preciso estimular” .
“Não vale a pena o voluntarismo, é inútil, ler sempre foi e será coisa de uma minoria” .
“Não vamos exigir a todo o mundo a paixão pela leitura”
“O estímulo à leitura é uma coisa estranha, não deveria ter de haver outro estímulo além da necessidade de um instrumento que permita conhecer”.
Entretanto, a ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, desvalorizou as críticas, afirmando que “se José Saramago aceitou o convite é porque reconhece a importância do PNL”, disse, acrescentando convicta: “Vamos contar com a sua colaboração activa”.
EDITORES NA FEIRA DE LISBOA QUEIXAM-SE
No preciso dia em que o PNL foi anunciado, editores presentes na Feira do Livro de Lisboa lamentaram a falta de afluência de público, queixando-se também da fraca divulgação do evento. A culpa dos maus resultados é do “futebol, Rock in Rio, pouca divulgação e escasso interesse dos media”, segundo José Sucena, da Caminho. Luís Oliveira, da Antígona, por seu lado, contabilizou já uma quebra de vendas de 20 a 30% face a igual período de 2005, consequência de uma “evidente falha de divulgação”. Um facto que considera injustificável dado que “cada editor paga dois mil euros para ter um pavilhão na Feira, que conta ainda com um bom investimento da Câmara Municipal de Lisboa.”
Já a Asa e Assírio & Alvim não se queixam. A Assírio identifica mesmo uma “afluência similar à do ano passado, com vendas a subirem depois de três anos em queda”, segundo Manuel Rosa. A Feira decorre até dia 13, no Parque Eduardo VII.
APOSTA NA LEITURA JÁ É PRÁTICA NA ESCOLA
As propostas preconizadas no PNL para as escolas “são actividades corriqueiras e que a maioria das escolas já adoptou”, garantiu ao CM Manuel Grilo, do secretariado nacional da Fenprof. O docente do 1.º ciclo explica que o currículo “contempla estas actividades” e que em muitas escolas e agrupamentos “já se realizam feiras do livro, colóquios, os pais e as famílias participam e até há casos em que os autores vão à escola”. O PNL “é bom, pois alerta para a necessidade de promover a leitura e se corresponder a algum apoio adicional às escolas para realizar as actividades, é melhor, pois por vezes algumas iniciativas não se realizam porque não há apoio”.
HÁBITOS DE LEITURA DOS PORTUGUESES
- 46,6% dos portugueses lê por gosto
- 3% dos inquiridos recorre à leitura por motivos exclusivamente profissionais
- 95,5% dos portugueses lê jornais e revistas, publicações às quais cerca de 40% dos inquiridos dedica entre 30 minutos a uma hora por semana
- 50,6% dos inquiridos já foi, ou tenciona ir, a uma feira do livro no corrente ano
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