Opinião: Mais professores de cor!
0 Comments Published by . on domingo, junho 11, 2006 at 12:27 da manhã.
Há dias, num debate público que se seguiu à projecção de um documentário sobre a imigração em Portugal, a propósito do elevado índice de insucesso escolar que caracteriza o grupo dos afro-descendentes na escola portuguesa, uma mediática figura da direita conservadora manifestava o seu espanto pelo reduzido número de professores de cor (sic) a leccionar em Portugal, em especial nas escolas que têm mais alunos de cor. Sugeria ainda a mesma individualidade que a escolarização das crianças afro-descendentes beneficiaria com a existência de mais professores da sua cor nas escolas e recomendava, assim, ao Ministério da Educação que tomasse providências para colocar mais professores de cor junto destas populações.
Estas palavras, proferidas por alguém com influência ao nível da definição de políticas sociais, merecem a nossa reflexão crítica.
1. De cor
Há grupos sociais de cor? E os outros não têm cor? Se a cor é critério para distinguir grupos sociais, então o melhor é ser-se explícito em relação à cor visada. Fale-se então em brancos, pretos, amarelos, peles-vermelhas, etc. Neste caso falava-se de pretos.
2. Espanto por não haver professores pretos na escola portuguesa
Como poderia havê-los? Só se Portugal os importasse já profissionalizados directamente do exterior! Espanto só para quem não vê que é precisamente a desmesura do insucesso escolar que afecta a comunidade que a impede de ter representatividade nas classes profissionais a que se acede através de formação universitária. Segundo os poucos dados disponíveis, em cada cinco alunos afro-descendentes que ingressam no 1.º ciclo apenas um termina o 12.º ano. E quantos destes resistentes chegam ao fim de uma licenciatura? Mesmo sem estudos que respondam a esta questão, sabemos que são muito poucos.
3. Para alunos de cor (leia-se pretos), professores de cor
Não será esta receita um contributo mais para a criação de guetos também na escola? Porque é que um professor preto ensina melhor do que um branco um aluno preto e vice-versa? Desde quando a cor da pele de um professor determina a sua capacidade de compreender os alunos, mesmo enquanto colectivo, e de estabelecer com eles uma relação que estimule a apetência pelo conhecimento e o saudável desenvolvimento pessoal dos mesmos?
Será quase indiscutível a urgência de o Ministério da Educação dedicar uma atenção particular ao fenómeno do insucesso escolar que atinge as comunidades afro-descendentes. A solução passa certamente pela formação dos docentes, de todas as cores, e também pela configuração dos currículos escolares, uma e outra devendo integrar profundamente a diversidade sociocultural da população escolar em Portugal.
Que a formação pedagógica para trabalhar com determinadas comunidades deva ter como alvo preferencial os membros dessas mesmas comunidades é discutível e diria mesmo perigoso. E já não estou a falar de cores!
Mafalda Mendes, linguista, artigo publicado no Expresso On-Line
Estas palavras, proferidas por alguém com influência ao nível da definição de políticas sociais, merecem a nossa reflexão crítica.
1. De cor
Há grupos sociais de cor? E os outros não têm cor? Se a cor é critério para distinguir grupos sociais, então o melhor é ser-se explícito em relação à cor visada. Fale-se então em brancos, pretos, amarelos, peles-vermelhas, etc. Neste caso falava-se de pretos.
2. Espanto por não haver professores pretos na escola portuguesa
Como poderia havê-los? Só se Portugal os importasse já profissionalizados directamente do exterior! Espanto só para quem não vê que é precisamente a desmesura do insucesso escolar que afecta a comunidade que a impede de ter representatividade nas classes profissionais a que se acede através de formação universitária. Segundo os poucos dados disponíveis, em cada cinco alunos afro-descendentes que ingressam no 1.º ciclo apenas um termina o 12.º ano. E quantos destes resistentes chegam ao fim de uma licenciatura? Mesmo sem estudos que respondam a esta questão, sabemos que são muito poucos.
3. Para alunos de cor (leia-se pretos), professores de cor
Não será esta receita um contributo mais para a criação de guetos também na escola? Porque é que um professor preto ensina melhor do que um branco um aluno preto e vice-versa? Desde quando a cor da pele de um professor determina a sua capacidade de compreender os alunos, mesmo enquanto colectivo, e de estabelecer com eles uma relação que estimule a apetência pelo conhecimento e o saudável desenvolvimento pessoal dos mesmos?
Será quase indiscutível a urgência de o Ministério da Educação dedicar uma atenção particular ao fenómeno do insucesso escolar que atinge as comunidades afro-descendentes. A solução passa certamente pela formação dos docentes, de todas as cores, e também pela configuração dos currículos escolares, uma e outra devendo integrar profundamente a diversidade sociocultural da população escolar em Portugal.
Que a formação pedagógica para trabalhar com determinadas comunidades deva ter como alvo preferencial os membros dessas mesmas comunidades é discutível e diria mesmo perigoso. E já não estou a falar de cores!
Mafalda Mendes, linguista, artigo publicado no Expresso On-Line
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