Alunos ficam stressados com os trabalhos de casa
0 Comments Published by . on segunda-feira, junho 12, 2006 at 12:34 da tarde.Os trabalhos de casa (TPC) são uma das principais fontes de stress para os alunos do ensino básico. Segundo um estudo que envolveu 300 crianças, de diferentes zonas do País e dos sistemas público e privado, a dificuldade em realizar as tarefas definidas pelos professores causa grande preocupação em 80% dos alunos.
A experiência de muitas famílias diz também que os TPC são momentos, por vezes, dramáticos e uma sobrecarga na agenda. E ainda que o envolvimento parental na aprendizagem seja um factor importante, pais com maiores dificuldades socio-económicas não prestam o mesmo apoio que famílias de maiores recursos sociais e financeiros.
Por isso, a intenção da ministra da Educação, manifestada na semana passada, de pôr fim aos TPC, transformando-os em trabalho individual a realizar na escola com a ajuda de professores, recolhe o apoio de vários especialistas em educação ouvidos pelo DN. Sem fundamentalismos, explica Pedro Silva, da Escola Superior de Educação de Leiria (ESEL), e com a consciência, adianta Teresa Seabra, do ICSTE, de que a medida não vai afectar a franja de alunos cujos pais têm melhores condições e conhecimentos (ver texto na página ao lado).
Mas a preocupação com a realização dos TPC é comum à grande maioria das crianças. O trabalho de Ana Isabel Pereira, da Escola Superior de Educação João de Deus, avaliou a transição entre o 1.º e o 2.º ciclos do ensino básico em 59 escolas das zonas norte, centro e Lisboa e vale do Tejo. E dele se conclui que "os acontecimentos indutores de stress relacionados com o domínio académico são os que ocorrem com maior frequência".
Assim, para além da prestação em aula, o que mais preocupa os alunos é "ter dificuldades com os TPC" e também "ter que fazer demasiados trabalhos ao mesmo tempo". A avaliação destes alunos teve lugar no 5.º ano porque essa é a altura da transição para a pluridocência e para uma maior diversidade de disciplinas que "faz mais sentido", já que faz coincidir no tempo múltiplas tarefas.
Para Ana Isabel Pereira, "não há suficiente coordenação entre os diferentes professores para organizar os TPC nem o calendário das avaliações". Uma situação que origina sobrecarga dos alunos devido à acumulação de tarefas de diferentes disciplinas e que poderia ser resolvida com uma maior frequência na reunião dos conselhos de turma. "Se os professores tivessem maior disponibilidade para se reunir, podiam até diminuir a carga de trabalhos, por exemplo, coordenando as áreas de conteúdos transdisciplinares", explica. Medidas que poderiam diminuir o stress académico dos alunos e, também de forma indirecta, melhorar a sua prestação escolar.
"Já vão cansados para casa"
Augusto Caetano, 59 anos, professor do ensino básico durante 32 anos, reformado há oito, considera que "os TPC são um compromisso stressante para as crianças e para os pais". Uns e outros já chegam cansados a casa e, para este docente, a verdade é que "o tempo de aula é suficiente para dar a matéria" e não são "duas cópias e três contas" que vão motivar o aluno para o estudo.
"Muitos professores entendem que os TPC são uma obrigação das crianças, mandam-nos fazer e depois nem têm tempo de os corrigir", diz. Resultado: "Os alunos não tiram rendimento daquilo e o trabalho de casa perde todo o sentido."
Empurrá-los para os centros de ATL (tempos livres) é, para Augusto Caetano, um erro. "É mais do mesmo, é fazer com que as crianças saiam de um edifício para irem para outro fazer a mesma coisa", defende. Estas actividades de tempos livres devem ser "compensatórias e complementares", e não mais uma obrigação. Nestas idades, "eles precisam de liberdade, precisam da natureza, precisam de ser livres", diz. Para Augusto Caetano, fazer do estudo um trabalho "voluntário" devia ser um objectivo dos professores. Apesar de não defender a morte dos TPC, é peremptório: "São uma fonte de stress e uma sobrecarga."
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