Professoras Desesperadas

Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar.


Reprovar: o pior castigo da escola


Se há pior lição que se possa trazer da escola é a de que não se é capaz de aprender. Infelizmente, esta é a realidade para milhares de alunos do ensino obrigatório, para já não falar do Secundário. As estatísticas do ano lectivo de 2004/5 dizem que 19,7% dos alunos do 3.º Ciclo reprovaram, ou seja, mais 1,3% do que 10 anos atrás.
Especialistas em educação contactados pelo JN explicam que a escola está a penalizar as classes mais desfavorecidas, sem condições sociais, culturais e financeiras de acudir aos filhos. Reestruturar o sistema, diversificar os currículos, melhorar as condições físicas das escolas e os seus recursos humanos foram alguns dos caminhos sugeridos para combater as elevadas taxas de insucesso escolar.
Quando se analisam os dados estatísticos disponibilizados pelo Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação, verifica-se que é no primeiro ano de cada ciclo - 2.º (no 1.º ano não há retenções), 5.º, 7.º e 10.º - que os níveis de reprovação são mais elevados.

Desarticulação
O fenómeno já foi reconhecido pelos ministérios da Educação e do Trabalho que, num documento de 2004, concluíam estar-se "perante um sistema de ensino com manifesta desarticulação entre os diferentes ciclos, com patamares de exigência claramente desnivelados e com eventuais problemas de desadequação após a transição".
Pedro Abrantes, investigador em sociologia da educação, disse ao JN que a lógica dos agrupamentos verticais, que unem jardins-de-infância e escolas dos três ciclos do Básico em rede, não funciona. "Seria suposto que o percurso do aluno fosse pensado em continuidade, mas isso não acontece. Na prática, os professores dos diversos níveis continuam a funcionar isoladamente", referiu.

Espírito de liceu
O facto de o 7.º ano ser o mais penalizador deve-se ao facto de se perpetuar o espírito de liceu. "As escolas tornam-se mais académicas e os alunos sentem o aumento do nível de exigência", explicou. No seu entender, são as classes sociais mais desfavorecidas - sem a cultura suficiente para apoiar os filhos - as mais penalizadas.
Albino Almeida, presidente da Confederação das Associações de Pais, tem a mesma ideia. "Nessas classes, os pais não têm conhecimentos para apoiar os filhos, nem dinheiro para pagar explicações", salientou. O apoio dado na escola a quem reprova - os planos de recuperação - constitui, no seu entender, "um fraco remendo". Albino Almeida entende que repetir as mesmas disciplinas que ficaram feitas "é diabólico". Por isso, defende que os alunos transitem sempre, mas recebam apoios acrescidos, no ano seguinte, às disciplinas onde tiveram dificuldades e um acompanhamento individualizado.
Armanda Zenhas, professora com mestrado em Educação, reconhece a necessidade de os pais acompanharem mais os filhos e do incremento do trabalho individual dos alunos. Contudo, acredita que turmas enormes, escolas sem condições físicas e recursos humanos indispensáveis, horários escolares longos e repartidos ajudam muito a elevar o insucesso escolar.

Bode expiatório
Para o investigador António Martins, da Universidade de Aveiro, a escola está organizada para o aluno urbano das classes média e média/alta. "O mesmo currículo que é ensinado no colégio privado de Lisboa serve, também, os alunos de uma vila no interior de Trás-os-Montes. Como pode o sucesso escolar ser o mesmo?", questionou. No seu entender, "se a escola produz tanto insucesso, ninguém quer ser o bode expiatório. Por isso, diz-se que o aluno tem dificuldades de aprendizagem e manda-se para um psicólogo, o que é outra tragédia e apenas serve para alimentar gabinetes de técnicos em psicologia", realçou.
Já o recente anúncio da queda da taxa de retenção no Ensino Secundário de 32% para 25% é vista por Matias Alves, mestre em Ciências da Educação, como fruto da inscrição dos alunos no Ensino Profissional, que tem menor nível de exigência. "De resto, o nível de insucesso no Secundário continua inaceitável", considerou.

"Escola está organizada para as classes médias"
"A escola está organizada para alunos urbanos das classes média e média-alta. A todos os níveis, principalmente no que se refere ao currículo". Foi a esta conclusão que chegou o investigador António Maria Martins, da Universidade de Aveiro, após mais de 20 anos a estudar o insucesso escolar e as razões para as elevadas taxas de reprovação.
"Quanto mais o currículo familiar se afasta do currículo escolar, mais sujeita fica a criança ao insucesso", referiu. Para o investigador, o nível sociocultural associado à forma como está organizada a escola, sobretudo os currículos académicos, parece ser o principal responsável pelo insucesso massivo dos alunos provenientes das classes mais desfavorecidas. Num estudo de campo feito num meio rural nortenho, envolvendo 319 alunos de 33 escolas do 1.º Ciclo, António Martins constatou que o elevado índice de reprovações estava relacionado com a origem social e cultural dos alunos.

3 Responses to “Reprovar: o pior castigo da escola”

  1. # Anonymous Anónimo

    ". No seu entender, são as classes sociais mais desfavorecidas - sem a cultura suficiente para apoiar os filhos - as mais penalizadas."
    A solução não está em adaptar o ensino aos alunos das classes sociais mais desfavorecidas. Está em fazer desaparecer, pelo menos diminuir, o grau de desfavorecimento.  

  2. # Anonymous Anónimo

    "Reprovar: o pior castigo da escola"
    Reprovar é um castigo? Ou será a constatação do que foi o trabalho do aluno?  

  3. # Anonymous Anónimo

    Este blog deve ser mesmo gerido por boazona a atacar aos pares de cada vez! Venham elas! Estou preparado, mas só para aquelas... pssiiiuuu... que mais apreciam... o CALOOOOOR! Hummmmm!

    nekot@sapo.pt, com pré-marcação!  

Enviar um comentário

Search

Sugestão

Calendário


Internacional

eXTReMe Tracker BloGalaxia

Powered by Blogger


Which Muskehound are you?
>

XML