Professoras Desesperadas

Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar.


Alunos andam armados e aterrorizam escolas

Os dois jovens, de 20 anos, tinham o plano bem arquitectado. Por meio de ameaças de morte, abordaram o rapaz de 15, junto à Escola Secundária de Silves, no Algarve, e tentaram roubar-lhe o MP3. Não satisfeitos, arregalaram os olhos ao telemóvel. Quando a vítima lhes tentou fazer frente, um dos agressores disse que lhe dava um tiro.
Presentes a Tribunal, os assaltantes foram proibidos de se aproximarem de qualquer estabelecimento de ensino do concelho a uma distância inferior a 300 metros.
O caso aconteceu há dois dias e ilustra bem o cenário que se vive nas escolas portuguesas, aparentemente mais perigosas. Um em cada dez alunos do 7.º ao 12.º ano de escolaridade admite já ter levado armas ou objectos de defesa pessoal para a escola. Perto de dois mil (1882) afirmam-se vítima de abusos sexuais.
O levantamento é da Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (Deco) que estudou 204 escolas secundárias públicas e privadas de todo o País. Dos 36 902 alunos inquiridos, 4797 (13 por cento) confessaram já ter transportado para a escola facas, canivetes, ‘sprays’ e pistolas. Entre os que afirmam já ter andado munidos de armas e outros objectos de defesa, 20 por cento pertencem ao distrito de Bragança, 17 por cento são de Santarém e 16 por cento estudam em Lisboa.

OFENSAS E AMEAÇAS
Mas nem só de armas fala este inquérito. Os números da violência física e verbal dentro da escola, entre alunos e professores, também não são felizes. Há mesmo casos de abusos sexuais e de provocações relatados por 1882 jovens.
O estudo da Deco conclui que mais de um em cada três alunos já foi vítima de violência física ou psicológica nas escolas, um problema que afecta igualmente 18 por cento dos mais de nove mil professores inquiridos a nível nacional (1620).
As ofensas verbais e as ameaças estão no topo dos problemas de segurança e criminalidade e foram denunciados por 9115 alunos (24,7 por cento), seguidos pelos assaltos, dos quais já foram vítimas 8266 jovens (22,4 por cento).
Perante estas circunstâncias não é de estranhar que disparem as faltas injustificadas. Medo, insegurança, discriminação e gozo por parte dos colegas levam cinco por cento dos estudantes a faltar às aulas. O retrato negro deixa adivinhar que as queixas oficiais ao nível da criminalidade escolar sejam pouco fiáveis. E os números não deixam margem para dúvidas: 60 por cento dos alunos (22 141) não tem coragem de denunciar os criminosos.

PIORES SÃO DE LISBOA
Três das escolas que lideram a lista de instituições de ensino consideradas pela Deco como mais inseguras estão localizadas no distrito de Lisboa. De acordo com o estudo, numa escala de 1 a 10 a Secundária de Mem-Martins, em Rio de Mouro, situa-se nos 5,4, o que faz dela a mais perigosa do País.
“Se é verdade, então as escolas estão todas de parabéns porque funcionam muito bem”, ironiza o vice-presidente, Eurico Liote, que em 20 anos como professor naquela escola nunca assistiu a cenas de violência nem recebeu quaisquer queixas. Garante, inclusive, que “nem o facto de esta ser uma escola multi-racial faz dela perigosa”.
Na lista, seguem-se as escolas secundárias de Gama Barros, no Cacém, e Afonso Domingues, no centro de Lisboa.

'PROFESSORES SENTEM-SE INSEGUROS (João Grancho, responsável pela linha SOS)'
Correio da Manhã – Existem muitos professores a utilizar a linha telefónica SOS Professor?
João Granjo – Desde que se iniciou a 11 de Setembro, a linha SOS Professor já recebeu mais de 60 chamadas, todas relacionadas com situações registadas em anos anteriores. Ainda a linha estava a ser anunciada e já estávamos a receber três chamadas, por acaso as mais graves que recebemos, todas elas de agressões físicas, acompanhadas por ameaças continuadas.

– Quais as situações mais graves?
– As mais graves são de ameaças físicas e de indisciplina na aula, que acabam por envolver os professores que tentam separar os alunos. Quando os professores precisam de manietar os alunos acabam por entrar em situações em que a violência se vira contra eles.

– Estas agressões deixam marcas nos professores?
– Sim. Os professores sentem uma insegurança muito grande, física e profissional. Dos 60 professores que nos ligaram, 14 estão mesmo a ter acompanhamento psicológico e alguns também jurídico. Há até quem tenha metido baixa.

– Como se pode combater este aumento da violência nas escolas?
– Na Associação Nacional de Professores defendemos a criação de técnicos sociais de educação, que podem funcionar como mediadores entre a escola e a comunidade, principalmente junto das famílias dos alunos mais problemáticos.

FALTA DE FINANCIAMENTO AFECTA MAIS OS CURSOS TECNOLÓGICOS
De entre os 35 cursos do Ensino Superior público que não preencheram no último ano lectivo o requisito de um mínimo de 20 alunos para o financiamento pelo Orçamento de Estado, a maioria pertence às áreas das ciências naturais ou tecnologias. Pelo contrário, não há um único curso de humanísticas entre os ameaçados por falta de candidaturas.
Excepcionalmente, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) decidiu este ano financiar alguns cursos com menos de 20 alunos. Noutros casos foram as próprias instituições que “transitoriamente” decidiram manter os cursos em causa.
Os critérios para manter o financiamento público, nas situações de “procura inferior” aos mínimos fixados, foram os de privilegiar; “a área das Artes”; “vagas em regime pós-laboral”; “especial relevância social e inexistência de alternativa na rede pública”; e a “excepcional capacidade científica na área respectiva”.
De todos os 35 cursos ameaçados, apenas oito vão ser “excepcionalmente financiados”, entre os quais Engenharia Física (nas universidades de Coimbra e Lisboa), Engenharia Têxtil (Minho), Engenharia e Arquitectura Naval (Instituto Superior Técnico), Engenharia Topográfica (Politécnico da Guarda) e Equinicultura (Politécnico de Portalegre). Os únicos cursos da área de Letras, ameaçados pela falta de alunos, Estudos Clássicos (nas universidades de Coimbra e Lisboa), viram confirmado o seu financiamento excepcional.

MARÇAL PROPÕE FIM DA CRUP
Eduardo Marçal Grilo e Roberto Carneiro contribuíram para o Debate Nacional sobre Educação (DNE) durante uma audição pública que decorreu ontem no Conselho Nacional de Educação.
O ponto alto da audição chegou com a sugestão de Marçal Grilo em extinguir o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP). “Não passa de um órgão de lóbi”, atira. O presidente do CRUP, José Dias Lopes, reagiu: “Nunca assisti a acções desse tipo.”

1º CICLO FECHOU 1428 ESTABELECIMENTOS
Foram 1428 as escolas do 1.º Ciclo encerradas neste ano lectivo de 2006/07, correspondendo a cerca de um quinto (20%) do parque escolar, confirmou ontem ao CM fonte do Ministério da Educação (ME).
Mais de metade, 884 ou 62%, situa-se na área da Direcção Regional de Educação do Norte e obriga à deslocação diária de cerca de seis mil alunos. O Centro é a segunda zona mais afectada com o fecho de 363 escolas, às quais se deverão juntar mais 44 que já não abrem no próximo ano lectivo.
Em Lisboa, as 102 escolas fechadas (a que se juntam mais três a partir de Janeiro), ficam aquém das 150 previstas. No Alentejo, das 105 escolas planeadas para fechar apenas 60 deixaram de funcionar, obrigando à deslocação diária de 300 alunos. O Algarve foi a região menos afectada com o fecho de só 16 estabelecimentos.

OUTRAS SITUAÇÕES
LINHA SOS
A linha SOS Professor (808 96 2006) funciona de segunda a sexta-feira, das 11h00 às 12h30 e das 18h30 às 20h00. Fora deste horário está activo um serviço de mensagens de voz.

PROTESTO
Os pais de alunos de Sernancelhe, Viseu, onde foram fechadas 17 das 21 escolas existentes, continuam a não levar os filhos aos novos estabelecimentos de ensino.

AUXILIARES
O Agrupamento de Escolas de Cinfães, no distrito de Viseu, conta actualmente com 18 escolas do 1.º Ciclo do Ensino Básico, mas apenas seis possuem auxiliar de acção educativa.

DEGRADADA
A escola do 1.º Ciclo de Paradela, Viseu, encerrou e os alunos têm agora aulas numa casa degradada em Lourosa. As refeições são servidas num espaço sob a sala de aula.

FACULDADE
A Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto realiza entre segunda e quinta-feira o Fórum Emprego, para aumentar a ligação da faculdade ao mundo empresarial.

INSTITUTO
Docentes e funcionários do Instituto Superior de Serviço Social, em Beja, dizem que estão a ser pressionados para rescindirem voluntariamente os contratos de trabalho.

SEGURANÇA NAS ESCOLAS
MÉDIA DA SEGURANÇA DENTRO E NAS IMEDIAÇÕES DA ESCOLA
AS MELHORES
1 – Colégio Nossa Senhora da Boavista (Vila Real): 9,1
2 – Externato Luís de Camões (Aveiro): 9
3 – Escola Sec. Pluricurricular de Alcochete (Setúbal): 8,9
4 – Escola Prof. Agricultura e Des. Rural de Carvalhais (Bragança): 8,9
5 – Escola Técnica e Profissional de Sicó (Coimbra): 8,5

AS PIORES
1 – Escola Secundária de Mem-Martins (Lisboa): 5,4
2 – Escola Secundária de Gama Barros (Lisboa): 5,6
3 – Escola Secundária Afonso Domingues (Lisboa): 5,7
4 – Escola Profissional Amar Terra Verde de Amares (Braga): 5,7
5 – Escola Secundária Rodrigues de Freitas (Porto): 5,7

ESCOLAS ENCERRADAS
NORTE: 884 escolas encerradas / 6000 alunos transferidos
CENTRO: 363 escolas encerradas (em 2007 irão fechar mais 44 estabelecimentos)
LISBOA: 102 escolas encerradas (até ao final do próximo período fecham mais três escolas)
ALENTEJO: 60 escolas encerradas / 300 alunos transferidos
ALGARVE: 16 escolas encerradas
TOTAL: 1428 escolas encerradas

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