Professoras Desesperadas

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Realidades-42: Mães portuguesas abandonam cedo a amamentação

Apenas uma em cada cinco mães portuguesas cumpre as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS) no que diz respeito à amamentação dos filhos. Ou seja, alimenta os bebés exclusivamente a peito até aos seis meses de idade. O cenário é muito preocupante, diz o especialista Nuno Montenegro, até porque mais de metade das mães abandonam a amamentação antes de o bebé ter dois meses.
No dia em que se iniciou a Semana Mundial da Amamentação, promovida pela OMS, e que contou com várias iniciativas no País, ficou traçado um retrato "negro" sobre esta realidade em Portugal. Os números são do projecto Geração XXI, que vai seguir dez mil bebés (nascidos nas cinco grandes maternidades do Porto) até à idade adulta.
Estes dados - ainda preliminares e referentes a uma amostragem dos mais de cinco mil casais que já estão inscritos neste estudo - retratam uma realidade ainda pouco conhecida em Portugal. E demonstram, diz o médico que é chefe do serviço de Obstetrícia do Hospital S. João, a falta de informação no que diz respeito às vantagens e método da amamentação.
Por exemplo, uma das dez medidas preconizadas pela OMS é "dar de mamar sempre que o bebé queira", mas, garante Nuno Montenegro - que é também um dos responsáveis do projecto Geração XXI -, "quase ninguém faz isso", até porque os pediatras tendem a impor um esquema horário da amamentação. "Mas não se deve esperar pelas horas: se o bebé pede é porque tem fome", defende.

Abandono
Cerca de 60% das mães que deixam de amamentar ainda antes dos dois meses de idade afirmam que a razão está na "insatisfação" do bebé. Mas, diz o especialista, "isto só demonstra que é necessário informar as mães sobre como devem amamentar e que devem insistir, porque na maior parte destes casos não acredito que haja de facto problemas com o leite da mãe. Mas se ela não insistir, o leite acaba." Ainda assim, aos seis meses de idade, há cerca de 40% de bebés a serem alimentados pela mãe. A OMS recomenda ainda a amamentação até aos dois anos de idade, acompanhada de outros alimentos.
Outra das razões invocadas para o abandono precoce da amamentação tem a ver com o facto de as mães terem de regressar ao trabalho. E, reconhece o especialista, o período de duração das licenças de maternidade não está adequado às necessidades de mães e filhos nesta matéria. "Por alguma razão os países nórdicos têm licenças de um ano", defende Nuno Montenegro. Finalmente, a terceira causa do abandono diz respeito a doença ou medicação da mãe que desaconselha a aleitamento aos filhos.
Do projecto Geração XXI há ainda outro dado interessante: o de que 5% das mulheres nunca amamentaram os filhos. Uma situação que pode ficar a dever-se a ausência de produção de leite ou falta de vontade da mulher. E estes são também os casos em que é necessário reforçar a mensagem de que o aleitamento materno é uma opção saudável.
Este é, por exemplo o objectivo de uma banca, situada nas consultas externas do Hospital S. João, que vai distribuir esta semana panfletos com informação a quem passar. "A amamentação é uma questão que diz respeito a todos", explica Nuno Montenegro. A comemoração da Semana Mundial vai ainda contar com passagens de vídeos e conferências temáticas sobre o tema.
Para além de facilitar a recuperação da imagem corporal da mãe e diminuir a probabilidade de ela vir a sofrer de cancro da mama, o aleitamento materno tem várias vantagens para o bebé, nomeadamente a prevenção de infecção e alergias. Por outro lado, esclarece o folheto que é distribuído no Hospital S. João, o leite da mãe é grátis e está à temperatura ideal. É ainda ecológico, já que não gasta recursos da terra nem implica embalagens.

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