Professoras Desesperadas

Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar.


Exame de Química mais fácil

“Mais fácil” foi a opinião dominante dos perto de 20 mil alunos que aceitaram a segunda oportunidade concedida pela ministra da Educação para a realização da prova de Química. Hoje, Maria de Lurdes Rodrigues explica no Parlamento erros cometidos.
O polémico exame de Química do 12.º ano, do novo programa, repetido ontem devido às más notas obtidas na primeira fase, foi considerado mais acessível pelos alunos que beneficiaram da excepção criada pela ministra da Educação.
Face às falhas detectadas na prova e aos maus resultados obtidos na primeira fase, com médias de 6,9 a Química e 7,7 a Física, Maria de Lurdes Rodrigues decidiu que os alunos dos novos programas de Física e Química poderão candidatar-se à universidade logo na primeira fase, com base na nota obtida nestes exames da segunda fase.
Na Escola Secundária Padre António Vieira, em Lisboa, os alunos demonstravam alguma satisfação com o novo exame, apesar de criticarem a duração e densidade do mesmo (ver reacções).
Beatriz Goulão, de 18 anos, estava confiante com o seu desempenho no exame de Química, mas mostrava-se mais reservada quanto a um prognóstico: “O exame até me correu bem, mas isso pode não ser suficiente para ter uma nota que me permita entrar na universidade.”
Acerca das diferenças encontradas nesta prova em relação ao exame da primeira fase, Beatriz fez questão de lembrar as falhas detectadas e que provocaram esta repetição: “Este pareceu-me ser bem mais fácil. À primeira vista não tinha erros, mas vamos esperar para ter a certeza.”
Inês Ferreira, de 17 anos, por sua vez, é da opinião de que este novo programa não terá sido bem preparado por parte dos professores: “Penso que não tiveram tempo suficiente para estudar este novo programa. Mesmo os professores diziam-nos que tiveram algumas dificuldades.”
Unânime é a opinião dos alunos face à excepção dada pela ministra. A Matemática, que também “não correu muito bem”, dizem, merecia ser repetida, tal como aconteceu com Química e Física.
Posição diferente teve a ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues que, apesar de protestos de alunos, pais e professores, se recusou a estender regime de excepção a outras disciplinas.
António Castela, presidente da Federação Regional de Lisboa de Associações de Pais (FERLAP), entende que a posição da ministra da Educação não permite a candidatura de todos os “alunos em igualdades de circunstâncias”. “Houve outros exames com os mesmos erros dos verificados em Química e, no entanto, não é dada uma segunda oportunidade aos alunos”, sublinhou.
Também Anabela Delgado, da Federação Nacional de Professores (Fenprof), lamenta a decisão da titular da pasta da Educação. “Não é justificável que a ministra recorra a uma medida de excepção para colmatar erros produzidos na avaliação”, disse. Anabela Delgado acrescentou que Maria de Lurdes Rodrigues “ignorou todos os reparos feitos pelos professores”.

'ENTEADO' DA MINISTRA DE FORA
Luís Pena Pires, filho de Rui Pena Pires, companheiro da ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, não recorreu ontem à polémica excepção na prova de Química, nem irá recorrer do mesmo mecanismo para a prova de Física, segundo apurou o CM.
O jovem, que obteve nos exames 15 valores a Química, 18 a Física, 20 a Desenho e Geometria Descritiva, 17 a Português e 19 a Matemática, candidatou-se, entretanto, no Instituto Superior Técnico, ao curso de Engenharia Física, onde as provas específicas exigidas são as de Matemática e Física. A decisão do jovem optar por este ramo da Engenharia é anterior à polémica das provas de Química e Física e conhecida há muito pelos amigos na escola secundária Quinta do Marquês, em Oeiras.

REACÇÕES
"TINHA MAIS CÁLCULO" (MARIANA SILVA, 17 ANOS)
“Correu bem. Em relação ao primeiro achei que tinha mais cálculo. O outro mais parecia uma prova de Português com uns números pelo meio. Ficámos com a sensação de que os professores também estavam um pouco aluados em relação ao que podia sair no exame. Não tiveram tempo para estudar a fundo o novo programa.”

"NÃO ACHEI COMPLICADO" (JOAQUIM PEDRO JACOB, 18 ANOS)
“Este exame foi muito grande, mas não achei que tivesse sido muito complicado. Apesar de bastante demorado, até me correu bastante bem. Em relação ao primeiro, talvez tivesse um pouco menos de teoria. Espero ter pelo menos um 14 ou 15. Também deviam mandar repetir os outros exames e não só estes dois.”

"MUITO MAIS ACESSÍVEL" (ANA FERNANDES, 17 ANOS)
“Foi muito mais acessível do que o exame da primeira fase. No entanto, as escolhas múltiplas continuam a baralhar bastante. Espero ter mais ou menos a mesma nota, ou seja, 12. Não estudei muito, como já tinha passado no primeiro exame, vim só arriscar fazer uma melhoria de nota. Consegui fazer tudo na primeira fase.”

"FOI MUITO COMPRIDO" (ANA PIRES, 19 ANOS)
“Admito que não estudei muito para este exame. Apliquei-me mais para Matemática, porque já me tinha preparado para o anterior. Achei mais fácil que o primeiro, apesar de continuar muito extenso. Por ser muito comprido não deu tempo sequer para rever, para ser feito como deve de ser.”

PORTUGUÊS AGRADOU A ALUNOS
A segunda fase dos exames nacionais arrancou ontem de manhã com a realização das provas de Português, Biologia, Geologia, Geometria Descritiva, Geografia e Literatura Portuguesa. A prova de Português número 639, referente ao programa comum para alunos das áreas de ciências e humanidades, foi a que obteve a participação mais elevada, segundo informação do Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE). No final do exame, a opinião dominante era de que as perguntas foram acessíveis.
Na escola Padre António Vieira, em Alvalade (Lisboa), Vanessa Fernandes, 18 anos, foi uma das primeiras a completar o exame. Escreveu seis páginas de prova e no final deu como bem empregue “o tempo ocupado a estudar”.
“Correu muito bem, sobretudo o grupo dois, referente à Mensagem de Fernando Pessoa. Vanessa Fernandes pretende tirar um curso na área de serviço social e para a concretização desse objectivo refere que “os exames realizados até hoje não estão a correr nada mal”.
“As provas específicas necessárias são de Português e de Biologia. Nesta última tive média de 14, vamos lá ver agora em Português”, referiu.
Mais desanimado estava Mehul Irá, de 18 anos. “Correu mal. Estava com receio e confirmaram-se as minhas dificuldades. Escrevi só duas páginas e sinceramente acho que não vou conseguir ter 9,5 valores para entrar no curso de Engenharia e Informática”, acrescentou. Ao contrário de Vanessa Fernandes, Mehul Irá considerou o enquadramento social da Mensagem de Pessoa a parte mais difícil do exame.
Em Fernando Pessoa “esbarraram” também as alunas da escola Padre António Vieira, Gisleida Mendes, 27 anos, e Ana Margarida Duque, de 20 anos. Mesmo assim ambas afirmaram que a prova correu bem, esperando positiva.
Concluídos os exames da primeira fase, a média em Português foi de 11,6 valores. Um valor que Paulo Feytor Pinto, presidente da Associação de Professores de Português, classifica como sendo positivo perante o panorama geral, onde por exemplo a Matemática a média foi de 5,9 valores. No entanto, o dirigente da associação entende que há ainda um longo caminho a percorrer, pelo que os professores defendem que o GAVE deveria revelar os valores de aproveitamento resposta a resposta.

PARLAMENTO CHAMA MINISTRA
A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, protagoniza hoje na Assembleia da República um aceso debate sobre a polémica em torno dos exames nacionais do secundário, enfrentando críticas de todos os partidos da oposição.
Em causa está a controversa excepção criada pela tutela para os alunos do 12.º ano que realizaram os exames nacionais relativos aos programas novos de Química e Física. Para o PSD, que solicitou a presença da ministra no Parlamento para um debate de urgência, é preciso esclarecer “a grave situação que se está a viver em resultado das falhas e dos erros cometidos pelo Ministério na preparação e na elaboração dos exames do ensino secundário”.
“Pensamos que a ministra da Educação deve proceder a um inquérito para apurar as responsabilidades e, depois, actuar de acordo com as conclusões, punindo os responsáveis”, afirmou Pedro Duarte, vice-presidente do grupo parlamentar social-democrata. Também o CDS- -PP considera haver nesta matéria “responsabilidades políticas”.

FINANÇAS SEGURAM CONTRATAÇÃO DIRECTA
O ministro de Estado e das Finanças, Teixeira dos Santos, afirmou que a proposta do Ministério da Educação para possibilitar às escolas a contratação directa de professores permanece “em aberto”. As declarações de Teixeira dos Santos foram proferidas à entrada para uma reunião com o Grupo Parlamentar do PS, na Assembleia da República. Terça-feira, o Ministério das Finanças considerou que a forma legal escolhida pela Ministério da Educação para possibilitar às escolas a contratação directa “não era a mais correcta”, parecer que levou à retirada daquele projecto de decreto-lei.
Ontem, o secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, reduziu o problema a uma questão técnica, considerando natural haver alguns problemas de compatibilização entre o projecto de contratação de professores e a legislação da Função Pública.

AFIXAÇÃO DE NOTAS SUSPENSA EM BRAGA
A Direcção Regional de Educação do Norte esclareceu ontem, através de um comunicado, que “a afixação dos resultados dos exames nacionais do 12.º ano das disciplinas de Biologia e de Matemática realizados no Colégio D. Diogo de Sousa, de Braga, foi suspensa por decisão do júri nacional de exames”.
No documento, de apenas três pontos, a directora Margarida Moreira acrescenta que “a decisão de suspensão foi acompanhada do pedido de intervenção da inspecção-geral de Educação que desenvolve, neste momento, um processo de averiguações”.
Em causa está a situação denunciada por um encarregado de educação de Braga, que deu conta de alguns alunos terem beneficiado do uso de cábulas durante a realização dos exames.

PIOR NOTA A MATEMÁTICA
Matemática – concluída a primeira fase de exames – obteve a pior classificação com uma média de 5,9 valores e 40 por cento de ‘chumbos’.

VALORES MUITO NEGATIVOS
Na lista dos piores resultados figuram ainda o Inglês (inicial três anos) com média de 5,7 valores e Física (programa antigo) com 6,9 valores.

QUÍMICA E FÍSICA A NEGRO
Na listas dos piores exames surgem depois as provas que deram origem ao regime de excepção. Química com média de 6,9 e Física com 7,7.

ESPANHOL LIDERA RESULTADO
O Espanhol obtém as melhores classificações entre todos os exames com 14,7 valores no nível de continuação e 13,6 no nível inicial.

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