Professoras Desesperadas

Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar.


Estágios pedagógicos causam número elevado de depressões

O novo modelo de estágio pedagógico implementado, desde Setembro, na formação inicial de professores feita pelas universidades veio ampliar a insegurança que já era sentida pelos docentes em formação pelo Politécnico.Um inquérito feito a mais de 500 estagiários demonstrou a forte carga de stresse em que vivem, ditada pelo receio enorme de falhar. A falta de uma experiência prévia e a ausência de uma actividade aliviadora das muitas pressões tem levado a que 40% desistam do sonho de ser professor.
O fim da atribuição de duas turmas e a consequente não retribuição monetária limitou a formação inicial dos professores formados pelas universidades. Um inquérito feito a 517 professores estagiários pelo investigador Carlos Francisco, no âmbito de uma tese de doutoramento sob o tema "Estágio Pedagógico na Formação Inicial de Professores um Problema para a Saúde" veio revelar que mais de 13% dos inquiridos viveram situações de depressão, muito prejudicial quer para a saúde, quer para o desenvolvimento do seu trabalho.
"Não é por acaso que, segundo números oficiais, 40% dos estagiários abandonam a formação", realçou o investigador.
Carlos Francisco inquiriu professores estagiários quer do ramo universitário, quer do Politécnico. E, em todos, encontrou níveis elevados de stresse, muito próximos de um estado de depressão. A primeira causa apontada pelos inquiridos para o mal-estar residia na insegurança face ao desempenho profissional. "Curiosamente, os estagiários mostram-se mais preocupados em conseguir cumprir com os objectivos de uma aula do que com a supervisão feita pelo orientador", referiu Carlos Francisco.
O investigador sublinhou que até o receio dos problemas de indisciplina dos alunos ou do seu futuro profissional ficam para trás. "A grande preocupação dos estagiários é a falta de experiência anterior. E como o número de aulas que lhes cabe dar é reduzido, quando chega o momento a pressão é muito grande", comentou.
Como principais sintomas do stresse acumulado os estagiários apontam dificuldades de concentração e raciocínio, afastamento em relação a amigos e familiares, má disposição física e aumento do consumo de álcool e tabaco. Por outro lado, Carlos Francisco realçou que a dedicação a 100% ao estágio afasta-os da prática de exercício físico, que pode ajudar a vencer o stresse excessivo.
O investigador concluiu que seria vantajoso que os cursos de formação de professores incluíssem, desde o primeiro ano, um contacto dos alunos com a prática lectiva. "Esses primeiros contactos com a leccionação serviriam de preparação para os alunos e, simultaneamente, possibilitariam a confirmação ou não do gosto pelo ensino, evitando o abandono já no fim do curso", referiu.
Carlos Francisco defende, também, a inclusão no curso de uma preparação dos alunos para que saibam vencer o stresse e uma avaliação mais coerente do estágio. "O supervisor da instituição de Ensino Superior raramente vai à escola e, no final, a classificação que atribui pode prevalescer sobre a do orientador da escola.Os critérios de avaliação devem ser mais claros", concluiu.

Tânia Veloso
Professora recém-formada
"Só no final do primeiro mês de estágio é que dei a minha primeira aula. Não tinha medo nem da orientadora, nem dos alunos. Sentia era um medo enorme de não conseguir cumprir com o plano de aula, de chegar ao fim e os alunos não terem aprendido o que estava previsto". Tânia Veloso estava grávida e fazia 100 quilómetros por dia para ir à escola. "Vivi o estágio a 100%, num estresse constante devido ao medo de falhar. Isolava-me no escritório a preparar aulas e não queria ouvir ninguém", recordou. "Mas cheguei ao final com a ideia de que é esta a profissão que quero", concluiu.

Cláudia Valinho
Professora recém-formada
"Na maior parte do tempo, somos observadores de aulas. Temos um modelo a seguir, mas falta-nos a prática lectiva, que devia ser alargada". Cláudia Valinho recorda que conseguiu bem se abstrair do olhar observador da orientadora. "A minha preocupação era conseguir obter o fio condutor que levasse os alunos à aprendizagem", realçou. "Nunca pensei que a preparação de uma aula passasse por tantas fases", referiu. Em casa, a mudança do seu humor foi notada, fruto de um nervosismo constante. "Uma prática prévia teria ajudado muito", concluiu.

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