Professoras Desesperadas

Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar.


Professores deixam PS zangados com a ministra

A ministra da Educação reforçou a importância dos pais na avaliação dos professores. As declarações foram acolhidas “com muita reserva” por encarregados de educação. Professores sindicalistas garantem que muitos docentes militantes do PS estão a demitir-se daquele partido.
Para Maria de Lurdes Rodrigues, “a intervenção dos pais poderia despistar casos extremos de desempenho deficiente”. “Os pais são os primeiros a perceber as dificuldades de alguns professores no acompanhamento de alguns alunos”, sustentou, ontem, a titular da pasta da Educação à Rádio Renascença.
A ministra reconhece, no entanto, um risco na solução que propôs para a alteração do Estatuto da Carreira Docente: “O risco que vejo é que seja posta uma ênfase excessiva na orientação dos professores para esses resultados específicos e não para resultados escolares e competências mais alargadas, como exames ou provas de aferição.”
A ministra defende que na apreciação dos pais “não está em causa a avaliação da capacidade técnica dos professores”, precisando que o peso da participação dos encarregados de educação “pode ser uma percentagem mínima”.
A proposta é, para o vice-presidente do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa (SPGL), Augusto Pascoal, “uma aberração que demonstra o não conhecimento da realidade das escolas”. O dirigente sindical, que é militante socialista, diz que “a política da ministra provoca demissões entre militantes do PS” e acrescenta que ele próprio “não afasta a hipótese de tomar essa atitude”.
Augusto Pascoal sustenta que a participação dos pais na vida escolar é muito baixa e recorda uma frase do antigo presidente da Confederação das Associações de Pais (Confap), Albino Almeida: “Nas escolas há muitos filhos órfãos de pais vivos.”
Maria de Lurdes Rodrigues reconhece a necessidade de “melhorar a qualidade da participação do pais” e acrescenta que “podemos exigir que, para haver avaliação, os pais participem em todas as reuniões”.
A ministra da Educação disse também que a avaliação dos pais será “individual”. Uma decisão contestada por António Castela, presidente da Federação Regional de Lisboa das Associações de Pais (FERLAP). “Os pais têm dificuldades acrescidas de intervir na escola a título individual. Tenho, assim, muitas dúvidas sobre esta proposta. E estranho não sermos também chamados a avaliar o sistema educativo ou as prestações dos conselhos executivos”, diz.
António Castela acusa o Governo de “usar os pais para fazer pressão sobre os sindicatos na discussão da carreira dos professores”. “Utilizando os pais de forma individual é mais fácil. Se as avaliações fossem por grupos de pais, os professores poderiam pedir-nos explicações”, diz. Na proposta da ministra, a participação dos encarregados de educação “será filtrada pelo conselho executivo”.

O QUE DIZ A MINISTRA
VIOLÊNCIA
“Há a imagem de que os professores receiam intervir. Mas os professores não podem ter medo. A escola também não.”

MATEMÁTICA
“Vamos dar às escolas meios para recrutarem professores de Matemática. A partir do próximo ano lectivo, a escola assume o compromisso de, em três anos, melhorar os resultados.”

RENDIMENTO ESCOLAR
“Em dez anos, o orçamento do Ministério da Educação duplicou. Olhamos para os resultados e não mexem.”

ABANDONO
“Há 2,5 milhões de adultos sem o 9.º ano. E 400 mil jovens que não concluíram o Secundário.”

REACÇÕES À PROPOSTA DO GOVERNO
- António Castela, presidenta da FERLAP, acolhe com muitas reservas a avaliação feita pelos pais aos professores. “Teremos de avaliar um indivíduo fora do contexto escolar. O pai terá sempre dúvidas, uma vez que não está dentro da sala de aulas para poder avaliar.”

- Augusto Pascoal, vice-presidente da SPGL, entende que Maria de Lurdes Rodrigues “ofende de forma violenta os professores ao afirmar que estes não se preocupam com o insucesso”. A política da ministra provoca demissões de professores militantes do PS”.

- Manuela Teixeira, fundadora da Federação Nacional da Educação, entende que Maria de Lurdes Rodrigues “dificilmente poderia fazer pior” ao propor que os pais avaliem os professores. “Cria um clima de insegurança nos professores.”

- Maria José Viseu, presidente da Confederação das Associações de Pais (Confap), defende que “os pais têm seguramente competência para fazer a avaliação dos professores segundo o modelo referido pela ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues”.

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