Professoras Desesperadas

Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar.


281 mil alunos à pega com exames nacionais

Às 9.00, o toque de entrada será uníssono em todo o País. É o arranque da primeira fase dos exames nacionais do secundário, em que participam quase 177 mil estudantes. Uma megaoperação que, a contar também com as provas de cem mil alunos do 9.º, custa ao Estado 6,5 milhões de euros e mobiliza 14.500 agentes policiais.
Para mais de 73 mil estudantes, o futuro começa a decidir-se já esta manhã, com as provas de Português A e B do 12.º ano. A maioria do total de inscritos nesta primeira fase continua a ter por objectivo a entrada na faculdade: é o caso de 113 175 estudantes que fazem o exame para aceder ao superior. Na quarta e na sexta é a vez de 104 mil alunos do 9.º ano mostrarem o que valem a Português e Matemática.
Para garantir o sigilo das provas, e à semelhança do que ocorre todos os anos, foi montada uma enorme operação de segurança. Segundo a Lusa, a proteger os exames do secundário estarão 508 agentes (e 238 viaturas) da PSP - nos grandes centros urbanos - e 14 mil militares da GNR, espalhados por todo o País. Os números de 2005 dão ideia das dimensões: 34 milhões de folhas A4 em enunciados do 12.º e do 9.º. Se alinhadas, fariam uma fila de dez mil quilómetros. Transportadas em bloco, seriam precisos 20 camiões TIR...
Os enunciados são levantados na Editorial do Ministério da Educação e levados para os comandos das forças de segurança. Em cada dia de exame, os agentes distribuem as provas pelas 618 escolas secundárias e, após o exercício, levam-nas para as sedes de agrupamento, rumo à correcção. A "Operação Gaivota 2006" só termina quando as provas, corrigidas, são devolvidas às escolas e as pautas afixadas.
Segundo o Júri Nacional de Exames, há mais 56 mil estudantes inscritos na primeira fase do secundário do que em 2005. Na origem deste aumento - que eleva para mais de meio milhão o número de provas a realizar a partir de hoje - estão os exames das disciplinas bienais do 11.º ano, que ocorrem pela primeira vez.
Mas esta não é a única novidade este ano. Os alunos dos cursos tecnológicos passam a estar dispensados das provas, a menos que queiram ingressar no ensino superior. O exame de Filosofia deixa de ser obrigatório para quem só quiser concluir o 12.º E esta é a primeira prova de fogo aos novos programas, introduzidos nas turmas que entraram para o 10.º em 2003/2004.
As alterações geraram muitas dúvidas na altura das inscrições. Mas, na sexta, vários conselhos executivos ultimavam os preparativos e garantiam que tudo corria como previsto. A prática, conta António Cruz, da Secundária Vitorino Nemésio, "está mecanizada": "O problema é mais a extensão dos programas."
Mas se os professores estão optimistas, os alunos nem tanto. Nas vésperas do exame, muitos sentiam-se "cobaias". Isto porque, este ano, a ausência de provas-modelo veio adensar os nervos e baralhar o estudo. Receios desvalorizados por alguns docentes: assim evita-se treinar só certos exercícios.
O certo é que, para quem quer rumar à universidade, as provas podem fazer a diferença. Em 2005 as médias da classificação interna caíram após os exames e a Matemática voltou a ensombrar a pauta: um terço chumbou na prova.

Exames do 9.º ano
Mas se o tempo é de responsabilidade acrescida para os alunos do secundário, os mais novos não se ficam atrás. Os exames nacionais do 9.º ano realizaram-se pela primeira vez o ano passado, com regras de excepção. Agora a nota dos exames de Português e Matemática passa a valer 30% (e não 25%) e as questões não incidem só sobre a matéria dada no 9.º, mas em todo o 3.º ciclo.
Aspectos que, para Edviges Ferreira, da Associação de Professores de Português, não devem causar preocupação. A matéria é revista no início do 9.º ano e o peso do exame não é tão significativo: "Para que um aluno que tem 3 desça para 2, tem que ter 1 na prova", explica. Contas importantes se pensarmos no descalabro dos exames do 9.º, em 2005: 70% de negativas só a Matemática. Por isso, muitas escolas, como a EB23 Nuno Gonçalves ou a Secundária e 3.º ciclo Rainha D. Amélia, em Lisboa, apostaram em sessões para tirar dúvidas.

Isolado do mundo em nome da medicina
Lélio está há uma semana isolado do mundo. Não liga a Internet - excepto para raríssimas trocas de apontamentos. Não faz pausas senão para comer ou ver o que dá na TV, "em cinco minutos". A música no quarto é ambiente: volume no mínimo e só instrumental. As noitadas de estudo são até à uma, duas da manhã. E a alvorada não pode ser mais tarde do que as dez. Saída à noite na sexta? "Sim." A sério?! "Sim... Tive que ir à escola ver qual era a sala do exame de Português..."
Com média de 19 e os olhos postos no curso de Medicina, não é de estranhar que Lélio, 18 anos, só tenha saído de casa nos últimos dias para assistir a uma aula de esclarecimento de dúvidas, na escola de S. João do Estoril, onde estuda. Até a explicação de Química foi dada em casa.
A estratégia está há muito traçada. Revê os apontamentos feitos ao longo do ano. Relê parte das obras estudadas a Português. Pratica os exercícios das disciplinas mais técnicas. Consulta as questões que o Ministério da Educação apontou como exemplo, à falta das provas-modelo. E vai combatendo a preguiça, para acordar cedo e aproveitar as manhãs de estudo - "rendem, porque há mais sossego".
No sábado, prescindiu dos Escoteiros, mas não resistiu a ver o Portugal-Irão. Nervos? "Só se pensar muito no assunto. Se correr mal sei que dei o melhor." E tem truque: "Não estudar na mesa, só no sofá."
Mas há quem tenha ainda mais auto-disciplina. João, um amigo de outra escola, em Tires, sonha em ser cirurgião e, ao contrário de Lélio - que só se aplicou mais este ano -, desde o 10.º que a sua vida é "estudar, estudar, estudar". Por isso diz que esta semana de preparação para os exames não vem mudar muito a sua rotina. A dedicação ao estudo lê-se no modo como pergunta se a entrevista não demora muito, ou nas poucas palavras que usa para desvalorizar os que possam não perceber a sua atitude: não viu o jogo da selecção, mas também não gosta de futebol; não tem tempo para fazer outras coisas, mas também não gosta de fazer mais nada. "Gosto de estudar", explica.
Mais descontraído é Gonçalo, na área de Economia. Porque isto dos exames "é a sério" e quer "despachar tudo na primeira fase", também passou a última semana trancado em casa. Só saía de vez em quando, para espairecer. Tem tudo o que precisa: duas secretárias - uma para o PC e outra para as coisas da disciplina que está a estudar -, o chão para espalhar os apontamentos das cadeiras que se seguem e a música "bem alta para não cantar" (!). Ah! E Marta, a namorada... para lhe dar explicações de Matemática.

Noite ressente-se da falta de estudantes
Sábado, meia-noite. Na mesa de Vanessa, num bar perto das Janelas Verdes, em Lisboa, não há espaço para stress. Nem livros. Nem consciência pesada. Aluna do 12.º ano, tem os exames à porta, mas não se mostra preocupada. "Se ficasse trancada em casa é que não aguentava." Por isso, é uma das que trocaram os resumos por um copo com os amigos. Hora de regresso? "Quatro, cinco da manhã." Logo se vê.
Vanessa mora em Alverca, tem 17 anos e média para entrar no curso que quer: Turismo. O azar ou a "falta de jeito para escrever" até lhe podem vir a estragar o exame de segunda [hoje], mas há uma nota que ninguém lhe tira: um 20 em descontracção. Durante a semana fez por estudar. Mas não deixou de sair para jogar andebol ou mesmo para um "cafezinho", na sexta à noite. Entre risos, admite que talvez esteja "um bocadinho descontraída de mais", mas insiste: "Não serei a única."
Ou será? Inês, a empregada deste bar, conta que se notou "uma diferença enorme" na afluência dos mais novos. "À sexta até dizemos que é 'a noite dos putos', mas ontem [sexta] não havia quase ninguém do secundário." O negócio não importa: "Ainda bem, senão era mais uma razia..." Nas notas.
Num ou outro grupo, à mesa com álcool e piadas, lá se encontra um dissidente do 12.º. Como a Joyce, 20 anos, prova de Economia na quinta. Diz-se nervosa e até promete ir embora "daqui a pouco", mas as notas não lhe tiram o sono: "Quero ir para o privado."
Mais abaixo, num bar onde a música é tão alta que se tem que sair para falar, há a Hilma, a festejar "mais ou menos" os 18 anos. Insiste que está preocupada com a prova de Português mas não desiste... da ida à discoteca com as amigas. Afinal, as contas estão feitas: o 13 de média "é razoável" e até pode ter negativa que mantém a positiva...
Quanto ao Francisco, 18 anos sentados numa esplanada perto da Barraca, "tem tempo". Está no 11.º e os seus exames só começam a 27. O resto da história, contada sem desviar os olhos do telemóvel, é simples: "Ainda não estudei porque não me apeteceu."
Duas da manhã, os bares estão longe de cheios e a média de idades não é a habitual, dizem os entendidos. À porta da discoteca Loft, os seguranças explicam que a noite lisboeta ficou sem jovens do 12.º desde sexta. Resta saber se pelos exames... ou pela ponte.

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