Professoras Desesperadas

Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar.


Alunos copiam mais nos países mais corruptos

Os países onde os alunos universitários mais admitem copiar nos exames são também aqueles onde o índice de corrupção é mais elevado. A associação entre corrupção no mundo real dos negócios e a fraude académica está traçada num estudo efectuado pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP), que avaliou 21 países, de quatro continentes. E os resultados mostram uma "forte correlação" entre as duas realidades.
Esta investigação - a de maior dimensão a nível mundial em número de países avaliados - inquiriu mais de sete mil alunos, dos cursos de Economia e Gestão. Aqueles que, salienta o trabalho de Aurora Teixeira e Fátima Rocha, serão os homens e mulheres de negócios do futuro e "potencialmente os líderes económicos e políticos".
E a questão, escrevem as autoras, é que se os mesmos padrões éticos prevalecem nos ambientes académico e de negócios, tendo em conta que os comportamentos passados predizem o futuro, "é provável que quem adopte actividades não éticas na sala de aulas as venha também a adoptar no mundo dos negócios". Por isso, o exercício de associação entre a percentagem de alunos que admite copiar (ver texto ao lado) e medidas de corrupção, como o Índice Internacional de Transparência.
As investigadoras destacam uma relação significativa, marcada por duas excepções (a Argentina e a Nigéria, ver caixa), na associação positiva entre os níveis de copianço de cada país e o índice de corrupção percebida. Assim, os países nórdicos, vistos como os menos corruptos do mundo, apresentam igualmente níveis baixos de incidência de fraude académica. É o caso da Suécia e da Dinamarca, avaliadas no estudo da FEP. Também as Ilhas Britânicas e a Nova Zelândia, que pontuam baixo no índice de corrupção, apresentam percentagens baixas de alunos que admitem copiar nos exames.
Portugal - onde 62,4% dos alunos universitários, à semelhança do que se passa noutros Estados da Europa do Sul, admitem copiar nos exames às vezes ou quase sempre - aparece também como um dos países onde a corrupção percebida é mais elevada. No topo da tabela que relaciona corrupção e fraude académica surgem países como Polónia, Roménia, Brasil, Eslovénia, Espanha e França.
Aurora Teixeira salienta que está já demonstrado que "a corrupção tem uma relação negativa com a competitividade das nações". E por isso, defende, as instituições de ensino têm que promover uma "educação cívica a este nível, promovendo comportamentos éticos que se possam transpor para o mercado de trabalho". É que, explica, a preocupação com a competitividade "tem que ser vista a montante", nomeadamente nos padrões éticos que são incutidos no sistema de ensino. E actualmente, a maior parte dos estudantes não vê o acto de copiar com um acto sério ou como um problema.
Por outro lado, a dimensão expressiva do fenómenos deixa adivinhar que as sanções que advêm deste acto não parecem ser desencorajadoras. Daí que, explica Aurora Teixeira, "não se prevê que a médio prazo a situação vá melhorar".

Europa de Leste no topo da cópia, nórdicos exemplares
Mais de 95% dos alunos da Dinamarca e Suécia garantem nunca ter copiado. Em contrapartida, não há um único estudante polaco a excluir-se desta prática e 96% dos romenos também são adeptos das cábulas. Mais de 80% dos estudantes brasileiros, eslovenos e franceses admitem a fraude. Em Portugal, como o DN já tinha adiantado em Janeiro, são pouco mais de um terço os universitários que referem nunca ter recorrido a métodos fraudulenteos nos exames.
No estudo da Faculdade de Economia do Porto (FEP), A cross-country evaluation of cheating in academia, salienta-se o facto de o copianço ser uma prática muito disseminada a nível mundial, ainda que haja grandes disparidades. Enquanto os países da América Latina e da Europa de Leste são aqueles onde os alunos mais admitem copiar, os nórdicos quase nunca usam métodos fraudulentos. Pelo meio ficam as Ilhas Britânicas, os Estados Unidos e a Nova Zelândia, onde cerca de 80% dos estudantes referem nunca ter copiado.
O bloco europeu tem também algumas diferenças: entre a disseminação da cópia no Leste e o caso alemão, onde apenas 50% dos alunos admitem ter copiado alguma vez, temos a França, com 83%, e a Áustria, com 71,6%. Na Europa do Sul, os maiores adeptos das cábulas parecem ser os espanhóis (com 79,6% dos estudantes a admitir copiar), seguidos dos turcos (com 65,4%). Nesse bloco, com 62,4% dos alunos a copiar em exames, Portugal é mesmo o menos cábula.
As investigadoras avaliaram ainda a probabilidade de observar outros alunos a copiar. E se de novo não há um único brasileiro ou polaco a afirmar que nunca viu ninguém usar cábulas, mais de 80% dos nórdicos e cerca de metade dos estudantes das Ilhas Britânicas, Estados Unidos ou Nova Zelândia afirmam que não há qualquer probabilidade de ver um colega a copiar. Os restantes países apresentam taxas próximas dos 90% quando se trata de afirmar que se viu um outro estudante usar cábulas.
Um sinal, dizem as investigadoras, do quão disseminado está o fenómeno da cópia. E com a agravante de que, para a grande maioria dos alunos, copiar não é um problema sério. Por outro lado, parece evidente que, na maioria dos países, as sanções são inexistentes ou insuficientes. De facto, os países onde as sanções percebidas pelos alunos pelo facto de serem apanhados a copiar são as mais graves correspondem aos que apresentam igualmente menor taxa de cópia. Na maior parte dos casos, sustentam as investigadoras da FEP, verifica-se uma "inconsequência das sanções".
Por outro lado, é ainda interessante notar que na Suécia nenhum aluno foi apanhado ou viu algum colega ser apanhado a copiar. Mas em países como o Brasil, a Colômbia, a Polónia, a Roménia ou a Eslovénia, mais de 80% já viram alguém ser apanhado a copiar.

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