Escolas do ensino secundário serão modernizadas
0 Comments Published by . on quinta-feira, abril 06, 2006 at 12:52 da manhã.O Ministério da Educação quer acabar com a degradação das escolas com ensino secundário de todo o País. Para já, apenas serão alvo de um programa integrado de modernização os estabelecimentos de Lisboa e do Porto. No futuro, as autarquias serão chamadas a colaborar na reabilitação e modernização das escolas secundárias.
O programa integrado de modernização será elaborado por um grupo de trabalho, coordenado pela gestora da Intervenção Operacional da Educação, Alexandra Vilela. A reabilitação e modernização dos edifícios vai chegar, numa primeira fase, a 25 escolas com ensino secundário de Lisboa e 13 do Porto, abrangendo 36 mil alunos.
O grupo de trabalho deverá elaborar até 31 de Maio o levantamento e identificação das falhas físicas e funcionais das escolas, a identificação do tipo de intervenções a realizar, a estimativa dos custos e modelo de financiamento, concepção do programa de execução e calendarização. Para isso, estão a ser solicitadas às escolas, através das direcções-regionais de Educação, todo o tipo de informações relativas a instalações, problemas, espaços e equipamentos.
A criação do programa apanhou professores e pais de surpresa. Maria Emília Bigotte, vice-presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais e docente do Instituto Superior de Engenharia de Coimbra, diz que o programa “deve ser de cariz nacional, pois há muitas escolas degradadas fora das grandes cidades”.
A responsável defende que as condições ambientais são grande influenciador para o bem-estar dos alunos. “A degradação não é valorizada, atrai mais degradação e isso reflecte-se nos resultados pedagógicos.” Para já, “os pais estão cá para avaliar o trabalho”.
Anabela Delgado, da Federação Nacional de Professores e docente da Escola Secundária do Lumiar, questiona a dotação financeira para o projecto. Entende que seguirá a linha do Governo de “apostar no tratamento do parque escolar”.
INFILTRAÇÕES E FISSURAS
A Escola Secundária Padre António Vieira (Alvalade), com 40 anos, tem um projecto de intervenção que aguarda por financiamento há meia dúzia de anos. “Fazemos remendos, mas intervenções de fundo é impossível, porque não há dinheiro”, explica Dulce Chagas, presidente do conselho executivo.
A responsável revela alguns dos problemas dos edifícios: fissuras, infiltrações, caixilharia a necessitar de substituição e instalações eléctricas desadequadas ao século XXI. “Há 40 anos não estava previsto que houvesse computadores ou ar condicionado nas salas.” Nalguns corredores, o estuque já não vai aguentado o peso dos anos e por vezes “há alguns desprendimentos das paredes e tecto”.
PROBLEMAS DE LIMPEZA
Em Benfica é a limpeza do edifício – da autoria de Hestnes Ferreira e agraciado com o Prémio Valmor em 1982 – que preocupa o presidente do Conselho Executivo da Secundária José Gomes Ferreira.
Manuel Esperança explica que as paredes são de betão branco, por isso uma pintura não resolve. “Só jacto de areia.” A falta de um refeitório é uma das lacunas. “Não penso que venha a ser construído nos tempos mais próximos, mas seria importante porque também poderá servir as escolas Pedro de Santarém e Quinta de Marrocos.”
A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, avançou ao CM que pretende implementar um programa semelhante para o 1.º ciclo. “Quando soubermos quais as escolas que vão fechar, temos de avançar para a construção dos centros escolares, que deverão ser o mais modernos possível.”
O ENSINO SECUNDÁRIO EM PORTUGAL
- 23 416 alunos que estudam nas escolas com secundário em Lisboa.
- 13 075 alunos que estudam nas escolas com secundário no Porto.
- 463 escolas públicas com ensino secundário em todo o País.
- 67 escolas secundárias públicas em todo o País.
- 401 500 alunos que estudam nas escolas públicas com ensino secundário.
- 264 647 alunos matriculados só no ensino secundário público.
- 56 610 docentes colocados nas escolas com ensino secundário no País.
- 19 381 funcionários não docentes nas escolas com ensino secundário.
- 904 alunos que estudam, em média, nas escolas secundárias.
Fonte: GIASE/ ME
"QUERO COMEÇAR AS OBRAS O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL" (MARIA DE LURDES RODRIGUES, MINISTRA DA EDUCAÇÃO)
Correio da Manhã – Porquê este programa de modernização?
Maria de Lurdes Rodrigues – A maior parte do património é antigo. No centro das cidades as escolas têm mais de 50 anos e nunca foi encarada a modernização. Valorizar este património é preparar o futuro. É uma forma de, através das escolas, revitalizar os centros urbanos. Boas escolas atraem alunos e vida.
– Mas tem havido intervenções nas escolas?
– As direcções-regionais de Educação têm feito sobreviver estas escolas com reparações pontuais. Queremos modernizar para apoiar a diversificação da oferta educativa.
– Como?
– Vai haver patamares mínimos de actuação: caixilharias, casas de banho, redes de comunicações. Isto são as áreas essenciais. Mas também é preciso ter laboratórios, oficinas, bibliotecas, gabinetes de trabalho.
– Quanto é que vai custar?
– O programa deverá ser incluído no próximo Quadro Comunitário de Apoio. Ainda não sabemos qual vai ser o investimento.
– Para quando as primeiras obras?
– A minha vontade é começar o mais rápido possível. O grupo definirá a calendarização, mas já há muitos projectos. O nosso sonho era poder ser no Verão, ter estudantes de Arquitectura em concursos de ideias.
– O programa vai cingir-se a Lisboa e Porto?
– É onde há mais construção, são escolas-piloto. Queremos expandir, em parceria com autarquias, para as restantes escolas do País que estejam degradadas.
– Porquê um representante da Parque Expo 98 no grupo de trabalho?
– A empresa tem ‘know-how’ em intervenção urbana e não tínhamos serviços no ministério capazes. É uma empresa que tem um olhar fresco e diferente, tem o hábito de olhar para a cidade.
– A D. João de Castro será abrangida?
– Está na lista de avaliação. Nos moldes actuais é para encerrar. Em termos de rede não se justifica porque não tem alunos. O futuro espaço será equacionado neste programa.
DEGRADAÇÃO E SEGURANÇA
A Escola Secundária Herculano de Carvalho (Olivais) foi notícia há poucas semanas por ter sido palco de uma agressão a uma professora, perpetrada por um indivíduo estranho à escola. Terá entrado nas instalações por um dos três portões sem vigilância.
O estado de degradação do estabelecimento, inaugurado em 1984 e que tem mais de 700 alunos, é um dos motivos para o clima de insegurança que vivem professores, alunos e funcionários. “A vedação não tem condições, tem um perímetro de 500 metros e a rede está cortada nalguns locais”, conta António Guedes Ferreira, presidente do Conselho Executivo.
Instalação eléctrica com problemas, falta de iluminação exterior e gradeamentos fáceis de transpor são outras deficiências apontadas pela direcção escolar. “Já pedimos ao ministério que realizasse obras, mas está sempre a ser adiado.”
PAIS ACUSAM INÉRCIA
Mais críticos são os representantes da Associação de Pais e Alunos, que acusam a inércia do Conselho Executivo e do Ministério da Educação como culpada do estado da escola. O presidente, Luís Ferreira, aponta para a falta de condições nas casas de banho – azulejos partidos, falta de material higiénico – as lâmpadas sem protecção, os quadros eléctricos facilmente acessíveis pelos alunos ou os graffitis como alguns dos pontos negros.
“A degradação aumentou nos últimos sete anos, não há investimento, a escola não se adaptou fisicamente.”
A COMISSÃO
ALEXANDRA VILELA, GESTORA
Licenciada em Sociologia, 38 anos, é gestora da Intervenção Operacional da Educação há um ano. Vai coordenar o grupo de trabalho.
VITOR FREITAS, ENGENHEIRO
Assessor principal da secretaria- geral do Ministério da Educação, será o elo de ligação entre o grupo e a estrutura de apoio.
TERESA HEITOR, ARQUITECTA
Professora associada do Dep. de Engenharia Civil e Arquitectura do Técnico, é doutorada em Engenharia do Território.
REPRESENTANTE DA PARQUE EXPO
A experiência de intervenção e modernização de espaços degradados da Parque Expo levou à inclusão de um representante da empresa.
REPRESENTANTE DA DREL
O representante da DREL será essencial nos contactos com as escolas de Lisboa e no levantamento dos problemas e necessidades.
REPRESENTANTE DA DREN
O representante da Direcção-Regional de Educação do Norte será o elo de ligação do grupo com as direcções da escolas do Porto.
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