Professoras Desesperadas

Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar.


A verdadeira greve dos professores

A verdadeira greve dos professores seria, não estar ausente, mas cumprir as regras que o Ministério exige “stricto senso”.
Assim, os professores estariam na escola as horas semanais exigidas.
Claro que não poderiam trabalhar a preparar aulas, corrigir testes ou estudar, porque não têm gabinetes disponíveis e ninguém consegue concentrar-se numa sala de professores onde os sucessivos intervalos são 15 minutos de imperiosa e barulhenta descontracção, ou corridas esbaforidas de 5 minutos de fecha porta, desce escadarias, atravessa o pátio, sobe escadarias, troca o livro de ponto e despacha as pernas para atravessar de novo o pátio e trepar novas escadarias de um outro bloco do edifício, isto enquanto consulta rapidamente e em equilíbrio precário as suas notas sobre o que deve ser a aula seguinte..
Também seria impossível usar os computadores, numa média de 5 para setenta professores (com sorte). Quando se acaba de reformatar o programa que antes tinha sido usado por um colega e se começa um trabalho, descobre-se que estão dois professores em pé, à porta do cubículo, à espera de que acabemos. Impossível a concentração.
Claro que também que sucederiam cenas como esta:
- Setôra, arranja um bocadinho para falar comigo!!! Os meus pais nunca têm tempo!
- Setôra, o meu dente está a cair!
- Setôra, o Zé bateu-me…

E a resposta seria – “Meu filho, não posso fazer nada. Tenho muita pena mas o meu horário acaba dentro de 25 segundos.”
Depois iríamos para casa e olharíamos sem stress os materiais e instrumentos que durante anos pagámos do nosso bolso, desde computadores e impressoras (esses, valha a verdade, com alguma redução no IRS) os dossiers, as rimas de papel, os livros, dezenas e dezenas de livros, os Cds, as canetas, os acetatos, etc, etc (todos estes sem qualquer desconto no IRS). Nada para ali fazer, o nosso horário estaria cumprido. Poderíamos até despachar toda aquela tralha que durante tantos anos nos obrigou a pagar uma casa maior.
É no entanto impossível fazer esta greve. Nenhum verdadeiro professor seria capaz disso. Nenhum verdadeiro professor quereria dar aos seus alunos o exemplo de incumprimento de tarefas, nenhum verdadeiro professor deixa de consolar e ajudar um aluno aflito, sejam quais forem as horas para que será obrigado a atrasar a sua saída do local de trabalho.
Portanto, tendo-lhe sido impossível fazer uma parte importante do seu trabalho na escola durante as horas obrigatórias de presença, enfrenta em casa mais 2, 3 ou 4 horas de papéis, computador o caneta vermelha. Se, de estafado, não consegue, olhará o fim-de-semana como a salvação. Os fins-de-semana já eram a salvação dos professores, em muitos casos. Temo é que agora deixem de ser tempo suficiente antes de se ir para o hospital.
Texto da professora Margarida Ribeiro sobre as greves no sector da Educação publicado no Blogue Abrupto do comentador político Pacheco Pereira.

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