Professoras Desesperadas

Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar.


Plágio de trabalhos na Internet é pão-nosso do Básico ao Superior


O recurso crescente dos estudantes à Internet em busca de informação para os trabalhos escolares e universitários converteu meras exposições, monografias, dissertações ou mesmo teses em exercícios de plágio construídos sem pejo. Muitas das vezes, o "rabo" fica de fora para gáudio dos professores são as mantas de retalho sem nexo ou construções frásicas com sabor abrasileirado. Outras vezes, as cópias dão mais luta, exigindo ao docente a utilização de ferramenta idêntica para detectar a infracção. O mundo da fraude académica fica complementada com um número crescente de licenciados desempregados que, a troco de um punhado de euros, faz surgir o trabalho que, com sorte, acelera a obtenção do tão desejado canudo.
Tudo começa no Ensino Básico, quando a professora pede um pequeno trabalho, coisa leve, sobre, por exemplo, o meio ambiente. "Quando peço os trabalhos, já sei que vou acabar por receber muitos semelhantes, com as mesmas ilustrações e os mesmos gráficos. Os alunos vão todos ao Google e pronto". Ana Faria, professora de Ciências Naturais, não se importa. "O importante é que aprendam a pesquisar. Mas alerto-os sempre para a necessidade de identificarem a fonte de informação", esclareceu.
Do Básico, pelo Secundário, até ao Superior, o caminho da investigação raramente conhece outro assento que não seja a cadeira em frente a um terminal de computador com ligação à Net. As noções de ética ouvidas nesta ou naquela aula não têm a força para vencer o facilitismo de escolher e copiar aquilo que outros produziram.
É por isso que Jorge Tavares (o que se dispôs a revelar ao JN exige anonimato) vai ter de recorrer ao motor de pesquisa Google para analisar, nas próximas semanas, os trabalhos de fim de semestre dos seus alunos da área das engenharias. "São alunos dos 4.º e 5.º anos, mas sei, por experiência adquirida, que uns 80% tiveram na Net a sua única fonte de pesquisa", salientou.
Em anos anteriores, tem recebido um pouco de tudo desde cópias integrais até "mantas de retalho" que mais não são do que pedaços de uma variedade de trabalhos encontrados na rede.
Numa autêntica caça do gato ao rato, Jorge Tavares - professor de uma instituição de ensino superior público do Porto - usa o Google para detectar as infracções. "Digito uma expressão técnica utilizada no trabalho e comparo com os textos que encontro", explicou. Na maior parte dos casos, a entrevista que se segue à apresentação do trabalho complementa o diagnóstico da fraude. "Neste momento, tenho em mãos uma dissertação de mestrado que seguiu os mesmos caminhos", revelou.
Jorge Tavares referiu que muitos alunos sabem que, com alguns professores, o risco compensa. "São por vezes centenas de trabalhos para analisar e há colegas que mal olham para eles." Rui Trindade, professor da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação do Porto, é de opinião que, muitas vezes, os alunos são sobrecarregados com trabalhos.
"Um trabalho de investigação é uma oportunidade de auto-aprendizagem. Mas como os alunos não são auto-suficientes, os professores devem acompanhar a feitura dos trabalhos, caso contrário não precisavam dos docentes para nada", referiu. Rui Trindade aposta, assim, na tutoria do seus alunos. "Quando se faz um acompanhamento, a tendência dos alunos para 'googlar' tende a diminuir muito", concluiu.
Usar as ideias de outros sem revelar as fontes A utilização de trabalho produzido por outros, omitindo adequadamente a fonte de informação, constituiu plágio. Plagiar pode ser a utilização, palavra por palavra, do texto elaborado por alguém sem identificar o autor, como parafrasear as suas ideias sem o indicar.

Como fazer para evitar o plágio na Net?
Para reproduzir textualmente o que outros escreveram, deve-se colocar o texto copiado entre aspas e identificar autor e fonte. O melhor será ler primeiro, ficar com as ideias, e depois tentar escrever um texto de produção própria.

Júris "amigos" podem ajudar a aprovar teses
Teses de mestrado ou mesmo de doutoramento mal elaboradas, com insuficiente suporte documental ou parcialmente plagiadas podem ser bem sucedidas graças à forma como os júris de apreciação são constituídos.
Questionado sobre a apresentação de dissertações plagiadas através da Internet por estudantes universitários, Jorge Tavares - chamemos assim a um professor catedrático da Universidade do Porto - começou por informar que os júris de apreciação de teses de mestrado e doutoramento são previamente escolhidos.
"Não são casos que possam ser generalizados, mas, na realidade, há muitas teses que são aprovadas e que cientificamente deixam muito a desejar", referiu ao JN.
Jorge Tavares salientou que a constituição de um júri para apreciação de uma tese começa por ser constituído pelo orientador. "Muitas vezes, o orientador não fez o trabalho que devia com o mestrando ou mantém com ele uma relação de amizade e, por isso, ao escolher os elementos do júri, procura aqueles com quem mantém uma boa relação e que o poderão ajudar a aprovar o candidato. O sistema que temos assim o permite", revelou.
No seu entender, o mais correcto seria a criação de um conselho, a nível nacional, que reunisse os professores por áreas do saber. "Os júris seriam constituídos de acordo com a lista e nem o orientador nem o candidato conheceriam previamente a sua composição", defendeu.
Mário Carvalho, docente do Instituto Superior de Engenharia do Porto, confirmou ao JN a possibilidade de uma tese ser aprovada com combinação prévia.
"Possível é, na realidade, mas não podemos generalizar esses casos", realçou. No seu dizer, "mais grave é o que se passa em algumas instituições de Ensino Superior privado, em que não havendo professores doutorados, não deixa de haver a constituição de juris de doutoramento para atribuir o grau!"

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