Fraude académica virou negócio
0 Comments Published by . on terça-feira, janeiro 02, 2007 at 8:30 da tarde.

"A Influência dos Portugueses no Sudeste Asiático", "A Emigração Portuguesa" e "Luís de Camões e Os Lusíadas". Estas são apenas três das dissertações que o leitor poderá adquirir por 7,5 euros a página no "Essayfinder", um dos muitos sítios da Internet que se dedicam à comercialização de trabalhos científicos. Contra o incremento do plágio via Internet, milhares de instituições de Ensino Superior por todo o mundo adquiriram programas informáticos específicos que ajudam a detectar as fraudes.
"Cyber Essays", "Thousands of papers", "El Rincón del Vaguet". Pululam na Net sítios onde se podem adquirir trabalhos sobre os mais diversos temas. Alguns desses "sites" chegam mesmo a se oferecerem para a compra de trabalhos de investigação.
Contudo, o campo aberto ao plágio vai muito além. Na realidade, são já hoje muitas as instituições de Ensino Superior que apresentam na rede as teses defendidas pelos seus alunos. Pesquisar a produção feita numa universidade bem distante e copiar parcialmente ou na íntegra um trabalho é uma realidade que está à distância de alguns "cliques" no teclado do computador
John Lesko, do Departamento de Inglês da Saginaw Valley State University, no estado norte-americano de Michigan, dirige um jornal "online" - o "Plagiary" - dedicado ao plágio. Em declarações ao JN, referiu que a utilização da Internet para a pesquisa e cópia de trabalhos, por parte dos estudantes do Ensino Superior, é uma realidade muito desenvolvida.
"Foi feito um inquérito envolvendo mais de 50 mil estudantes oriundos de 60 universidades espalhadas por todo o país. E o resultado que obtivemos foi que 70% dos inquiridos admitiram copiar habitualmente nos testes e 60% referiu mesmo alguma forma de plágio, utilizando a Internet, na elaboração dos trabalhos", informou.
Em Portugal, não há números que comprovem a extensão do fenómeno. Contudo, acredita-se que não ande longe da realidade norte-americana. "Acredito que 80% dos estudantes se sirvam unicamente da Internet para as suas pesquisas e elaboração de trabalhos", disse um professor universitário contactado pelo JN.
Face à utilização fraudulenta de trabalhos retirados da Net, não parecem existir, nas instituições universitárias, normas de conduta acordadas entre os docentes. Rui Trindade, professor da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação do Porto, afirmou que se trata de um assunto sobre o qual os professores não falam muito. A mesma opinião tem Mário Carvalho, professor do Instituto Superior de Engenharia do Porto. "Não há quaisquer orientações nem a nível de instituição, nem a nível de departamento, o que é uma grande lacuna", salientou.
Em muitos países, as instituições de Ensino Superior dispõem de programas informáticos especialmente criados para detectar o plágio, como sejam o "turnitin" ou o "ferrit". Algum desse "softaware" exige instalação prévia e manutenção de programas adicionais. Outros, contudo, dispensam a instalação de software, sendo o trabalho de busca e comparação feito exclusivamente com base na Internet.
Uma vez submetido à verificação, o trabalho académico é comparado pelo programa com uma infinidade de outros trabalhos. No final, o professor recebe um relatório em que são identificados as fontes copiadas e os excertos plagiados. De acordo com a empresa que comercializa um dos programas, uma vez instalado, o nível de "copianço" feito pelos alunos na rede cai consideravelmente, com o receio de serem detectados.
NEGÓCIOS. Era uma tese de doutoramento exigente, sobre a técnica de construção de pontes. Precisaria de um ano para fazer uma boa investigação em bibliotecas e arquivos de algumas instituições. Por isso, o preço nunca poderia ir abaixo dos 25 mil euros (cinco mil contos na moeda antiga). Também por isso, o negócio não se realizou.
Pedro Moura é o nome fictício de um licenciado em Economia que tem espalhado por estabelecimentos de ensino e comerciais do Porto cartazes a oferecer os seus préstimos na elaboração de trabalhos universitários e explicações.
E, pelo que revelou ao JN, clientes não lhe faltam. "Não posso aceitar mais de 10% dos pedidos que tenho, senão acabo no cemitério", esclareceu.
Diz conhecer bem os alunos universitários não sabem investigar, nem tão pouco elaborar uma monografia, para não falar numa tese de mestrado ou doutoramento. Este é, em termos gerais, o universo dos que procuram Pedro Moura. "Muitos estão equivocados, julgam que faço magia e que, em cerca de 10 dias, produzo um trabalho com umas 50 páginas", refere.
Apesar de se dizer formado em Economia, aceita a elaboração de trabalhos para qualquer área do saber. Das Ciências às Artes, passando pelas Humanidades, vale tudo. Não se quer tido como charlatão. "Dão-me o tema e eu vou estudá-lo a fundo para elaborar o trabalho. E, depois, reuno frequentemente com a pessoa para explicar-lhe aquilo que ela não sabe e vai precisar saber para depois defender a tese", explica.
Pedro Moura estreou-se nestas lides com um trabalho de complemento de formação sobre aprendizagem da escrita para uma professora do 1.º ciclo. Contudo, é com Estatística e Econometria que se safa melhor. Preços? Depende. "Uma monografia que leve um mês a elaborar nunca fica por menos de 2500 euros", adverte.
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