Protesto contra aulas de substituição teve apoio de professores em vigília
0 Comments Published by . on quinta-feira, novembro 16, 2006 at 5:09 da manhã.A manifestação dos alunos do ensino secundário contra as aulas de substituição, que decorreu hoje em frente ao Ministério da Educação, em Lisboa, contou com o apoio de alguns dos professores que iniciaram ontem, no mesmo local, uma vigília contra a revisão do Estatuto da Carreira Docente.
Em declarações ao PUBLICO.PT, Manuela Mendonça, professora do ensino secundário, disse que concorda com a reivindicação dos alunos e pensa que as aulas de substituição — tal como estão organizadas — não são uma mais-valia pedagógica.
"Acho que é óbvio para quem está nas escolas que as aulas de substituição não são uma medida que contribua para a aprendizagem dos alunos. Os professores muitas vezes são de outras disciplinas e mesmo que levem fichas de trabalho, em caso de dúvidas não têm condições para os esclarecer" disse. Contudo, Manuela Mendonça propôs uma alternativa: "Os professores quando sabem que vão faltar podiam tentar trocar a aula com outro professor da turma. Isto já acontece em muitas escolas".
Mário Nogueira, presidente da Federação Nacional de Professores (Fenprof) afirmou que as aulas de substituição são "uma desorganização completa" e "uma impossibilidade". "O professor deve ter um conhecimento da turma e dos alunos", acrescenta. Além disso, considerou que tal medida "não tem razão de ser" no secundário e assegurou que existem outras actividades educativas que podem ser feitas com os alunos para a promoção das suas aprendizagens e não apenas "fazer com que estejam ocupados".
Também ouvida pelo PUBLICO.PT, a educadora de infância Olinda Soeiro considerou que "as reivindicações [dos alunos do secundário] são justas". No seu entender, as aulas de substituição "são feitas em cima do joelho e não faz sentido como estão a funcionar".
Alunos dizem que "os professores não estão preparados"
Sónia Mendes, presidente da associação académica da Escola Secundária Matias Aires, no Cacém, considerou que as aulas de substituição são "inúteis" e criticou a forma como estão organizadas. Mas acrescentou: "[A] continuarem têm de ser remodeladas, porque assim não aprendemos nada". A aluna considera também que são uma forma "ridícula" de controlar os alunos: "No secundário já temos idade para nos organizarmos".
"Já temos idade para sermos autónomos (…) isto é um ATL [actividades de tempos livres], parece que estamos num infantário", criticou Susana Madeira, aluna do 12º ano da escola Ferreira Dias, no Cacém. "Estamos a perder o nosso tempo e o dos professores", afirmou Susana Madeira, que terminou com uma chamada de atenção: "A culpa não é dos professores, eles também são vítimas".
Um dos principiais problemas apontados pelos alunos é o facto de o professor substituto não leccionar a mesma disciplina do professor que falta. "Os professores não estão preparados, são de outras áreas e não nos sabem ajudar", disse Joana Mata, da escola secundária Ferreira Dias, que concorda com as aulas de substituição, "se forem bem organizadas e com professores capacitados e da disciplina". A aluna acrescentou que "muitos professores apoiaram o nosso protesto, eles também não concordam com as aulas de substituição".
"Não somos cobaias do Governo"
Apesar de as aulas de substituição serem o motivo visível da manifestação de hoje em Lisboa, os alunos apontaram mais problemas.
"Não somos cobaias do Governo" foi outro dos "slogans" gritados pelos estudantes, que sentem que a sua aprendizagem está a ser prejudicada com as constantes reformas educativas. "No início do ano todas as alterações deviam estar feitas e não andar a mudar ao longo do ano (…) todos os meses há legislação nova", disse Tânia Bragança, aluna do 12º ano da Escola Secundária de Odivelas, em Lisboa. "Este ano vamos entrar para o ensino superior e não sabemos como vão ser os exames nacionais", lamentou.
Sónia Mendes, da escola secundária Matias Aires, considerou que as reformas curriculares tornaram o ensino muito teórico: "Tiraram as disciplinas técnicas, não há quase aulas práticas e isso vai prejudicar na nossa preparação para a Universidade".
Manifestação contou com quatro centenas de alunos
Os alunos de algumas escolas secundárias da região de Lisboa reuniram-se esta manhã em frente aos seus estabelecimentos de ensino e seguiram depois em manifestação até ao Ministério da Educação. A adesão foi subindo ao longo da manhã e pelas 12h00 contavam-se já cerca de 400 alunos, de acordo com os dados da PSP.
"Jaulas de substituição" e "Somos do secundário ou do infantário" foram alguns dos cartazes erguidos pelos alunos em frente ao ministério.
Apesar do apoio manifestado pelos professores ouvidos pelo PUBLICO.PT, alguns alunos criticaram a forma como o protesto decorreu. Para Tânia Bragança, aluna do 12º ano da escola secundária de Odivelas, "há muitos miúdos que não sabem o que reivindicam, vêm pelo convívio", considerando que desta forma "não dão uma imagem séria".
Susana Madeira, da escola secundária Ferreira Dias, lamentou também os insultos lançados por alguns alunos.
O protesto obrigou ao corte de trânsito durante parte da manhã, no sentido Sul-Norte da Avenida 5 de Outubro, uma situação que já estava normalizada pelas 14h00.
O protesto estendeu-se a outra escolas secundárias, de vários pontos do país, numa acção convocada a partir da mensagem "Greve de alunos 16 de novembro contra as substituições. mensagem a rodar. passem!", que circulou entre os alunos nos últimos dias através de telemóveis e pela Internet.
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