Professoras Desesperadas

A violência, física e sexual, afecta 223 milhões de menores de 18 anos, dois terços dos quais raparigas, sendo que 1,8 milhões são forçados a prostituírem-se. Há 132,7 milhões de órfãos, 15,2 milhões dos quais devido à sida, e dois milhões menores de 15 anos seropositivos. E 15 milhões de crianças nunca foram à escola. É esta a realidade da infância no mundo, descrita no relatório Situação Mundial da Infância 2007 da UNICEF, que será divulgado hoje. É dedicado à igualdade de género, porque o sexo feminino é mais desigual entre desiguais.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) completa hoje 60 anos, divulgando as más condições de subsistência de milhões de crianças, sobretudo na África subsariana. Tem a maior taxa de mortalidade infantil, o maior número de pessoas com doenças infecciosas, as percentagens mais elevadas de mulheres que morrem em consequência da gravidez ou do parto e de residentes sem água potável.
Em todas as vertentes - saúde, educação, emprego, política -, as mulheres denotam mais deficiências que os homens e a organização acredita que a eliminação da discriminação entre sexos terá um impacte "profundo e positivo no bem-estar das crianças".
"Se estamos preocupados com a saúde e o bem-estar das crianças actualmente e no futuro, devemos agir agora para garantir que as mulheres e as raparigas tenham as mesmas oportunidades de se instruírem, de participarem no governo, de obterem a auto-suficiência económica, e de serem protegidas da violência e discriminação", afirma Ann M. Veneman, directora executiva da UNICEF.
A discriminação entres sexos é levada ao extremo em países populosos como a Índia e a China, onde a UNICEF suspeita da prática de feticídio e infanticídio. "Nos locais onde há evidente preferência económica ou cultural por filhos homens, o mau uso destas técnicas [instrumentos de diagnóstico de gestação] pode facilitar o feticídio feminino. Embora não haja evidências conclusivas para confirmar esse uso, histórias sobre nascimentos e dados da Ásia - sobretudo China e Índia -, revelam uma proporção excepcionalmente alta de nascimentos masculinos , assim como de meninos com menos de cinco anos, o que sugere a ocorrência de feticídio e infanticídio selectivos nos dois países mais populosos do mundo, apesar das iniciativas para erradicar essa prática nos dois países", sublinha o relatório.

Desigual desde o berço
A discriminação começa logo na educação. Por cada cem rapazes que não vão à escola há 115 raparigas em igual circunstância, o que "as priva de desenvolverem todo o seu potencial". E uma em cada cinco das que frequentam o ensino primário acaba por não completar o ciclo. O cruzamento de dados revela que os filhos de mães sem instrução têm duas vezes menos probabilidades de frequentarem a escola.
A falta de instrução também tem consequências na saúde. As mulheres instruídas correm menos riscos de morrer de parto e estão menos vulneráveis às doenças infecciosas, principalmente a sida. Falta de informação é a principal razão apontada no estudo.
Na África subsariana há 13,2 milhões de raparigas entre os 15 e 24 anos com sida. "As mulheres correm maior risco de contrair HIV, em parte devido a razões fisiológicas, mas a discriminação de género" nega-lhes "o poder negocial de que precisam para reduzir o seu próprio risco de infecção", sublinha a UNICEF.
A cada minuto, morre uma mulher devido a complicações de gravidez, o que significa 526 500 mortes por ano. Noventa por cento destas mortes ocorrem em África e Ásia. Os órfãos recém-nascidos têm três a dez vezes mais probabilidades de falecer.
Morrer durante a gravidez ou no parto é também uma consequência da natalidade precoce. Anualmente, 14 mil milhões de raparigas entre os 15 e 19 anos dão à luz. E as menores de 18 anos têm 60% mais probabilidades de o filho morrer do que as mais velhas.