Professoras Desesperadas

Ontem, o dia foi de festa na Escola EB2,3 de Canedo, em Santa Maria da Feira. A comunidade escolar mostrava-se orgulhosa e satisfeita. E não era para menos. Três anos após o início de uma campanha de sensibilização, chamando a atenção do país para o peso excessivo que os alunos transportam nas suas mochilas, a Associação de Pais e Encarregados de Educação daquele estabelecimento de ensino viu o seu esforço reconhecido pelo Ministério da Educação, que consagrou aquela preocupação na nova Lei dos Manuais Escolares. As editoras têm, agora, de ter em consideração, para além de outros critérios, o peso dos livros.
Os festejos resumiram-se ao lançamento de três centenas de balões (concretamente 365, tantos quantos o ano tem e tantos quantos "devem significar alegria para os jovens") em sinal da leveza que os alunos reivindicam para as suas mochilas. Depois foi dada a conhecer e distribuída uma carta do Ministério da Educação onde a tutela agradece o "alerta" dado por esta associação de pais.

Cartas e balanças
"Mochilas provocam maus tratos às crianças" - este foi o lema com que a associação iniciou, em Setembro de 2004, uma campanha de sensibilização para a problemática do peso excessivo transportado pelos alunos. Nesse ano, começaram por levar o assunto ao Encontro Nacional de Associações de Pais, que decorreu em Viseu.
Depois de várias acções esporádicas, entre as quais uma carta enviada ao presidente da República abordando o assunto, em Junho passado promoveram aquela que acabaria por ser a sua acção mais mediática colocaram uma balança à entrada da escola e pesaram os alunos e respectivas mochilas.Rapidamente se verificou que a maioria das crianças transportavam mais de 10% do seu peso às costas, o que é considerado de verdadeiramente excessivo.
Esta acção dos pais, divulgada amplamente pela Imprensa, terá contribuído de forma efectiva para que, em 28 de Agosto passado, fosse publicada a nova Lei dos Manuais Escolares.
O presidente da Associação de Pais, Hilário Silva, afirma que o "alerta" que levaram a todo o país foi eficaz e considera, por isso, que "está terminada" a iniciativa. "Com êxito".

Estudante
As disciplinas têm muitos livros que temos que levar sempre para a nossa escola. Se não levarmos todos os livros temos falta de material. Por isso, temos que transportar toda a semana muito peso nas nossas mochilas. Não gostamos de andar com tanto peso, mas tem mesmo que ser".

Encarregada de educação
Penso que as crianças assim pequenas não deviam ser obrigadas a transportar tanto peso todos os dias para as escolas. Os alunos não podem com tanta coisa nas mochilas. Deviam de ter menos livros no ensino. Às veze,s o meu marido ajuda a minha filha a transportar os livros para a escola".

Transportar 3,5 a 17 quilogramas às costas
De acordo com algumas das contas avançados pela Associação de Pais da Escola EB2,3 de Canedo, ao longo das várias campanhas de sensibilização, um aluno do primeiro ano transporta, em média, cerca de 3,5 quilos em material escolar. Peso que cresce para os 13,5 quilos para os alunos do quinto ano e 17 quilos para os alunos do sétimo ano. O ideal será que, por exemplo, um aluno com 27 quilos não transporte na sua mochila mais do que 2,7 quilos. O mesmo princípio deverá ser seguido para um aluno de 61 quilos, que não deve transportar mais de 6,1 quilos. Ou seja, um máximo de 19% do seu peso.

Nova lei de avaliação dos manuais
A Lei n.º 47/2006, de 28 de Agosto, que define o regime de avaliação, certificação e adopção aplicável aos manuais escolares estabelece como um dos critérios a ter em conta na avaliação dos manuais escolares, "a qualidade do material, nomeadamente a robustez e o peso".No âmbito da implementação deste novo regime de avaliação dos manuais irá entrar em funcionamento um grupo de trabalho constituído por representantes das associações de editores, livreiros e técnicos do Ministério da Educação, que terá como tarefa a formulação de propostas destinadas a melhorar as características físicas dos manuais, designadamente o peso.