Professoras Desesperadas

Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar.


Nuno Crato: "Acabar com os exames foi dos piores erros cometidos no ensino"

Doutorado em Matemática Aplicada nos Estados Unidos - país onde trabalhou durante muitos anos na qualidade de investigador e professor -, Nuno Crato é professor no Instituto Superior de Economia e Gestão, em Lisboa. Actualmente, também é o presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática. A par da sua actividade de investigação, tem-se dedicado à divulgação científica.

Depois do êxito alcançado com o seu livro "O 'Eduquês' em Discurso Directo", Nuno Crato lançou, recentemente, uma nova reflexão "Desastre no Ensino da Matemática", um livro que muito gostaria de ver lido essencialmente por professores.

JN|O título do seu último livro é "Desastre no Ensino da Matemática". Se fosse um título jornalístico, corria o risco de ser visto como sensacionalista...
Nuno Crato|O título sintetiza a ideia. No entanto, existe mesmo um desastre, uma calamidade nacional. Quando estamos na cauda da Europa a Matemática, isso significa que estamos na cauda da Europa nas outras disciplinas também. Talvez a Matemática seja um barómetro mais sensível dos problemas que existem no ensino.E é um desastre, porque há várias gerações que estão comprometidas no seu futuro por causa das Ciências da Educação. Até ao 9.º ano há um abandono escolar de 40%.

A escola continua a ser um local de desencontro, 32 anos depois do 25 de Abril. Como se compreende isto?
Houve esperança de que a escola iria mudar, mas muitas promessas ficaram por cumprir. Porquê? Por várias razões. Uma das quais é o predomínio de teorias que eu classifico como românticas e que as pessoas chamam de "eduquês", as quais influenciaram o Ministério da Educação (ME) e a formação de professores.

Que consequências nefastas tiveram?
A primeira delas foi o facilitismo, a ideia de que tudo tem de sair do aluno, da sua motivação, quando isso é verdade só em parte, porque a história é mais complexa. Sim, devemos motivar os alunos e não devemos ter um ensino seco e repetitivo. Mas também é precisa alguma pressão sobre os estudantes, porque é impossível que o ensino se torne tão alegre e entusiasmante como é a televisão e os jogos.

A ideia de um ensino centrado no aluno é igualmente "romântica"?
Parece uma ideia muito aceitável, muito interessante, mas é muito perniciosa. Quando vamos dissecar o que ela significa vemos que é perniciosa.

Foi aprovado um novo Estatuto da Carreira Docente, que motivou greves e manifestações de professores há muito não vistas. Os sindicatos falam em desmotivação da classe. A ser verdade, poderá isso influenciar as mudanças?
Claro que sim. Julgo que foram cometidos erros políticos neste processo, o ME tem razão numa série de coisas, mas forçou as coisas demasiadamente. Criou-se um atrito entre professores e ME que é prejudicial a todos. Da parte de algumas pessoas surge a ideia de que a culpa é dos professores, quando se há culpas são do ME, que durante dezenas de anos desorganizou completamente o sistema educativo. É pena que não se tenha criado uma maior serenidade e mais compreensão de lado a lado em relação a este problema. Há coisas que o ME está a fazer muito bem.


Quer especificar?
Por exemplo, tornar mais rigorosa a avaliação dos professores. Até este momento, não era sistemática e com critérios objectivos. Existe a intenção do ME de torná-la mais rigorosa e isso é positivo. Mas há algo que o ME não está a enfrentar a avaliação dos professores deve ser feita em função dos resultados que conseguem acrescentar aos alunos. E sem haver exames nacionais é muito difícil fazer essa avaliação. O único exame nacional que existe no Ensino Básico é o do 9.º ano, e mesmo assim só a Português e a Matemática. E o que se pergunta é: como pode ser avaliado o trabalho dos professores se não existe uma referência externa sobre os resultados dos alunos.

É, então, defensor do regresso dos exames nacionais?
Sim. Acabar com os exames foi dos piores erros que se cometeram no ensino em Portugal.

Devem ser reintroduzidos nos 4.º e 6.º anos?
Sim, pelo menos numa dessas etapas.

As provas de aferição não servem de referência?
Não, têm sido maus indicadores. Tudo está mal nas provas de aferição são mal feitas, não são fiáveis, variam de critérios de ano para ano. Como são anónimas, não são instrumento fiável, são provas a feijões. Fica-se com uma ideia da escola e de turma, mas não de aluno.Portanto, não desempenham nem o papel de aferição, nem o papel de motivação, estímulo à aprendizagem. O ME pretende que deixem de ser anónimas. Talvez seja positivo, mas com todo o lastro errado destas provas, duvido que se tornem num instrumento de aferição credível.

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