Professoras Desesperadas

Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar.


REALIDADES-2: Jovem invisual edita jornal em braille

Nos dias de hoje o acesso por parte das pessoas amblíopes e cegas à literatura está limitado. Existem poucos jornais, revistas ou livros ampliados ou em Braille". Com estas duas frases começa o editorial do primeiro "Ver sem Olhar". Um jornal que nasceu da vontade de um jovem de 17 anos em desmistificar a cegueira. "É uma coisa normal e temos de enfrentá-la de cabeça erguida", desdramatiza.
Diogo Costa. Cego desde que nasceu, quer servir de exemplo e mostrar que a deficiência não é limitativa para atingir objectivos. E o de Diogo é claro "Não fazer da cegueira um bicho-de-sete-cabeças. Há quem viva pior do que nós, basta olhar para o lado".
Confiante, decidiu pôr mãos à obra em Setembro do ano passado. Fez entrevistas, contactou várias pessoas, pediu apoios e conseguiu chegar onde queria. O jornal começou ontem à tarde a ser impresso na biblioteca municipal de Albufeira, que dispõe de equipamento informático para uso exclusivo de pessoas invisuais, como um computador, uma linha Braille, uma impressora e um scanner.
Diogo leu o primeiro exemplar e revelou-se perfeccionista. "A página três tem um erro. O nosso número de telefone não ficou alinhado ao centro. É preciso imprimir outra vez", pedia.
Sezantília Alfarrobinha, professora de apoio do jovem nos últimos dez anos - entrevistada para a primeira edição do jornal - fez questão de estar presente. "É um miúdo extraordinário e com um grande força de vontade", disse.
"As pessoas pensam que somos uns coitadinhos só porque somos cegos, mas isso não é verdade. No entanto, depende de nós prová-lo. E é o que estou a tentar fazer", acrescenta o jovem, que quer ser programador informático - já sonhou ser radialista - e frequenta o 11º ano do curso Tecnologia de Informática da escola Secundária de Albufeira.
Além da escola, Diogo conta com o apoio da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Risco, do Gabinete de Apoio à Juventude da autarquia e da Associação de Apoio à Pessoa Excepcional do Algarve.
Dividido em quatro secções - notícias, cultura, entretenimento e sugestões de leitores - o "Ver sem Olhar" vai ter uma periodicidade trimestral. Numa primeira fase, vão ser impressos 500 exemplares em duas versões - Braille para cegos e em tinta com letra ampliada para amblíopes - e 50 CD. A distribuição, gratuita, deverá começar a ser feita dentro de duas a três semanas através de associações e empresas de todo o país. O jornal pode também ser pedido através do seguinte endereço de correio electrónico versemolhar@esa.pt.

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